2.11.17

Crise financeira de 2008

Está disponível, na plataforma de cursos on line abertos Coursera, o curso The Global Financial Crisis, oferecido pela Universidade Yale e lecionado por Andrew Metrick e Timothy Geithner, este último ex-presidente do FED de Nova Iorque e ex-Secretário do Tesouro dos Estados Unidos. O curso proporciona uma análise bastante completa e minuciosa das causas, eventos e respostas da política econômica à crise financeira de 2008.

14.9.17

Aumento da produtividade do trabalho na indústria

As informações abaixo, publicadas por Mark Perry, do American Enterprise  Institute, em AEIdeas, oferecem alguma evidência para a explicação sobre a "estagnação secular" da produtividade do trabalho, reproduzida na postagem anterior.

  • Nos últimos 20 anos, a produção industrial nos Estados Unidos aumentou 40% em termos reais, enquanto o emprego industrial se reduziu em 29% (menos 5,1 milhões de trabalhadores empregados). 

  • Os Estados Unidos produzirão quatro vezes mais bens industriais neste ano, em comparação com 1940, com aproximadamente o mesmo número de empregos fabris.

  • O emprego na indústria como proporção do emprego total alcançou seu pico, nos Estados Unidos, em 1943 e tem declinado, desde então.

19.8.17

Estagnação secular (III)

A desaceleração do crescimento da produtividade do trabalho nos países desenvolvidos, na última década, foi ilustrada, nesta postagem, com dados para os Estados Unidos.

Timothy Lee postula, em artigo para Vox, que paradoxalmente estagnação da produtividade e rápido progresso tecnológico, na verdade, coexistiram, nesse período.

Seu argumento é que, quando a produtividade do trabalho se eleva em um setor da economia, a produção do setor pode se expandir ou se contrair. Inicialmente, ao baratear o produto, a inovação amplia o seu mercado, levando à expansão do setor que o fabrica. Com o passar do tempo, a demanda pelo produto é, em larga medida, satisfeita, de modo que aumentos subsequentes da produtividade que barateiam o produto levam principalmente a redução dos gastos com sua aquisição. O setor passa, então, a se contrair, no sentido de que passa a responder por uma parcela decrescente da renda e do emprego.

Isso é o que parece estar acontecendo no conjunto da indústria de transformação, em muitos países. O progresso técnico, neste setor, levou, no período mais recente, principalmente a melhoras de qualidade e redução do preço de produtos já existentes, com a introdução de novos produtos estando limitada quase só ao setor de informática (computadores pessoais, smartphones, DVD players, vídeo games etc.).

Com a redução decorrente da despesa com bens manufaturados, uma parcela crescente do orçamento das famílias passou a se dirigir para o setor de serviços pessoais (saúde, educação, alimentação fora do domicílio, entretenimento, cuidados com animais de estimação etc.), onde a produtividade do trabalho é baixa e se eleva lentamente, quando se eleva.

Essa mudança na estrutura da produção e do emprego na direção do setor de serviços pessoais explica a tendência à redução da taxa de crescimento da produtividade do trabalho.

Este é o paradoxo da produtividade – a redução da taxa de crescimento da produtividade agregada resulta do aumento da produtividade na indústria de transformação.

17.8.17

Distribuição geográfica da renda (PNB) mundial em 2016 - Regiões (fonte: Banco Mundial)


Regiões Renda per capita
     mundial = 100
Ásia Ocidental e Pacífico          106
Europa e Ásia Central          191
América Latina e Caribe            93
Oriente Médio e Norte da África          117
América do Norte          364
Sul da Ásia            38
África Subsaariana            22

16.8.17

Distribuição geográfica do PIB mundial em 2016 - Países (fonte: Banco Mundial)


País
% do PIB mundial
% da população mundial
PIB per
  capita do mundo=100
PIB per
  capita EUA=100
China       17,8        18,5           96           27
Estados Unidos       15,5          4,3         360         100
Índia         7,2        17,8           40           11
Japão         4,4         1,7         259           72
Alemanha         3,3         1,1         300           83
Rússia         2,8         1,9         147           41
Brasil         2,6         2,8          93           26
Indonésia         2,5         3,5          71          20
Reino Unido         2,3         0,9        255          71
França          2,3         0,9        255          71
Total       60,7       53,4        114          32

(Informações para o ano de 2018 podem ser obtidas aqui).

18.7.17

Contração fiscal expansionista

Uma redução do déficit do governo pode ter efeitos expansionistas sobre a produção e o emprego? A experiência recente da Grécia é frequentemente citada como evidência contrária a esta hipótese.

Andrés Velasco, em artigo publicado em Project Syndicate, argumenta, entretanto, que, no atual contexto brasileiro, uma contração fiscal pode ser expansionista, porque pode ser acompanhada por redução da taxa de juros real e desvalorização da taxa de câmbio real, o que, para a Grécia, devido à sua condição de membro da zona do euro, não era possível.  

22.6.17

Curva de Phillips

A taxa de desemprego variou acentuadamente nos Estados Unidos, na última década, enquanto a taxa de inflação se manteve praticamente estável. Em particular, a taxa de desemprego se reduziu de 10%, em 2009, para perto de 4%, em 2017, sem que elevação significativa fosse observada na taxa de inflação.

A relação inversa entre taxa de desemprego e taxa de inflação, postulada pela Curva de Phillips, parece, assim, ter se enfraquecido ou desaparecido.

A Curva de Phillips é dada por

π = πe α (U U*) + μ

onde

π = inflação corrente

πe = inflação esperada

U = taxa de desemprego corrente

U*= taxa de desemprego natural

μ = choque de oferta

A revista The Economist avalia, neste artigo, três possíveis explicações para o fato de a inflação não ter se elevado, à medida que a taxa de desemprego se reduziu, nos Estados Unidos, nos últimos anos:

  • variação da taxa de desemprego natural em consonância com a taxa de desemprego corrente
  • choques de oferta favoráveis 
  •  redução da inflação esperada

27.2.17

Estagnação Secular (II)

A taxa média anual de crescimento da produtividade do trabalho nos Estados Unidos se reduziu, a partir de 2003, tendo, entre 2008 e 2016, alcançado menos da metade do valor observado entre 1996 e 2002, conforme os dados reproduzidos abaixo, originalmente publicados aqui.

Esta desaceleração do crescimento da produtividade, atribuída ao avanço mais lento do progresso técnico, constitui o fundamento empírico da hipótese de "estagnação secular" discutida na última postagem, que hoje tem Robert Gordon, professor da Northwestern University, como principal proponente.


Estados Unidos - Taxa de crescimento
da  produtividade do trabalho
1948 / 1973   - 3,3%
1974 / 1996   - 1,5%
1996 / 2002   - 3,3%
2003 / 2007   - 2,2%
2008 / 2016* - 1,3%
* até o terceiro trimestre

22.2.17

Estagnação Secular (I)


Na palestra mencionada na postagem anterior, Philippe Aghion discutiu também a hipótese da “estagnação secular”, recentemente proposta por alguns economistas.

De acordo com esta hipótese, a desaceleração da taxa de crescimento da produtividade do trabalho, observada, nos últimos anos, nos países desenvolvidos, reflete uma tendência de longo prazo – não vai mais haver crescimento econômico acelerado, porque as inovações de maior impacto já ocorreram.

Em relação a esta hipótese, Aghion contrapõe os seguintes argumentos:

·         As novas tecnologias da informação e comunicação não mudaram apenas a maneira de produzir bens e serviços, mas também a maneira de produzir idéias. A tecnologia para produzir idéias nunca foi tão boa quanto é hoje.

·         Continua a haver uma grande necessidade de inovações, em áreas como saúde, energia renovável e outras, e os incentivos para a inovação são imensos, porque os retornos da inovação nunca foram tão grandes como são agora – graças à globalização, o mercado para uma grande inovação é o mundo inteiro, de modo que os retornos são muito elevados.

·         Para muitos países, há ainda a vantagem do atraso. Através de "reformas estruturais", é possível aumentar significativamente a taxa de crescimento da produtividade, como fizeram recentemente a Suécia, Holanda e Canadá.

·         Pode estar havendo problemas na mensuração do crescimento econômico, levando à impressão errônea de que o crescimento desacelerou. Quando um bem hoje custa mais do que outro bem que atendia a mesma necessidade ontem, é preciso determinar quanto dessa diferença de preço se deve a inflação e quanto se deve a melhora da qualidade. Se é exatamente o mesmo bem, o aumento de preço se deve exclusivamente à inflação. Se há uma ligeira melhora da qualidade, é possível estimar de quanto ela foi e separar os dois efeitos. Mas, quando se trata de um novo produto substituindo um produto antigo, a questão é mais complicada e aumentos de preço devidos a melhora da qualidade podem ser equivocadamente computados como inflação. É possível que o crescimento da produtividade total dos fatores esteja sendo subestimado em um ponto percentual por causa desses problemas de mensuração (em lugar de 1,5%, seja, de fato, de 2,5%, o que não se pode chamar de estagnação).

20.2.17

Armadilha da renda média


Philippe Aghion, professor do College de France, foi o conferencista convidado para a 13th Raymond Aron Lecture, organizada anualmente pela Center on the United States and Europe, da Brookings Institution.

Com o título de “Can we make growth more inclusive?”, a palestra abordou alguns dos temas centrais do debate corrente sobre crescimento econômico.

Sobre a armadilha da renda média, Aghion apresentou os argumentos resumidos abaixo.

Há duas maneiras de gerar crescimento da produtividade. Uma é alcançar os líderes, alcançar a fronteira tecnológica (catching up). A outra maneira é inovar. As políticas que promovem o catching up são diferentes das políticas que promovem a inovação.

No processo de catching up, o crescimento se dá via imitação, com transferências de tecnologia, realocação de fatores de produção e adoção de práticas gerenciais melhores. Não importa muito se a competição no mercado de produto é limitada, nem se o mercado de trabalho é pouco flexível. Importa pouco não ter bons programas de pós-graduação ou não ter equity finance (bancos e subsídios bastam).

Quando se quer fazer inovação de fronteira, por outro lado, é importante ter competição, entrada e saída fáceis no mercado de produtos. Para as firmas na fronteira tecnológica, mais competição induz inovação, para escapar da competição pela entrada. Para as firmas tecnologicamente defasadas, mais competição tende a causar mais desencorajamento. Quanto mais avançado é um país, mais firmas ele terá na fronteira tecnológica e maior o efeito sobre o crescimento da liberalização do mercado de produtos.

Para crescer via inovação, é preciso também que o mercado de trabalho seja flexível, de modo que seja possível contratar rapidamente ou demitir, se há mudança de atividade.

O crescimento é um processo conflitivo, envolve um conflito entre o velho e o novo. Inovações, particularmente inovações de fronteira, deslocam tecnologias antigas. Os inovadores de ontem tendem a se tornar os incumbentes entrincheirados de hoje, que tentam evitar que surjam inovações. Alguns países lidam com este problema melhor do que outros. Há países que começaram a crescer via catching up e que deveriam, em determinado momento, ter passado para políticas que favorecem a inovação de fronteira, ter realizado o que se tem chamado de “reformas estruturais”, mas não fizeram isso, por causa dos resistência dos incumbentes. Essa pode ser uma explicação de porque é difícil a transição do crescimento baseado na imitação para o crescimento baseado na inovação e, portanto, de porque existe a armadilha da renda média.