Vale a pena, nesse contexto, recordar as principais explicações para os níveis muito baixos de taxas de juros observados nas economias desenvolvidas, desde a crise financeira de 2008.
Como ensina o manual de macroeconomia, a taxa de juros real de longo prazo é determinada pela poupança, que corresponde à oferta de fundos de empréstimo, e pelo investimento, que corresponde à demanda por aqueles fundos. Assim, reduções da taxa de juros real de equilíbrio devem estar associadas a aumento da poupança e/ou redução do investimento.
As causas mais apontadas para o aumento da poupança, nas duas últimas décadas, são:
– aumento da expectativa de vida: vivendo mais tempo aposentadas e, assim, sem renda do trabalho, as pessoas necessitam poupar mais, para preservar seu padrão de consumo no período de aposentadoria.
– aumento da desigualdade na distribuição de renda: como a propensão a poupar dos ricos é maior do que a dos pobres, um aumento da concentração de renda leva a um aumento da taxa de poupança.
Os motivos mais mencionados para a redução do investimento são:
– crescimento da população e progresso técnico mais lentos: como o estoque de capital desejado pelas empresas é proporcional ao PIB, a redução da taxa de crescimento do PIB, que é determinada pela soma das taxas de crescimento da população e de progresso técnico, leva a uma redução da taxa de investimento.
– queda do custo do investimento, decorrente do aumento da participação de bens de informática, cujos preços se reduziram rapidamente, no investimento total.
– aumento da importância relativa do setor de tecnologia da informação, que é menos intensivo em capital físico e, portanto, demanda menos fundos para investimento, no investimento total.
Uma discussão dessas e outras questões relacionadas à queda da taxa de juros real de equilíbrio pode ser encontrada no e-book Secular Stagnation: facts, causes and cures, organizado por Coen Teulings e Richard Baldwin.
A par dos fatores listados acima, a demanda de investimento das empresas pode também estar sendo negativamente afetada, mais recentemente, pela "guerra comercial" promovida pelo governo Trump - não tanto pelo aumento das tarifas de importação, mas principalmente pelo caráter errático, imprevisível desta política e pelo consequente aumento da incerteza, conforme Paul Krugman explica aqui.