31.1.07

Gastos com educação e desempenho escolar

Da coluna de Naércio Menezes, no Valor Econômico - edição de 26 de janeiro de 2007:

  • "A suposição de que um aumento nos gastos com educação levará a uma melhora no aprendizado não é necessariamente verdadeira".
  • "Uma pesquisa recente comparou os gastos dos municípios paulistas com educação fundamental e o desempenho médio dos alunos destes mesmos municípios na Prova Brasil, realizada por todos os alunos da rede pública em 2005".
  • "A pesquisa revela que os gastos por aluno no ensino fundamental variam dramaticamente entre os municípios paulistas, desde um mínimo de R$ 400 até R$ 4.800 reais".
  • "O resultado médio dos alunos no exame de matemática na Prova Brasil também varia bastante, entre 100 e 270 pontos".
  • "O problema é que estas duas variáveis não são correlacionadas, ou seja, não existe uma relação positiva entre os gastos por aluno e o desempenho na Prova Brasil. É possível para um município atingir 200 pontos na Prova Brasil gastando R$ 800 reais com cada aluno ou quase R$ 5.000".
  • "Estes resultados mostram que gastar mais com educação não necessariamente aumenta a qualidade do ensino que chega aos alunos. O segredo do sucesso educacional não está na quantidade de dinheiro disponível, mas sim na forma este dinheiro é gasto, ou seja, na gestão".

30.1.07

Crescimento (falta de) - crédito (III)

Em um artigo bastante conhecido, divulgado em 1996, Ross Levine, então trabalhando no Banco Mundial, listou seis funções básicas desempenhadas pelo sistema financeiro, de crucial importância para o crescimento econômico:

(1) Promoção das trocas e do comércio: Ao prover os agentes econômicos de mecanismos eficientes para efetuar e receber pagamentos, o sistema financeiro reduz os custos de transação, facilitando as trocas e o comércio. O aprofundamento da especialização e da divisão trabalho é estimulado, o que contribui para o aumento da produtividade.

(2) Mobilização de poupanças: O sistema financeiro concentra a poupança gerada na economia, canalizando-a para o financiamento do investimento em capital físico (máquinas e equipamentos, inclusive aqueles incorporando novas tecnologias) e humano.

(3) Garantia de liquidez aos poupadores e de financiamento de longo prazo para os investidores: Ao agregar as poupanças de muitas famílias, das quais apenas uma parte estarão desejando sacar seus depósitos em qualquer ponto do tempo, é possível ao setor financeiro proporcionar simultaneamente liquidez para os poupadores e financiamento de médio e longo prazo para os investidores.

(4) Diversificação de risco: O setor financeiro possibilita a diversificação do risco dos poupadores, ao reunir suas poupanças e aplicá-las em uma grande variedade de projetos cujos retornos esperados não são correlacionados.

(5) Aquisição de informações sobre tomadores de empréstimos e seu monitoramento: O sistema financeiro reduz os custos de coletar e processar informações sobre potenciais tomadores de empréstimos, assim como os custos envolvidos no monitoramento do seu desempenho, ao repartir tais custos entre muitos poupadores.

Um sistema financeiro desenvolvido, portanto, reduz custos de transação, ameniza os problemas de imperfeição de informação entre poupadores e investidores e viabiliza o financiamento de investimentos de maior porte, maturação mais longa e mais risco, inclusive investimentos em pesquisa e desenvolvimento, contribuindo para o crescimento da economia através do aumento da especialização produtiva, da acumulação de capital físico e humano e do progresso tecnológico.

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Uma das medidas de desenvolvimento financeiro frequentemente adotadas na literatura sobre crescimento é a relação crédito - PIB.

Esta relação no Brasil chegou a 34% em dezembro de 2006, maior nível desde fevereiro de 1995, mas ainda muito reduzido, quando se toma como referência a experiência internacional (mais de 60% no Chile, quase 100% na Coréia do Sul, mais de 120%, em média, nos países de G7).

As altas taxas de juros constituem uma importante barreira ao aumento do crédito no Brasil.

Segundo artigo de Marcelo Billi, na Folha de São Paulo de hoje, três fatores dificultam a queda dos juros: (a) os impostos que incidem sobre as operações financeiras, a chamada "cunha fiscal"; (b) a inadimplência; (c) a "insegurança jurisdicional", ou seja, a dificuldade de recuperar crédito no Brasil. O crédito com desconto em folha é mais barato justamente por eliminar parte do risco de inadimplência e, em grau menor, o risco jurídico.

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Abaixo se mostra a evolução da razão crédito - PIB no Brasil nos últimos 13 anos.

Crédito como % do PIB - em dezembro

1994 – 36,6
1995 – 35,0
1996 – 31,2
1997 – 28,9
1998 – 29,9
1999 – 27,2
2000 – 28,3
2001 – 26,8
2002 – 24,2
2003 – 26,2
2004 – 26,9
2005 – 31,2
2006 – 34,3

Fonte: Banco Central – Folha de São Paulo, 30/01/2007.

29.1.07

Evolução da despesa com juros da dívida pública

Da coluna de Fábio Giambiagi, no Valor Econômico de hoje:
"Em 1991, a despesa corrente do governo central, sem as transferências a Estados e municípios, foi menos de 10 % do PIB e deverá ser aproximadamente 19 % do PIB em 2007. É esse o grande nó do país. Há quem insista em acusar os juros pelos problemas fiscais das últimas décadas, mas o fato é que, desde que a contabilidade dos juros reais passou a ser confiável, a partir de 1985, na média de 5 anos do período 1985/89, o Brasil gastou anualmente com juros reais da dívida pública 6 % do PIB e, na média anual de 2003/2007, terá gasto os mesmos 6 % do PIB. É legítimo argumentar que os juros poderiam ser menores, mas quem diz que os problemas do país se devem a que o Brasil gasta cada vez mais com juros em detrimento do gasto social está simplesmente errado".

Contabilidade do crescimento - China e Índia (I)


No período 1993-2004, o PIB chinês cresceu em média 9,7% ao ano e o indiano cresceu 6,5%.

Um estudo recente de Barry Bosworth e Susan Collins, da Brookings Institution, analisa as fontes do crescimento nos dois países, desagregando o crescimento total do PIB em crescimentos da absorção de mão-de-obra e de capital e crescimento da PTF.

O emprego cresceu mais rápido na Índia do que na China, mas isso foi contrabalançado por um crescimento muito menor da produção por trabalhador: só 4,6% ao ano, em comparação com 8,5% na China, devido tanto ao maior investimento de capital na China como ao crescimento muito mais rápido de sua PTF (taxa anual de 4%, contra 2,3% na Índia).

Esses números contestam a percepção generalizada de que o crescimento da China é mais dependente dos investimentos do que dos ganhos de eficiência, em comparação com a India. Ao longo da década passada, a PTF na realidade respondeu por uma fatia maior do crescimento do PIB na China do que na Índia.

(Informações de The Economist, reproduzidas na edição de hoje do Valor Econômico).

25.1.07

Desigualdade de renda, consumo, lazer, felicidade ...

Questões discutidas no artigo de Tyler Cowen, publicado hoje na coluna Economic Scene, do New York Times:
  • como medir adequadamente a desigualdade de renda?
  • diferenças no consumo, no lazer, na felicidade não deveriam também nos interessar, talvez até mais do que a desigualdade de renda?
  • desigualdade - isto é, posições relativas - importa ou só devemos nos preocupar com os níveis absolutos de bem estar das pessoas?

Crescimento (falta de) - Brasil e China


Da coluna de Ilan Goldfajn, no Valor Econômico de hoje:

O que explica o crescimento chinês
  • "Na China, não há restrição de oferta. Há mão-de-obra e poupança abundantes. Como conseqüência, os salários são baixos e o câmbio depreciado. Os chineses poupam muito pelo receio do futuro - poucos terão dinheiro da previdência pública na aposentadoria e contam com apenas um filho para sustentá-los (nas cidades)".
  • "O governo ainda controla parte considerável da renda que advém dos lucros".
  • "Há espírito empresarial, em busca do lucro, o que incentiva a tomada de risco e a inovação".

Porque o Brasil não cresce tanto

  • "O Programa de Aceleração do Crescimento brasileiro tem como objetivo aumentar o investimento, que encontra-se na faixa de 20% (em comparação com 43% na China). Mas o governo quer também salários mais altos (vide aumento recente do salário mínimo) e mais consumo, tanto público (menor superávit primário) quanto privado. A poupança no Brasil é 22% do PIB, menos que a metade da poupança na China, de 46% do PIB".
  • "Não há esforço bem-sucedido em melhorar o ambiente de negócios, que inclui melhora no marco regulatório e redução dos entraves à produção e investimento. Falta o ambiente empresarial adequado para uma aceleração do crescimento".

Como o crescimento econômico na China afeta o Brasil

  • "Só nesta década, as exportações do Brasil para a China multiplicaram-se mais do que sete vezes. A China pode ter sustentado quase um terço do crescimento do Brasil de 2001- 2003".
  • "A situação da economia mundial com inflação baixa e muita liquidez tem suas raízes parcialmente no surgimento da China e Índia (em menor escala) como fenômenos mundiais. A inflação menor no mundo e no Brasil e a maior liquidez e fluxo de capital permitem reduzir os juros, melhorar a composição da dívida pública, pré-pagar a dívida externa, acumular reservas e outras vantagens que o Brasil tem aproveitado nos últimos anos".

23.1.07

Eficiência e equidade

No mesmo artigo mencionado na postagem anterior, Delfim Neto faz uma discussão bem adequada dos problemas da "eficiência" e "equidade" na teoria do bem estar:
  • "Todos os sistemas econômicos respondem à mesma estrutura interna de crescimento, que é a transformação do excedente produzido (aquilo que não foi consumido) em investimento".
  • "Na economia de mercado, esse excedente é apropriado pelos empresários através do lucro. O que se espera deles é que reinvistam a maior parte daquele excedente nos setores onde a sociedade determinar através das suas demandas explicitadas no mercado".
  • "Numa economia centralizada, o excedente seria apropriado através das empresas estatais, convertido num grande fundo de investimento e alocado de acordo com os critérios determinados pelos ‘engenheiros sociais’. Em princípio, desde que os problemas de informação (que são resolvidos pelo 'mercado') pudessem ser superados e fosse possível estabelecer incentivos que compatibilizassem os interesses do ‘cidadão-burocrata’ com os do ‘cidadão-consumidor’, a economia centralizada talvez pudesse funcionar razoavelmente sem comprometer a liberdade individual do consumidor (ainda que não a do trabalhador)".
  • "A história do mundo soviético mostrou, concretamente, o que alguns economistas nos anos 30 (von Mises, em particular) já haviam intuído. A economia de mercado, apoiada no respeito à propriedade privada, funciona, porque, bem ou mal, resolve o problema da 'informação' sem exigir o constrangimento físico do trabalhador e sem controlar os desejos do consumidor. É a única forma que o homem encontrou (até agora) para conciliar razoavelmente a eficiência produtiva (o desenvolvimento econômico) com a liberdade individual".
  • "Entretanto, ela é incapaz de produzir uma razoável igualdade de oportunidades para todo cidadão, o que é fundamental para dar moralidade à feroz competição que caracteriza a economia de mercado. Cabe ao Estado, através de políticas públicas eficazes, ajudar a construí-la. Não é preciso pretender que qualquer solução de qualquer mercado é 'justa' ".

Mercados livres proporcionam uma solução "ótima" para a questão da "eficiência", mas não para a questão da "equidade", que é um problema distinto.

De acordo com o segundo teorema do bem estar, entretanto, para qualquer dada distribuição de renda, mercados competitivos produzirão alocações "eficientes" (na ausência de externalidades e assimetria de informação). Se a distribuição de renda prevalecente for considerada injusta, a sociedade deve modificá-la, promovendo transferências de renda entre os indivíduos, e, feito isso, permitir que o mercado resolva os problemas de alocação.

Uma dificuldade adicional precisa, entretanto, ser enfrentada, antes que as questões de "eficiência" e "equidade" possam ser consideradas resolvidas - como desenhar um sistema tributário que promova a redistribuição de renda pretendida, sem gerar perdas de eficiência.

Uma excelente discussão de todos os pontos acima pode ser encontrada no capítulo 3 do livro "The Undercover Economist", de Tim Harford.

Além disso, sobre como desenhar de maneira apropriada o sistema tributário, vale a pena ler o artigo The Perfect Tax, publicado na coluna Everyday Economics, que Steven Landsburg mantinha em Slate.

Crescimento (falta de) - carga tributária (I)


Da coluna de Delfim Neto, no Valor Econômico de hoje:
  • "O gráfico acima mostra a taxa de crescimento real do PIB (média 2003-05) e a carga tributária em porcentagem do PIB (2002-04) numa amostra de 52 países".
  • "Salta aos olhos uma clara tendência decrescente entre o nível de tributação e o crescimento".
  • "É claro que a taxa de crescimento depende de outros fatores, particularmente do nível da renda per capita e da relação investimento /PIB. Quando se leva estatisticamente em conta estes fatores, eles, juntamente com a carga tributária, 'explicam' mais de metade das variações das taxas de crescimento entre os países".
  • "A má notícia para o Brasil é que para aumentar a taxa de crescimento para 5% ao ano de maneira sustentada, com o nosso nível de renda per capita de US$ 8.200 (paridade de poder de compra) e uma carga tributária de 38%, é preciso uma taxa de investimento (público e privado) superior à geralmente estimada de 25% do PIB".

21.1.07

Valorização cambial? (I)



Quão apreciada está a taxa de câmbio no Brasil? O gráfico acima, extraído do IPEADATA, oferece algumas pistas.
  • A comparação da taxa de câmbio efetiva real* em dezembro de 2006 com dezembro de 2004 mostra uma valorização de 20% nos últimos dois anos.
  • Em relação a dezembro de 1998, ou seja, ao período imediatamente anterior ao abandono do regime de câmbio fixo, ainda se observa, porém, uma desvalorização de 26%.
  • Com relação à média do período 1999-2000, isto é, o período de câmbio flutuante anterior às crises Argentina e Lula, a valorização é de menos de 8%.
  • Por fim, o câmbio efetivo real em dezembro de 2006 estava apenas 1,1% abaixo da média observada nos 27 anos compreendidos entre 1980 e 2006 - o que sugere que a taxa de câmbio se encontra no momento praticamente no seu valor de longo prazo.

* A taxa de câmbio efetiva real é uma medida da competitividade das exportações brasileiras calculada pela média ponderada do índice de paridade do poder de compra dos 16 maiores parceiros comerciais do Brasil. A paridade do poder de compra é definida pelo quociente entre a taxa de câmbio nominal (em R$/unidade de moeda estrangeira) e a relação entre o Indice de Preço por Atacado (IPA) do pais em caso e o Indice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC/IBGE) do Brasil. As ponderações utilizadas são as participações de cada parceiro no total das exportações brasileiras em 2001 (fonte: IPEADATA).

20.1.07

Torcidas infiéis

A abertura da temporada de futebol 2007, que estará ocorrendo amanhã em todo o país, é uma boa oportunidade para lembrar os resultados de uma interessante pesquisa conduzida por Bruno Giovannetti, Bruno Rocha, Fábio Sanches e José Carlos da Silva, todos economistas da FEA-USP, sobre a fidelidade das torcidas dos 12 maiores times brasileiros.

As informações sobre este trabalho, reproduzidas abaixo, foram extraídas de artigo de Paulo Henrique de Sousa, publicado no Valor Econômico, em outubro de 2005.

Foi definido pela pesquisa como fiel o torcedor que vai ao estádio independentemente da expectativa que tenha em relação ao desempenho do seu time naquele jogo. Uma torcida foi considerada infiel se existirem, entre seus torcedores, indivíduos cuja escolha sobre "comprar" ou não um jogo de futebol dependa da percepção da probabilidade de seu time ganhar, empatar ou perder.

Para medir a fidelidade das torcidas, os 24 clubes que disputaram o Campeonato Brasileiro de 2004 foram divididos pelos pesquisadores em dois grupos. No primeiro, ficaram os times maiores, cujas torcidas foram avaliadas: Atlético Mineiro, Botafogo, Corinthians, Cruzeiro, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Internacional, Palmeiras, Santos, São Paulo e Vasco. Só foram analisados os jogos desses times nos seus próprios estádios contra os adversários do outro grupo, considerados menores. Ou seja, os clássicos regionais, por exemplo, ficaram de fora da amostra, porque, em um Fla-Flu não há como identificar a torcida de um e de outro time. Já no jogo entre Corinthians e Paysandu, em São Paulo, os autores presumiram que toda a torcida fosse corintiana - o mesmo valendo para os demais casos.

Definida a amostra, foram calculadas as probabilidades de vitória, empate e derrota de cada um dos 12 times em cada partida, com base no retrospecto de cada um. Em seguida, se verificou se o tamanho do público variava de acordo com alterações na probabilidade que seus torcedores atribuíam à vitória, empate ou derrota.

O computador indicou como infiéis as torcidas do Grêmio, Internacional e Atlético Mineiro, que terminaram o campeonato nas últimas colocações.

O rigor científico do trabalho é atestado pelo fato de que foi aceito para publicação na Revista Brasileira de Economia, um dos mais importantes periódicos da área de Economia no país.

19.1.07

Crescimento (falta de) - barreiras ao crescimento

Principais pontos da entrevista de Samuel de Abreu Pessoa, na edição de hoje do Valor Econômico:

Investimento público - "Acelerar o investimento público em infra-estrutura tem impacto sobre o crescimento. O efeito direto é muito pequeno, mas melhorar a rede de estradas, de portos, a logística em geral aumenta a rentabilidade dos outros investimentos. Há impacto permanente sobre o estímulo ao investimento do setor privado".

Restrição de oferta - "Há economistas que acham que há uma ligação forte entre juros e crescimento, avaliando que o baixo crescimento dos últimos anos se deve muito ao nível dos juros. Há outro grupo, ao qual pertenço, que acha que o problema de crescimento não é falta de demanda, mas falta de expansão da oferta. O potencial de crescimento da economia brasileira mesmo com juros reais mais baixos é essa mediocridade, de 2,5% a 3%. Para mudar esse quadro no curto prazo, o que dá para fazer é aumentar o investimento. No médio prazo, melhorar os marcos regulatórios de todos os setores. No longo prazo, é melhorar a qualidade da educação fundamental pública".

Gasto público - "O contrato social vigente no país impede o crescimento. Os dois pontos mais importantes desse contrato social são as regras que permitem às pessoas se aposentarem, tanto no setor público quanto no setor privado - e também a serem elegíveis para pensões -, e o contrato de trabalho que o setor público assina com os funcionários públicos, de acordo com o qual não há demissão, não há diferenças de salários, não há mecanismos para incentivar a produtividade, não há cobrança por produtividade. Essas duas peças do contrato social fazem com que, por um lado, haja uma enorme pressão sobre o gasto público e, por outro, uma enorme ineficiência do setor público. A elevação do gasto desvia recursos públicos do investimento em infra-estrutura, enquanto a elevação da carga tributária, necessária para financiar tal gasto, desestimula o investimento privado. Ambas resultam no baixo crescimento".

Educação - "Se o Brasil estivesse no mesmo estágio educacional que os EUA em termos quantitativos e qualitativos, quão mais próximos nós estaríamos deles? Sendo bem conservador, 35% da diferença de renda per capita se explica pelo diferencial da educação. Para atacar o problema, a prioridade deveria ser o ensino fundamental, focando na melhora da qualidade da educação. Quando se analisa o crescimento de longo prazo, o maior problema do Brasil é a baixíssima qualidade das escolas públicas. A questão é que é muito difícil melhorar a qualidade se não se puder assinar um novo contrato de trabalho com os professores. O diretor de uma escola pública não pode contratar e não pode demitir".

Distribuição de renda - "O presidente foi bem sucedido nas eleições porque distribuiu renda sem crescer, atendendo à demanda da maior parte dos eleitores. O grosso da melhora da qualidade de vida não veio do Bolsa Família nem do aumento do salário mínimo. É uma soma do choque externo, com aumento de preços de commodities, que valorizou o câmbio e tornou a comida muito mais barata, e de uma série de avanços técnicos, associados à Embrapa e outras coisas, que também baratearam muito o custo da comida no Brasil. Isso produziu um crescimento chinês no nível de qualidade de vida dos brasileiros mais pobres, até a classe média baixa. Todo mundo que vive de salário mínimo, de algum programa social ou cuja cesta de consumo depende muito de comida está muitas vezes melhor que há quatro anos".

18.1.07

Lei de Murphy da política econômica - a versão de Krugman

Na última postagem, mencionei a Lei de Murphy da política econômica, proposta por Alan Blinder. Há uma versão alternativa, sugerida por Paul Krugman:

"Porque economistas são inúteis: quando eles, de fato, entendem alguma coisa, as pessoas não querem ouvir a respeito".

Remédios para a "doença holandesa" (II)

Um remédio para a valorização da taxa de câmbio é o ajuste fiscal. O mecanismo é simples e se encontra muito bem descrito no capítulo 32 (tradução da terceira edição americana) do manual de introdução à economia do Mankiw.

A redução do déficit fiscal aumenta a poupança nacional, o que reduz a taxa de juros real, aumenta o investimento externo líquido (dado que a compra de ativos financeiros domésticos se torna menos atrativa para residentes e não residentes), aumenta a procura por moeda estrangeira e, portanto, faz com que aumente o preço desta.

O ajuste fiscal tem sido proposto como remédio para a valorização cambial tanto por economistas "ortodoxos" como por "desenvolvimentistas" (Yoshiaki Nakano, Bresser Pereira, Luís Carlos Mendonça de Barros, Luciano Coutinho) e até por "neomarxistas" (Delfim Neto, assim auto-definido na sua coluna de ontem na Folha de São Paulo).

Aparentemente, este é um daqueles casos em que se aplica a Lei de Murphy da política econômica, proposta por Alan Blinder:

“Os economistas influenciam menos a política econômica nas áreas em que sabem mais e concordam mais e têm mais influência onde sabem menos e discordam com maior veemência".

Remédios para a "doença holandesa" (I)

Na sua coluna de hoje no Valor Econômico, Cláudio Hadad mostra como o Brasil pode combater a "doença holandesa", isto é, os efeitos da valorização da taxa de câmbio, trazida pelo aumento dos preços das commodities exportadas pelo país, sobre a competitividade de alguns segmentos da indústria:
  • "No que se refere aos setores que produzem manufaturados não baseados em recursos naturais, o desafio é escapar da simples concorrência por custo, onde será difícil ganhar dos chineses, fazendo com que seus produtos se tornem cada vez mais intensivos em ativos intangíveis. O sucesso internacional das sandálias Havaianas, em um setor particularmente afetado pela concorrência chinesa, é emblemático. Neste caso, a valorização cambial tem pouco impacto na competitividade, que é função principalmente da marca, design, reputação e talento gerencial".
  • "Parte da perda de competitividade sofrida por alguns setores é provocada pelo ambiente econômico vigente no país (carga tributária elevada, leis trabalhistas inflexíveis, informalidade, burocracia e um marco regulatório muitas vezes imprevisível e hostil) e pelos baixos níveis educacionais. Com reformas e com uma ênfase continuada em educação, o país será cada vez mais competitivo, independentemente das vantagens comparativas naturais e herdadas".

17.1.07

Crescimento (falta de) - crédito (II)

Em uma postagem anterior, se observou que "falta" crédito habitacional no Brasil. Isso fica evidente nos dados abaixo, que comparam o crédito habitacional como % do PIB no Brasil e em alguns países selecionados.

Crédito habitacional como % do PIB

Holanda - 111%
Reino Unido - 72%
Estados Unidos - 65%
Irlanda - 52%
Espanha - 46%
Chile - 13%
Hungria - 10%
México - 9%
Índia - 2,2%
Brasil - 1,7%

Fonte: BNDES e FGV Projetos - Folha de São Paulo, 17/01/2007.

O crédito habitacional no Brasil não é baixo apenas em relação ao PIB, mas também como proporção do crédito total - apenas 5% no Brasil, em comparação com 67% na Holanda, 46% no Reino Unido, 38% na Irlanda, 37% na Espanha, 26% nos Estados Unidos e 21% no Chile.

A escassez de crédito é uma das causas do déficit habitacional no país, estimado pela FGV Projetos, com base em dados da PNAD 2005, em 7,8 milhões (14,7% do total) de moradias.

Crescimento (falta de) - liberdade econômcia

Na Folha de São Paulo de hoje, Vinícius Albuquerque reporta a avaliação obtida pelo Brasil no Index of Economic Freedom 2007, elaborado pela Heritage Foundation, em parceria com The Wall Street Journal.
  • O Brasil ficou em 70º lugar entre 157 países no ranking deste índice. Em 2006, havia ficado em 68º lugar.
  • A pesquisa considera dez categorias de liberdade econômica: nos negócios; no comércio; fiscal; de intervenção do governo; monetária; de investimentos; financeira; de corrupção; do trabalho; e direitos de propriedade. A melhor classificação do Brasil está na categoria de liberdade em relação à intervenção governamental - mesmo assim, nesse tópico, o Brasil fica em 25º lugar. Já os graus mais baixos de liberdade econômica no Brasil foram registrados nos quesitos corrupção e liberdade financeira.
  • O país sofre com burocracia altamente ineficiente e corrupta. O sistema judiciário também é ineficiente e sujeito à corrupção, como outras áreas do setor público. Outros obstáculos à liberdade econômica são o sistema fiscal confuso, as barreiras ao investimento estrangeiro, a gestão governamental da maior parte dos setores elétrico e de petróleo e de uma parte significativa do sistema bancário e um sistema regulatório complicado.
  • Entre os BRICs, o Brasil é o primeiro, seguido no ranking por Índia (104º lugar), China (119º) e Rússia (120º).
  • Os dez países 'mais livres' são, em ordem decrescente, Hong Kong, Cingapura, Austrália, Estados Unidos, Nova Zelândia, Reino Unido, Irlanda, Luxemburgo, Suiça e Canadá.

16.1.07

O problema da saúde no Brasil (errata)

Há um erro na última coluna da tabela reproduzida na postagem anterior - o indicador utilizado corresponde ao número de mortes por mil (e não por cem) crianças nascidas vivas.

O problema da saúde no Brasil

Da coluna de Delfim Neto, na edição de hoje do Valor Econômico:
"O problema da saúde no Brasil é muito complicado, porque não parece que o Estado brasileiro gaste pouco com ela. A tabela mostra os sete países com renda per capita em dólares (paridade de poder de compra em 2004) parecida com a do Brasil, o gasto em saúde com relação ao PIB (média de 2003/04) e o número de mortes por mil crianças nascidas vivas até a idade de 5 anos (2005). Na média, os países da tabela gastam 3,4% do PIB com saúde, exatamente o mesmo que o Brasil, mas têm uma TMM5 média de 21. A nossa é 34% superior a ela! Esse resultado sugere que nosso problema talvez não resida tanto na 'falta de recursos' (a eterna desculpa de todas as corporações protegidas pelas vinculações constitucionais de despesa), como na falta de eficiência. Ou, numa forma politicamente incorreta de dizer, no descuido da administração dos recursos que têm sido destinados ao setor".

14.1.07

Salários no setor público

A edição de Veja desta semana reporta resultados de pesquisa da FGV / SP que comparou os rendimentos de pessoas que exercem a mesma função em empresas privadas e nos governos estaduais. Em 22 dos 27 estados brasileiros, os servidores públicos recebem mais do que os trabalhadores do setor privado - em média, 10% a mais.

Estados que oferecem salários maiores
do que o setor privado

Amapá +51%
Roraima +28%
Distrito Federal +28%
Maranhão +23%

Estados que oferecem salários menores
do que o setor privado

São Paulo -9%
Rio Grande do Norte -8%
Rio Grande do Sul -5%
Mato Grosso do Sul -2%

Crescimento (falta de) - educação (I)

A Folha de São Paulo discute hoje, em editorial, o problema da evasão escolar no Brasil, na faixa etária de 15 a 17 anos. Abaixo os principais pontos da matéria.

Dado

• 1,7 milhão de jovens brasileiros entre 15 e 17 anos (16% da população nesta faixa etária) estão fora da escola.

Causas

• “Análise do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) mostra que 40% desses jovens deixaram a escola por desinteresse. A busca de emprego vem em segundo lugar (17%)”.

• “Despontam aqui duas ordens de problemas. Há aqueles mais marcadamente acadêmicos, como a repetência e a sensação de não aprender nada 'útil', e outros com maior interface social, mas que também resultam em evasão, a exemplo de desemprego na família, gravidez na adolescência”.

Soluções?

• “Um sistema bem feito de progressão continuada ajudaria a baixar os índices de repetência”.

• “Também os curricula cobram há tempos uma ampla revisão. Tenta-se ensinar coisas demais aos jovens, perde-se o foco e o resultado é fracasso. Pelo menos nos anos iniciais, é preciso concentrar-se nas ferramentas básicas -português e matemática-, que mais tarde permitirão ao estudante assenhorear-se das demais ciências”.

• “Remunerar de forma diferenciada docentes e diretores cujos alunos se saiam melhor seria uma fonte de estímulo à excelência no sistema”.

Estudo de caso para alunos de microeconomia - rodízio de automóveis

O uso do automóvel em áreas normalmente congestionadas envolve uma externalidade negativa. Para reduzir o congestionamento do trânsito, São Paulo optou pela regulação (restringir a prática que gera a externalidade negativa – no caso, através do rodízio de carros de acordo com o número final da placa), em lugar da solução pigouviana. José Scheinkman, na sua coluna de hoje na Folha de São Paulo, expõe um dos motivos por que a regulação é uma alternativa menos eficiente.

"Quem usa o seu automóvel de tarde no centro de São Paulo contribui para o engarrafamento e a poluição, mas não leva em consideração essa seqüela da sua escolha. É um exemplo clássico do que os economistas chamam de externalidade negativa. Nessa circunstância, a receita econômica é clara: taxar quem causa a externalidade e/ou subsidiar alternativas que não gerem os mesmos efeitos nocivos. No caso do trânsito, isso significa cobrar do motorista de carro e dar subsídio ao transporte coletivo; exatamente o que fizeram Cingapura e Londres. Em São Paulo, optou-se por um sistema muito menos eficiente para desencorajar a presença de carros: o rodízio, que não produz recursos que poderiam financiar serviços de ônibus e metrô. Quem pensa que o rodízio é mais igualitário porque não envolve pagamentos parece ignorar que os ricos têm hoje um carro de reserva com numeração distinta, que é usado nos dias em que os seus automóveis não podem circular".

11.1.07

Crescimento (falta de) - competitividade (I)

Da coluna de Delfim Neto, na Folha de São Paulo de ontem:

"As economias dos países têm sido avaliadas em três documentos anuais: o Global Competitiveness Report, do World Economic Forum; o IMD World Competitiveness Yearbook; e o Doing Business of the Year, do Banco Mundial. Eles classificam ordinalmente (por ranking) as economias, dando um indicador da sua posição relativa. Tentam medir a capacidade competitiva relativa de cada país. Trata-se de medida 'qualitativa' obtida pela agregação de um grande número de fatores. Atualmente, a classificação do Brasil é a seguinte:

World Economic Forum – 66 (em 125 países)
IMD – 43 (em 52 países)
Doing Business – 121 (em 175 países)

As três medidas têm caráter abrangente, apresentam uma razoável correlação (por ranking) entre elas e têm uma duvidosa correlação (por ranking) com a taxa de crescimento do PIB".

Encontro da AEA

O Encontro da American Economic Association e o discurso do presidente George Akerlof, assunto de uma postagem anterior, são o tema desta semana da coluna eletrônica economicprincipals, de David Warsh.

A nova geração

Quem são os jovens economistas, trabalhando nos Estados Unidos, com pesquisa mais respeitada pelo resto da profissão e mais relevante para o "resto do mundo"? Veja a lista elaborada por David Leonhardt, publicada no New York Times.

Estudo de caso para alunos de microeconomia - garantia do menor preço

Hal Varian, autor de um manual de Microeconomia bastante conhecido, é um dos colaboradores da coluna Economic Scene, publicada às quintas feiras pelo New York Times (também contribuem para esta coluna Tyler Cowen, Robert Frank e Austan Goolsbee).

Na coluna de hoje, Varian discute os fundamentos microeconômicos da prática adotada por algumas empresas de garantir aos clientes, em sua publicidade, um preço igual ou menor do que o preço cobrado pelos concorrentes.

10.1.07

Preço do petróleo

O preço do barril de petróleo caiu ontem para 54 dólares, uma redução de 30% em relação ao pico de 78 dólares, alcançado em julho de 2006. Um artigo de Paul Krugman, escrito em março de 2000, propõe a melhor explicação que conheço para as mudanças súbitas e drásticas observadas no preço do petróleo. Para Krugman, a curva de oferta de petróleo tem uma seção negativamente inclinada, de modo que existe equilíbrio múltiplo neste mercado. As elevações e quedas de preço rápidas e drásticas resultam de saltos do mercado entre os dois pontos de equilíbrio estável.

9.1.07

Trade off entre crescimento econômico e distribuição de renda?

Delfim Neto, em artigo publicado na edição de hoje do Valor Econômico, sugere a existência de um trade off entre crescimento econômico e distribuição de renda.

"A taxa de crescimento do PIB é determinada pela multiplicação da relação produto/capital pela relação investimento/PIB*. Sem o aumento da relação produto/capital (da produtividade), maior consumo presente implica menor investimento presente e, portanto, menor aumento do estoque de capital e, também, menor aumento do consumo no futuro. Nesse caso, há efetiva e real contradição entre o desejo de crescer mais depressa (desenvolvimento econômico) e o desejo de consumir mais depressa (desenvolvimento social).
Cabe à sociedade avaliar como deseja acomodar as possíveis taxas de crescimento com as possíveis reduções da taxa de desigualdade. E cabe a ela, também, a responsabilidade pelo 'custo' futuro de tais decisões. No limite, a pressa para eliminar a desigualdade sem um aumento da relação produto/capital (ou seja, da eficiência econômica) levará a maior pobreza das gerações futuras.
Para melhorar no longo prazo o bem estar da sociedade, a escolha por maior pressa distributiva exige simultaneamente maior pressa e empenho político: 1) na educação da força de trabalho; 2) na reforma das instituições; e 3) na apropriação de nova tecnologia" [porque, assim, a produtividade aumentará - acréscimo meu].

* A esse respeito, ver a nota postada em 17 de dezembro.

A "descoberta" do crédito

Da coluna de Benjamin Steinbruch, na Folha de São Paulo de hoje:
"John Kenneth Galbraith, em 'A Era da Incerteza', conta que, no início do século 17, em razão de sua excelente posição geográfica, Amsterdã tornou-se um dos grandes portos da Europa. A frenética atividade comercial que ali se desenvolveu fez com que o dinheiro da época, em moedas de prata e ouro, circulasse em abundância nessa cidade holandesa.
Havia diferentes moedas, cunhadas em várias partes da Europa, a ponto de, em 1606, o Parlamento holandês publicar um manual de cambistas, com uma relação de 846 moedas de prata e ouro, muitas delas deficientes em peso e pureza. Os abusos eram tamanhos que ninguém podia estar seguro sobre o real valor da moeda que recebia.
Os comerciantes de Amsterdã decidiram então criar um banco municipal, cuja principal função seria verificar a qualidade do dinheiro recebido. Os comerciantes levavam ao banco as suas moedas, verdadeiras ou falsas, o banco as pesava e só o peso do metal puro era creditado em suas contas bancárias. Esses depósitos, portanto, eram absolutamente seguros, e os comerciantes podiam até transferir dinheiro de uma conta para outra sem risco de transacionar com moedas adulteradas.
Logo, então, o banco descobriu que aqueles depósitos volumosos não precisavam ficar ali parados, amontoados. Podiam ser emprestados. E, por essa operação, o banco cobraria juros. Quem tomasse o empréstimo receberia o crédito em sua conta e poderia usar os recursos. Da mesma forma, o dono do depósito permaneceria com o dinheiro disponível.
Estava descoberta a alavanca do crédito, à qual se atribui parte da enorme prosperidade econômica e cultural de Amsterdã no século 17".

7.1.07

Crescimento (falta de) - A Constituição de 1988 e o custo do trabalho

Em uma nota postada em 14 de dezembro, se mencionou a conclusão do paper de Flávia Graminho de que o aumento do custo do trabalho, relacionado com mudanças introduzidas pela Constituição de 1988, poderia explicar as baixas taxas de crescimento da economia brasileira na década de 90. Abaixo são listadas algumas das mudanças trazidas pela Constituição:
  • diminução da jornada de trabalho máxima de 48 para 44 horas semanais
  • aumento do prêmio da hora extra de 20% para 50% do salário
  • aumento da licença maternidade de 3 para 4 meses
  • aumento do valor das férias de 1 para 4/3 do salário mensal
  • aumento da multa da demissão sem justa causa de 10% para 40% do saldo do FGTS

Estudo de caso para alunos de microeconomia - o peso morto do Natal (II)

Assunto de uma postagem anterior, a dificuldade em presentear de maneira eficiente é discutida também por Stephen Dubner e Steven Levitt na coluna Freakonomics, no New York Times de hoje.

6.1.07

Discurso presidencial

O discurso do presidente é um dos pontos altos do encontro anual da American Economic Association, o maior e mais importante evento acadêmico da área de economia no mundo, que acontece sempre na primeira semana de janeiro.

A edição de hoje do New York Times traz uma matéria sobre o discurso a ser pronunciado nesta tarde por George Akerlof, Prêmio Nobel de Economia 2001 e atual presidente da AEA. De acordo com a matéria, Akerloff criticará a tendência dos economistas à "modelagem parsimoniosa", propondo mais "realismo" nas hipóteses adotadas pelos modelos econômicos a respeito do comportamento humano, com a incorporação àquelas hipóteses da grande variedade de "normas" que determinam tal comportamento.

Adendo: Use este link para acessar o discurso de Akerlof - The Missing Motivation in Macroeconomics.

3.1.07

Crescimento (falta de) - crédito (I)

Da edição de hoje da Folha de São Paulo:

  • Os empréstimos feitos no Brasil para a pessoa física já estão num percentual bastante próximo a outros países em desenvolvimento. No Chile, por exemplo, os recursos que o sistema financeiro empresta para o consumo são de cerca de 8% do PIB, percentual muito próximo ao brasileiro, que está na casa de 9% do PIB. No México, o percentual é de aproximadamente 5% do PIB.
  • O que falta no Brasil é crédito imobiliário. Enquanto no Brasil esses financiamentos equivalem a só 2% do PIB, no Chile chegam a quase 15% do PIB e no México, a cerca de 10% do PIB.

Crescimento, distribuição de renda e pobreza

Principais conclusões do capítulo sobre crescimento, distribuição de renda e pobreza do livro "The Mystery of Economic Growth", de Elhanan Helpman:
  • A desigualdade na distribuição pessoal da renda mundial aumentou rapidamente durante o século XIX e permaneceu relativamente estável durante o século XX.
  • No século XX, a desigualdade na distribuição pessoal da renda diminuiu internamente aos países e aumentou entre os países. As duas tendências se compensaram mutuamente, de modo que a desigualdade total permaneceu praticamente inalterada.
  • O crescimento econômico tende a reduzir a pobreza, embora os pobres possam perder em alguns episódios específicos de crescimento.
  • A pobreza extrema diminuiu significativamente entre 1820 e 1992, com a parcela da população mundial com renda inferior a 1 dólar por dia (linha de pobreza do Banco Mundial) se reduzindo de mais de 80% para menos de 25%.
  • O crescimento econômico recente na China e Índia levou a massiva redução da pobreza no mundo.
  • Desigualdade na distribuição pessoal da renda em um país provavelmente reduz sua taxa de crescimento. A pesquisa nesta área ainda não conseguiu identificar precisamente os mecanismos através dos quais isto acontece.

2.1.07

Câmbio e pobreza

Da coluna de Marcelo Neri, na edição de hoje do Valor Econômico:
"A valorização da taxa de câmbio gera uma queda relativa na inflação dos mais pobres (inflação dos pobres menor que a do conjunto da sociedade). Nanak Kakwani e Hyun Son avaliam esse efeito e obtêm, para o Brasil, no período de 2003 a 2005, reduções adicionais de pobreza de 4,33%, isto é, em vez de ter caído 19,3% entre 2003 e 2005, a miséria terá caído 23,63% quando incorporamos o efeito inflação pró-pobre. A magnitude do efeito inflação pró-pobre é substantiva".

1.1.07

Felicidade

A pesquisa econômica recente sobre "felicidade" indica que:

(1) como seria de esperar, os ricos são em geral mais felizes do que os pobres.

(2) ao contrário do que se poderia imaginar, os países não se tornam mais felizes à medida que enriquecem - a "felicidade" medida em surveys nacionais pouco mudou nos últimos cinquenta anos.

"Hábito" e "rivalidade" explicariam o segundo resultado. As pessoas se habituam ao que têm, não importa quanto elas tenham. Além disso, ter muitas coisas não basta se outras pessoas têm mais.

A edição especial de fim de ano de The Economist faz uma revisão desta literatura e sugere que uma economia florescente pode talvez proporcionar uma solução para este problema.

Adendo: Uma versão em português do artigo mencionado acima foi publicada no Valor Econômico - edição de 2 de janeiro de 2006 / página A20.