18.9.10

Investimento e déficit em conta corrente

Da coluna de Alexandre Schwartzman, na Folha de São Paulo - 15 de setembro de 2010:
  • Nos últimos 62 trimestres, observa-se clara relação positiva entre a razão investimento-PIB e o deficit externo - o investimento e o deficit externo caminham na mesma direção. Há outro fato interessante: praticamente toda vez que o investimento supera 17,5% do PIB, as importações excedem as exportações; apenas em três trimestres (desde 1995) isso não ocorreu.
  • Tal fenômeno reflete a baixa poupança nacional. De 2000 para cá, a poupança bruta atingiu, em média, pouco mais de 17% do PIB, tomando-se como base os números trimestrais sazonalmente ajustados, não por acaso patamar bastante semelhante àquele a partir do qual o nível do investimento corresponde a deficit externos.
  • A reduzida poupança nacional não parece resultar de um consumo privado particularmente elevado. O consumo brasileiro, em torno de 63% do PIB, além de inferior à média de Argentina, Chile, Colômbia e México, é também o menor nessa (limitada) amostra.
  • A grande diferença refere-se ao consumo do governo. Em 2009, o gasto público nesse conceito atingiu pouco menos de 21% do PIB, enquanto na média daqueles países ficou em 13,6% do PIB.
  • Se o governo estivesse mesmo preocupado com a evolução das contas externas, o remédio seria um programa de austeridade fiscal. Isso se traduziria em redução da demanda doméstica, permitindo a queda da Selic e a consequente depreciação cambial e redução do deficit externo.

30.8.10

Hausmann e a fantasia lulista

Trechos da entrevista de Ricardo Hausmann, publicada na edição de hoje da Folha de São Paulo:
  • "O principal problema com muitos países é que, quando as coisas começam a parecer bem, eles se tornam arrogantes. Passam a acreditar num mundo de fantasia. Só porque teve por um trimestre uma taxa de crescimento acima de 7%, o Brasil agora é a nova China e o Lula é um gênio das finanças, e todos os problemas anteriores não existem mais porque o Brasil é um país diferente. Há toda uma narrativa que tem sido criada por conta de alguns bons trimestres que pode levar a políticas macroeconômicas muito inconvenientes. Quando o Lula foi eleito, em 2002, houve uma crise econômica e ele foi muito cuidadoso. Agora, eles começaram a pensar que sabem mais e estão menos dispostos a serem cuidadosos. Estão se tornando mais ideológicos".
  • "Você tem uma política macroeconômica em que o BNDES tem o pé no acelerador e o Banco Central tem o pé no freio. Essa combinação deixa a SELIC muito alta em um período em que as taxas de juros globais estão muito baixas. Isso leva os investidores a pegar dinheiro emprestado em dólares, em ienes ou em euros para colocar no Brasil, o que gera uma forte apreciação da taxa de câmbio e a possibilidade de desindustrialização".
  • "A deterioração do déficit em conta-corrente indica que a expansão do gasto é mais rápida do que a expansão da produção. O efeito disso é apreciar a taxa de câmbio, desestimulando as atividades exportadoras, para liberar recursos produtivos para atender a esse boom temporário do consumo. Todas as indicações são de que as condições fiscais e a política financeira do setor público são excessivamente expansionistas. Isso vai causar prejuízo para as perspectivas de crescimento de longo prazo".
  • "Lula construiu um capital político enorme, mas esse capital político não se traduziu em nenhuma reforma significativa. Ele não tem nada a mostrar em termos de ter resolvido problemas antigos relacionados à baixa taxa de poupança, ao sistema de previdência, à infraestrutura, a ter uma estrutura tributária mais normal e funcional. Apesar do seu enorme capital político, ele não foi capaz de fazer nenhuma reforma significativa como as feitas pelo antecessor dele. E, recentemente, ele tem se movido na direção contrária. A grande sorte do presidente Lula foi ter tido um ótimo antecessor . O próximo presidente do Brasil não terá a mesma sorte".

30.5.10

Objetivos de Desenvolvimento do Milênio - mortalidade infantil e materna

A mortalidade de crianças abaixo de 5 anos, de acordo com dados para 187 países, deverá se reduzir de 11,9 milhões, em 1990, para 7,7 milhões, em 2010, segundo artigo publicado em The New York Times.

O número de mortes de mulheres em decorrência de gravidez ou parto se reduziu de 526,3 mil, em 1980, para 342,9 mil, em 2008, conforme outro artigo no mesmo jornal.

23.5.10

Restrições ao crescimento econômico no Brasil

Quais são as principais restrições ao crescimento econômico no Brasil? Uma excelente análise dessa questão é apresentada por Juan Blyde e co-autores, em artigo da seríe Technical Notes, publicada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento.  

Economia da felicidade

Ben Bernanke resume os principais achados e recomendações da teoria econômica da felicidade, neste discurso para os formandos de 2010 da University of South Carolina.

20.2.10

Maior torcida de Minas (e de Belo Horizonte) (II)


O Cruzeiro venceu novamente o Atlético hoje. Nos últimos 12 jogos, derrotou a patética competição local 9 vezes e perdeu apenas 1 vez, com o time reserva.

O melhor time de Minas possui também a maior torcida. Em Belo Horizonte, 43% da população torcem pelo Cruzeiro e 30% pertencem à definhante torcida adversária. Em Minas Gerais, a torcida do Cruzeiro é duas vezes maior do que a definhante - 31% contra 15%. Os dados são de pesquisa do Data Folha, realizada entre 14 e 18 de dezembro de 2009.

(As flanelinhas da foto representam um agradecimento ao Atlético por ter guardado a vaga do Cruzeiro na Copa Libertadores 2010, durante todo o campeonato brasileiro do ano passado).

Política macroeconômica depois da Grande Recessão

Que lições para a condução da política macroeconômica decorrem da crise financeira de 2008 - 09? Olivier Blanchard e co-autores oferecem uma resposta, neste artigo.

17.1.10

A crise financeira americana, segundo Bernanke

Ben Bernanke defendeu, em palestra realizada em 3 de janeiro, no Encontro Anual da American Economic Association, a política monetária adotada pelo Federal Reseve Bank, entre 2001 e 2006. Alguns economistas proeminentes, como John Taylor, têm responsabilizado esta política pela formação da bolha no mercado de imóveis que esteve na origem da crise financeira de 2007-2009. De acordo com Bernanke, a política monetária adotada pelo FED, naquele período, não parece tão "frouxa", quando se considera, como seria correto, a expectativa de inflação então prevalecente, em lugar da inflação corrente.

Além disso, não há, segundo Bernanke, relação econômica e estatisticamente significativa entre o grau de acomodação da política monetária e a apreciação real dos imóveis, quando se examina a evidência para 20 países desenvolvidos, entre 2002 e 2006. O aumento real do preço dos imóveis, nesta amostra de países, está associado, em parte, à entrada de capital estrangeiro, o que seria consistente com a hipótese de excesso de poupança na economia mundial ("savings glut"), proposta anteriormente pelo próprio Bernanke.

Para Bernanke, a bolha no mercado imobiliário se deveu a falhas na regulação e supervisão do sistema financeiro, não a erros na condução da política monetária.