29.10.11

Determinantes do hiato de produtividade entre o Brasil e os Estados Unidos

Por que a produtividade do trabalho (Y/h) no Brasil equivale a apenas 17,1% da produtividade americana (10,59 dólares por hora, em comparação com 61,75 dólares por hora, em 2010)?

Para responder a esta pergunta, faz-se uso da decomposição proposta por Hall e Jones (1999), derivada do modelo de crescimento de Solow, ampliado para incorporar a contribuição do capital humano.

Na decomposição de Hall e Jones (1999), supõe-se que a função de produção é do tipo Cobb-Douglas, sendo o produto por hora dado por

(Y/h) = A (e ^ r u) {(K/Y) ^ [(a/(1 - a)]}

onde

A = produtividade total dos fatores (PTF)
K = estoque de capital físico
e ^ r u = capital humano por trabalhador
r = retornos da educação
u = escolarização média

Seguindo Hall e Jones (1999), admite-se:

• participação do capital na renda (a) de 1/3.

• retornos da educação decrescentes e equivalentes a 13,4% para os primeiros 4 anos de escolarização, 10,1% para os 4 anos seguintes e 6,8% para os anos restantes.

• relação capital-produto no Brasil equivalente a 76,2% da americana.

Para estimativa do capital humano por trabalhador, dados os retornos acima mencionados, recorreu-se ainda a Barro e Lee (2011), que reportam 7,178 anos e 13,27 anos como a escolaridade média da população de 25 anos e mais no Brasil e nos Estados Unidos, respectivamente, em 2010.

Tomando-se o valor para os Estados Unidos como equivalente a 1, as estimativas para o Brasil dos três termos que compõem a equação (1) foram:

A = 0,305
e ^ ru = 0,643
(K/Y) ^ [a/(1 - a)] = 0,873

Assim, se a relação capital-produto no Brasil fosse igual à dos Estados Unidos, tudo o mais constante, o produto por hora brasileiro seria 19,6% do americano (em lugar de 17,1%), enquanto a razão entre as produtividades do trabalho, obtida atribuindo-se ao Brasil o mesmo capital humano e produtividade total dos fatores dos Estados Unidos, seria 26,6% e 56,1%, respectivamente.

Em outras palavras, seria possível mais do que triplicar a produtividade do trabalho no Brasil se a economia brasileira apresentasse o mesmo nível de eficiência produtiva alcançado pela economia americana, enquanto o impacto sobre o produto por hora de elevar para o nível americano os valores da relação capital-produto e do capital humano por trabalhador seria de 15% e 56%, respectivamente.

Este exercício sugere, portanto, que a diferença na produtividade do trabalho entre o Brasil e os Estados Unidos se deve fundamentalmente à ineficiência na utilização de fatores de produção no Brasil.

Tal conclusão não se alteraria substancialmente caso se adotasse: (i) a estimativa de Heston, Summers e Aten (2011) de 19% para a razão entre os produtos por hora brasileiro e americano em 2009, (ii) o valor de 0,4 para a participação do capital na renda, sugerido por Ferreira, Pessoa e Veloso (2011), e (iii) uma estimativa algo inferior à de Hall e Jones (1999) para a relação capital-produto no Brasil (66,7% da americana). Nesse caso, a produtividade total dos fatores no Brasil corresponderia a 38,7% do que é observado nos Estados Unidos, continuando a explicar a maior parte do hiato do produto por hora.

A estimativa de uma PTF no Brasil equivalente a 30,5% (38,7%) da PTF americana foi obtida, seguindo Hall e Jones (1999), a partir da função de produção agregada com progresso técnico Solow-neutro, isto é, da função Y= (K^a) [A (e^ru) h]^(1-a). Caso se tivesse adotado, neste exercício, a função de produção agregada com progresso técnico Hicks-neutro, isto é, a função Y= A (K^a) [(e^ru) h]^(1-a), a estimativa da PTF brasileira corresponderia a 45% (56,6%) da PTF dos Estados Unidos.


Referências

Barro, R. e J. Lee (2011). Barro-Lee Education Attainment Data Set.

The Conference Board (2011). Total Economy Database.

Ferreira, P., S. Pessoa e F. Veloso (2011). On the Evolution of TFP in Latin America. EPGE Ensaios Econômicos no. 723.

Hall, R. e C. Jones (1999). Why Do Some Countries Produce So Much More Output Per Worker Than Others? The Quarterly Journal of Economics, 114(1), pags. 83-116.

Heston, A., R. Summers e B. Aten (2011). Penn World Table Version 7.0, Center for International Comparisons of Production, Income and Prices at the University of Pennsylvania.

Maddison, A. (2010). Historical Statistics of the World Economy 1-2008 AD.

25.10.11

Determinantes da diferença de renda per capita entre o Brasil e os Estados Unidos



     Hiato de renda Brasil - Estados Unidos   2010 (US$ 2011) 
 Variável            Brasil    Estados Unidos
 PIB (Y)    US$ 1,968 trilhões US$ 14,723 trilhões
 População (POP)        201,1 milhões      308,9 milhões
 Horas trabalhadas (h)        185,9 bilhões      238,4 bilhões
 Emprego        101 milhões      140,7 milhões
 Y/POP      US$ 9.787     US$ 47.663
 Y/h      US$ 10,59     US$ 61,75
 h/L     1841 horas    1.695 horas
 L/POP           0,5         0,45


O PIB per capita pode ser decomposto em cinco fatores determinantes:

Y / POP = (Y / h) (h / L) (L / PEA) (PEA / PIA) (PIA / POP)

onde

Y = PIB
POP = população
h = total de horas trabalhadas
L = total de trabalhadores empregados
PEA = população economicamente ativa
PIA = população em idade ativa

sendo

Y / POP = PIB per capita
Y / h = produto por hora (produtividade do trabalho)
h / L = horas médias trabalhadas
L / PEA = taxa de emprego
PEA / PIA = taxa de atividade
PIA / POP = estrutura etária

A Total Economy Database traz informações relativas ao ano de 2010 para as variáveis Y, POP, h e L, o que possibilita decompor o hiato de renda per capita entre o Brasil e os Estados Unidos entre as diferenças na produtividade do trabalho (Y/h), horas médias trabalhadas (h/L) e proporção empregada da população total (L/POP).

Os dados mostrados na tabela acima indicam que o hiato de renda entre Brasil e Estados Unidos é mais do que explicado pelo hiato na produtividade do trabalho.

A produtividade do trabalho no Brasil alcançava apenas 17,1% da produtividade nos Estados Unidos, em 2010. A média maior de horas trabalhadas e a proporção mais elevada dos empregados na população total em relação aos Estados Unidos permitiram ao Brasil compensar um pouco a desvantagem no produto por hora e alcançar um PIB per capita equivalente a 20,5% do americano, em 2010.

23.10.11

Diferença de renda per capita entre o Brasil e os países desenvolvidos


Hiato de renda entre o Brasil e os países desenvolvidos

A tabela acima traz informações sobre o hiato de renda entre o Brasil, de um lado, e os Estados Unidos, as cinco maiores economias européias e o Japão, de outro, indicando em que ano os países selecionados alcançaram o nível de PIB per capita observado no Brasil em 2008. Assim, os Estados Unidos alcançaram o nível de renda brasileiro de 2008 em 1926, ou seja, 82 anos antes, e a Espanha em 1971, com uma antecedência de 37 anos.

Diferença de renda per capita entre o Brasil e os Estados Unidos



Razão entre os PIBs per capita do Brasil e dos Estados Unidos

Em 1820, o PIB per capita do Brasil correspondia a 51,4% do PIB per capita dos Estados Unidos.

A razão entre os PIBs per capita brasileiro e americano se reduziu a 29,2%, em 1870, e a 16,6%, em 1900, tendendo a permanecer em torno deste último valor até 1955 (média entre 1900 e 1955 equivalente a 16,7%), com desvios mais pronunciados apenas durante a Grande Depressão (22,5%, em 1933) e a Segunda Guerra Mundial (11,2%, em 1944) - ver o gráfico acima.

Ao longo do governo Kubitschek (1956 - 1961), o hiato de renda entre o Brasil e os Estados Unidos começou a se reduzir, processo interrompido pela recessão 1962/67, mas retomado a partir de 1968.

Devido ao acelerado crescimento econômico verificado durante o período do chamado "milagre econômico", o PIB por habitante do Brasil em 1980 equivalia ao dobro do seu valor em 1967, alcançando 28% do PIB por habitante dos Estados Unidos, nível que havia sido observado pela última vez um século antes, em 1878.

As décadas de 80 e 90 do século XX foram de divergência, com a razão entre os PIBs per capita declinando para menos de 20%, patamar do qual só começaria a se afastar novamente em 2007.

Fonte: Angus Maddison (2010). Historical statistics of the world economy 1 -2008 AD.