29.9.07

O jogo da "caçada ao veado" e a riqueza das nações

Tim Harford, em sua coluna The Undercover Economist, publicada em Slate, explica a recente corrida contra o banco inglês Northern Rock como o resultado da decisão dos depositantes de trocar a "caça ao veado" pela "caça ao coelho", no jogo conhecido como "caçada ao veado".

Este jogo mostra que o bem estar social é maximizado quando existe cooperação, a qual, por sua vez, depende da confiança existente entre os jogadores.

Assim, ajudaria a explicar bem mais do que a estabilidade dos bancos ou as corridas contra eles. Segundo Harford, a diferença entre países que foram bem sucedidos em formalizar a confiança (ou seja, países cuja população "caça veados coletivamente") e os países que não conseguiram isso (países onde a população "caça coelhos individualmente") corresponde basicamente à diferença entre países ricos e pobres.

26.9.07

Crescimento (falta de) - ambiente de negócios (II)


"Em 121 países, o ambiente de negócios é mais favorável do que no Brasil. A conclusão é da edição 2008 do relatório 'Doing Business', divulgado pelo Banco Mundial e que reúne dados sobre 178 países. No novo ranking, o Brasil aparece atrás de economias como Uganda, Bangladesh e Nepal e até mesmo dos territórios palestinos da Cisjordânia e Gaza. Em relação ao ranking divulgado em 2006, o Brasil caiu uma posição (estava em 121). Na América Latina, o desempenho do Brasil fica na frente só de Equador, Bolívia e da Venezuela, que ocupa uma das últimas posições do ranking geral (172 ). O levantamento avalia os países a partir da dificuldade dos empresários em abrir um negócio, obter licenças de construção, contratar mão-de-obra, registrar propriedades e obter crédito. Também leva em consideração a proteção existente para os investidores, a carga tributária, a facilidade para exportar e importar, o respeito aos contratos e o grau de dificuldade para fechar uma empresa".

(Informações publicadas na edição de hoje do Valor Econômico).

Paradoxo da pirataria

Na coluna The Financial Page, da New Yorker, James Surowiecki explica porque, no setor de moda, a pirataria - a cópia de modelos - é benéfica para suas "vítimas".

23.9.07

Corrupção e educação

Da coluna de José Alexandre Scheinkman, na Folha de São Paulo de hoje:
  • "Edward Glaeser e Raven Saks, da Universidade Harvard, mostraram, em um working paper da NBER, a conexão entre baixo nível educacional e prevalência de práticas corruptas nos Estados Unidos".
  • "Os pesquisadores utilizaram dados sobre servidores públicos municipais, estaduais e federais que foram condenados pela justiça federal americana por um crime relacionado à corrupção entre 1990 e 2002".
  • "O número de condenações como proporção da população varia consideravelmente entre os estados. Nos atrasados Mississippi e Louisiana, a taxa de condenação foi de nove servidores públicos por 100 mil habitantes, mais que o dobro da média nacional, enquanto em Oregon essa proporção foi menor que uma por 100 mil".
  • "Glaeser e Saks reconhecem que a corrupção provavelmente deprime os gastos em educação e que, portanto, a existência de uma correlação entre educação e honestidade dos servidores públicos não indica necessariamente que o baixo nível educacional cause um aumento na corrupção. Por isso aplicaram uma série de testes estatísticos que sugerem que, de fato, menor educação gera mais corrupção".
  • "Os pesquisadores de Harvard também documentaram que os estados mais pobres são mais corruptos, mas que a educação dos habitantes de um estado é um determinante mais importante do índice de corrupção do que a renda".

22.9.07

Redução da pobreza no Brasil (II)


  • O número de miseráveis no Brasil se reduziu em 5,9 milhões entre 2005 e 2006, uma queda de 14%, segundo pesquisa da Fundação Getulio Vargas, baseada em dados da PNAD. Foram contabilizadas 36,1 milhões de pessoas vivendo em condição miserável no país, no ano passado. Em 2005, eram 42,0 milhões.
  • Os miseráveis representavam 19,3% da população em 2006, a menor taxa desde 1992 (35,2%). Em 2005, o percentual era de 22,8%. O gráfico acima, publicado no Valor Econômico, mostra a evolução deste indicador entre 1992 e 2006.
  • Diferenças nos critérios adotados para classificar quem é pobre ou miserável explicam as disparidades entre a pesquisa do IETS, mencionada em postagem anterior, e esta pesquisa da FGV. Por exemplo, para a FGV, os miseráveis na Região Metropolitana de São Paulo são definidos como as pessoas que vivem em domicílios com rendimento per capita inferior a R$ 125. Para a mesma região metopolitana, o IETS utilizou como linha de pobreza o rendimento domiciliar per capita de R$ 266,15.
  • A desigualdade também manteve sua trajetória de queda em 2006, segundo a FGV - o índice de Gini da renda per capita dos domicílios baixou de 0,568, em 2005, para 0,562, em 2006.

Transição demográfica no Brasil


Naércio Menezes discute, em sua coluna na edição deste fim de semana do Valor Econômico, os números da "transição demográfica" no Brasil:
  • "A figura acima mostra a evolução recente e as projeções de tamanho da população brasileira dividida em três faixas etárias. A população de jovens (0 a 24 anos de idade), que vinha crescendo há muito tempo, atingiu seu ponto mais elevado em 2007, ficará estável por mais 20 anos ao nível de 87 milhões e passará a declinar partir de 2027. A população de adultos (25 a 64 anos) continuará crescendo a taxas elevadas (mas decrescentes) por mais 40 anos, quando então se estabilizará. Já a população de idosos (mais de 64 anos) aumentará a taxas crescentes, chegando a 49 milhões de pessoas em 2050".

  • "Os dados mais recentes mostram que a mulher brasileira tem, em média, 2,1 filhos. Isto significa que o Brasil já atingiu a chamada taxa de reposição, ou seja, se esta taxa permanecer constante, a população brasileira deve parar de crescer a partir de meados deste século".

  • "A taxa de fecundidade deverá cair ainda mais, graças ao avanço educacional. As mulheres com menos de três anos de escolaridade média têm, em média, 3,3 filhos, enquanto as mais escolarizadas (com pelo menos o ensino médio) têm apenas 1,6 filho. Esta diferença provoca uma diminuição da renda per capita das famílias mais pobres, logo a redução da taxa de fecundidade que ainda continua a ocorrer nestas famílias (se voluntária) é bem-vinda".

  • "O Brasil já deixou de aproveitar grande parte da 'janela de oportunidade', trazida pela transição demográfica e relacionada com o fato de que os adultos tendem a ser mais produtivos e a acumular mais capital do que os jovens e idosos. O aumento da informalidade, do desemprego e dos gastos sociais com idosos, resultados da Constituição de 1988, impediu que aproveitássemos integralmente este dividendo demográfico para acelerar nosso crescimento econômico".

Sobre este assunto, ver postagens anteriores relativas a artigo de Malcolm Gladwell e ao conhecido estudo de David Blomm e David Canning. Informações sobre o caso brasileiro podem também ser obtidas nesta postagem de fevereiro.

19.9.07

Crescimento (falta de) - educação (IV)

Informações publicadas em editorial na edição de hoje da Folha de São Paulo:
"De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, o número de estudantes do ensino médio caiu 0,9% no Brasil, de 2005 para 2006. O valor percentual baixo pode sugerir que tenha havido apenas flutuação estatística, mas a quantidade de matrículas no ensino médio deveria aumentar, e não diminuir. A taxa de escolarização na faixa etária correspondente (82,5%, de 15 a 17 anos) está longe da universalização obtida no ensino fundamental (97,7%, de 7 a 14 anos). O indicador vinha melhorando nos anos 1990, até atingir 81,1% em 2001. Desde então, estagnou entre 81% e 82,5%. De acordo com o Censo Escolar do Ministério da Educação, essa taxa bruta de escolarização oculta que apenas 53% dos 8,9 milhões de matriculados estão na faixa etária correta. Há 4,1 milhões de estudantes secundários com 18 anos ou mais que isso, por força de reprovações. A contrapartida é que 3,6 milhões de jovens de 15 a 17 anos, que deveriam cursar o ensino médio, ainda marcavam passo no fundamental, em 2006. A taxa de reprovação é de 11,5%, e a de abandono, de 15,3%. O ensino médio no Brasil vive uma grave crise".

Redução da pobreza no Brasil (I)

Estimativas de Sônia Rocha, economista do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade, sobre a evolução recente da pobreza no Brasil, publicadas pela Folha de São Paulo:
  • "Em 2006, a pobreza atingia 26,9% da população brasileira. É o mais baixo índice desde 1987. Em 2005, a proporção de pobres ficou em 30,5%. Em 1995, a pobreza chegava a 33,2%".
  • "Em números absolutos, houve queda de 10,6% no contingente de pobres no país - de 54,9 milhões de pessoas em 2005 para 49,0 milhões em 2006. Ou seja, em um ano, 5,9 milhões de brasileiros ultrapassaram a linha da pobreza".
  • "O total de indigentes também baixou - de 6,8% da população em 2005 para 5,7% em 2006. Em todo o Brasil, o número de miseráveis caiu de 12,2 milhões para 10,4 milhões".
  • "Se a pobreza cedeu no país como um todo, houve concentração nas áreas urbanas, em especial nas grandes metrópoles. Do total de pobres em 2006, 36,3% estavam nas dez principais regiões metropolitanas. Esse percentual era menor em 1995: 28,8%. Em 2005, havia sido de 35,5%".

15.9.07

Estudo de caso para alunos de microeconomia - aquecimento global

Greg Mankiw tem promovido, no seu muito lido blog, a adoção de um imposto de Pigou como solução para o problema do excesso de emissões de carbono.

Os argumentos que tem levantado em favor desse imposto foram resumidos por Mankiw, em sua contribuição para a coluna Economic View, publicada hoje também em The New York Times.

Queda da mortalidade infantil

A mortalidade infantil no mundo, em 2005, alcançou 9,7 milhões crianças - a primeira vez em que esse número fica abaixo de 10 milhões, desde que registros começaram a ser mantidos, em 1960.

No início da década de 60, 20 milhões de crianças de menos de 5 anos morriam anualmente, em todo o mundo. Se a taxa de mortalidade infantil tivesse se mantido inalterada, o número para 2005 teria sido de 25 milhões.

As causas desta importante queda na mortalidade infantil foram discutidas em recente artigo em The New York Times.

10.9.07

Bolsa - Grande Empresa

Da coluna de Cláudio Haddad, na edição do Valor Econômico de 6 de setembro:
"Para se reduzir a carga tributária no Brasil, é imprescindível se iniciar uma discussão séria sobre o tamanho e a alocação dos gastos públicos. Nesta discussão, é fundamental incluir as renúncias fiscais e os subsídios invisíveis que transitam fora do orçamento, mas que aumentam a dívida pública e, consequentemente, as despesas com juros. Um exemplo de gasto invisível é o financiamento concedido pelo BNDES à TJLP. Entre junho de 2006 e de 2007, o saldo médio das operações de crédito do BNDES consolidado em moeda nacional (praticamente todas à TJLP) foi de R$ 111 bilhões. Neste mesmo período a Selic acumulada, taxa básica de captação do governo federal, ficou 5,86% acima da TJLP. Ou seja, em 12 meses essas operações transferiram como subsídio R$ 6,5 bilhões aos tomadores, igual a 70% do valor previsto para o Bolsa Família este ano, sendo que, dada a concentração de operações do banco, os dez maiores tomadores devem ter recebido mais de 50% deste valor. Justifica-se este subsídio, principalmente levando-se em conta que para os grandes tomadores o mercado de capitais já é uma alternativa viável? Por que proteger e subsidiar os tomadores daquele banco em detrimento de outras empresas, com projetos igualmente meritórios, cujos controladores têm de seguir regras rígidas de governança e diluir sua participação através de emissões primárias de ações? Por que os recursos para os primeiros teriam de vir do trabalhador e do governo quando poderiam ser providos por investidores em condições competitivas?"

Crescimento (falta de) - carga tributária (V)

A carga tributária no Brasil chegou a 34,23% do PIB, em 2006, de acordo com estimativa da Receita Federal.

Carga tributária como % do PIB - 2002 / 2006

2002 - 31,86
2003 - 31,46
2004 - 32,22
2005 - 33,38
2006 - 34,23

Fonte: Folha de São Paulo, edição de 22/08/2007.

2.9.07

Taxa de câmbio e política fiscal, de novo

Dani Rodrik argumenta, em artigo publicado recentemente no Valor Econômico, que uma moeda subvalorizada é fundamental para o crescimento econômico sustentado:
"Praticamente todos os casos de crescimento sustentável elevado têm sido acompanhados de uma taxa de câmbio real significativamente depreciada. Observando a experiência de mais de 100 países, apurei que cada 10% de subvalorização acrescenta 0,3 pontos percentuais ao crescimento. A subvalorização da moeda é um instrumento possante para o crescimento porque aumenta a rentabilidade dos setores industrial e agrícola não-tradicional, que são as atividades com o maior nível de produtividade de mão-de-obra e que também apresentam as mais velozes taxas de aumento de produtividade. Ela estimula a produção, ao contrário da supervalorização, que estimula o consumo. É importante compreender que este não é um problema de competência exclusiva do banco central. Manter uma moeda competitiva requer um aumento na poupança interna em relação ao investimento, ou uma diminuição nos gastos nacionais em relação à renda. Caso contrário, os ganhos de competitividade seriam anulados pela inflação ascendente. Isso significa que as autoridades fiscais têm uma grande responsabilidade: estabelecer uma meta de superávit fiscal que seja grande o suficiente para gerar o espaço necessário para a depreciação real do câmbio. Ninguém tem o direito de se queixar da política de 'moeda valorizada e alta taxa de juro' do banco central quando a política fiscal continua frouxa demais para permitir que as taxas de juros sejam reduzidas sem colocar em risco a estabilidade dos preços".
O mesmo argumento sobre a relação entre política fiscal e taxa de câmbio foi apresentado antes neste blog, em postagens de janeiro e abril.