31.3.07

Crescimento (falta de) - mais crescimento com menor taxa de investimento

A recente revisão das contas nacionais divulgada pelo IBGE indicou que, nos últimos quatro anos, a taxa de crescimento do PIB foi maior e a taxa de investimento foi menor do que antes se imaginava.

Uma interpretação possível dos novos números é que a produtividade do capital na economia brasileira é mais alta do que se estimava - os dados, afinal, estariam começando a refletir devidamente os efeitos das reformas econômicas dos últimos 17 anos (desregulamentação, privatizações, abertura comercial e financeira, nova lei de falências, mudança no patrimônio de afetação do setor de construção imobiliária, crédito consignado etc.).

Outra possibilidade é que o grau de utilização do capital instalado aumentou, de modo que a economia está obtendo mais produto com o mesmo estoque de capital.

Uma terceira interpretação, proposta por Alexandre Schwartzman, é que os setores cujas taxas de crescimento mais foram revistas para cima (administração pública e aluguéis, como se mencionou na postagem anterior) são setores pouco intensivos em capital, ou seja, necessitam de menos capital por unidade de produto.

Crescimento (falta de) - pouco mudou

Em artigo publicado na edição de ontem do Valor Econômico, Armando Castelar Pinheiro analisou o que mudou com a revisão das contas nacionais, recém-divulgada pelo IBGE. A seguir, os principais pontos do artigo:
  • "O PIB cresceu mais nas novas séries do IBGE: em 2001-06, 2,9%, ao invés de 2,3% ao ano".
  • "Cerca de 70% desse aumento são explicados pela elevação das taxas de expansão da administração pública e das atividades imobiliárias e aluguel (as famílias estavam consumindo mais serviços de moradia do que antes se imaginava). Os impostos também contribuíram para o crescimento na nova série".
  • "Não foi um maior dinamismo da indústria ou da agricultura que elevou a estimativa do ritmo de expansão do PIB - o crescimento da indústria de transformação em 2001-06 é exatamente igual nas séries antiga e nova, 2,3% ao ano. Isso significa que nada de muito relevante mudou com relação à discussão sobre o PIB potencial".
  • "O consumo do governo foi reavaliado para cima na nova série, passando a responder por 19,9% do PIB, quase o dobro do registrado em 1967-86 (10,3% do PIB). Trata-se de um patamar elevadíssimo, semelhante ao observado, na média dos anos 90, para os países da OCDE (19,8%) e muito superior ao que registram países que crescem rápido e fornecem serviços públicos de melhor qualidade aos seus cidadãos, como Coréia (12,7%), Chile (12,6%), Irlanda (14,8%) e Estados Unidos (15,4%)".
  • "Esse alto nível de consumo faz com que, apesar da carga tributária elevada, o setor público invista pouco. Em 2000-2005, o investimento público foi de 1,8% do PIB, contra 3,5% do PIB em 1967-86 e uma média de 3% do PIB na OCDE".
  • "Decompondo a expansão do PIB em 1995-2006, obtém-se que o fator que mais contribuiu para elevar o PIB foi o aumento da população ocupada, em 2,1% ao ano. A produtividade total dos fatores, por sua vez, subiu 0,8% ao ano. Mantidas estas duas taxas, para que o PIB cresça 5% ao ano de forma sustentada o estoque de capital teria de aumentar 6,6% ao ano, bem mais que o 1,6% ao ano observado em 1995-2006. Para alcançar esse objetivo em cinco anos, o investimento teria de crescer 11,5% ao ano, atingindo 24% do PIB".

25.3.07

Crescimento (falta de) - carga tributária (IV)

Segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, com a revisão das contas nacionais divulgada na semana passada, a carga tributária brasileira, em 2005, foi de 34,1% do PIB (menor do que os 37,8% anteriormente estimados).

Mesmo depois desta revisão para baixo, o Brasil ainda tem uma carga tributária bem maior do que a do Chile (18,9%), China (16,9%), Rússia (17,8%), Argentina (21,8%), México (19,8%), Coréia do Sul (25,6%), Japão (26,4%), Estados Unidos (26,8%) e Irlanda (30,5%).

(Informações divulgadas na Folha de São Paulo - edição de 23 de março de 2006).

Rodada Doha - muito barulho por nada?

Evidências de que os ganhos (e perdas) potenciais da Rodada Doha são pouco signficativos são reportadas por Clóvis Rossi, na edição de hoje da Folha de São Paulo.

O artigo comenta resultados obtidos por Sandra Polaski, do Centro Carnegie para a Paz Internacional, os quais são resumidos abaixo:
  • "A economia mundial terá um ganho de 0,2% em relação a seu tamanho atual, se houver um acordo na Rodada Doha. Em números absolutos, o ganho oscilará entre US$ 40 bilhões e US$ 60 bilhões para todos os 150 países envolvidos na negociação".
  • "Há tanto ganhadores líquidos como perdedores líquidos, nos diferentes cenários, e os países mais pobres estão entre os perdedores líquidos, em qualquer dos prováveis cenários. Os países subsaarianos, justamente os mais pobres entre os pobres, sofrerão uma redução em sua renda de aproximadamente 1%. O grande ganhador é a China, com aumento entre 0,8% e 1,2% de seu PIB".
  • "Alguns poucos países ganharão com a liberalização agrícola, notadamente Brasil, Argentina e Tailândia. Este ganho, entretanto, é pequeno. Para o Brasil, especificamente, é de apenas US$ 251 milhões".
  • "Os maiores ganhos virão da liberalização na indústria o que naturalmente beneficiará os países e regiões mais ricas".
  • "O comércio não é a panacéia para aliviar a pobreza e, mais genericamente, para o desenvolvimento. O comércio é um fator entre muitos que podem contribuir para o crescimento econômico, mas sua contribuição tende a ser muito modesta".
O artigo é interessante, mas contém um sério equívoco - a sugestão de Rossi de que estes resultados "contrariam frontalmente todos os demais estudos, especialmente os de organizações internacionais, que costumam anunciar uma cornucópia de benefícios para o mundo todo no caso de a Rodada Doha chegar a bom termo".

A verdade é que a grande maioria dos estudos disponíveis sobre negociações e acordos deste tipo indicam que seu impacto sobre a renda dos países envolvidos tende a ser bastante modesto. Rossi (e muito mais gente), em sua má vontade com relação aos "economistas ortodoxos", está mal informado sobre o que as avaliações dos economistas têm mostrado a este respeito.

Adendo: O relatório de Polaski pode ser obtido neste endereço.

24.3.07

Crescimento (falta de) - investimento ou produtividade? (II)

Em artigo publicado na edição de hoje da Folha de São Paulo, José Márcio Camargo discute as implicações da revisão das contas nacionais para o diagnóstico dos entraves ao crescimento econômico no Brasil:

  • "Com base nas taxas de crescimento do PIB e do investimento, podemos calcular a produtividade do investimento, ou seja, quanto do PIB é necessário investir para gerar 1% de taxa de crescimento (a relação marginal capital/produto)".
  • "Tomando as médias do período 2000-2005 para o Brasil (3,0% e 16,3%, respectivamente) e dividindo uma pela outra, chegamos à conclusão de que, para que o país consiga crescer 1%, terá que investir 5,4% do PIB".
  • "Em uma amostra de 12 países emergentes - África do Sul, Argentina, Chile, China, Coréia do Sul, Hungria, Índia, México, Polônia, República Tcheca, Rússia e Turquia -, a taxa média de investimento foi de 23,2% do PIB, enquanto a relação marginal capital/produto média foi de 5,8%, no período 1995-2005. A relação capital-produto do Brasil está, portanto, próxima daquela observada em países similares, mas a taxa de investimento é comparativamente muito baixa".

Crescimento (falta de) - agora é 21%

Com a revisão das contas nacionais divulgada esta semana pelo IBGE, as novas series para a taxa de crescimento do PIB e a taxa de investimento, no período 2000-2005, são as seguintes:

Taxa de crescimento do PIB

2000 - 4,3%
2001 - 1,3%
2002 - 2,7%
2003 - 1,1%
2004 - 5,7%
2005 - 2,9%

Investimento como % do PIB

2000 - 16,8%
2001 - 17,0%
2002 - 16,4%
2003 - 15,3%
2004 - 16,1%
2005 - 16,3%

A taxa média de crescimento neste período, antes estimada em 2,5%, passou para 3%, enquanto a taxa média de investimento se reduziu de 19,1% para 16,3%, na nova estimativa.

Uma implicação desta revisão é que a produtividade do capital na economia brasileira é mais alta do que se pensava. Supondo uma taxa de depreciação de 4%, a relação capital-produto implícita nas estimativas anteriores era cerca de 3. As novas estimativas das taxas de crescimento do PIB e de investimento sugerem uma relação capital-produto de 2,3.

Com uma relação capital-produto de 2,3 e taxa de depreciação de 4%, uma taxa de investimento de 21% é necessária para se obter uma taxa de crescimento do PIB de 5%.

Para entender os cálculos acima, consulte esta postagem anterior.

22.3.07

Valorização cambial? (II)

Em uma postagem anterior, usando informações do IPEADATA, se mostrou que a taxa de câmbio efetiva real está atualmente próxima da sua "média histórica", sugerindo que a preocupação de muitos analistas com uma valorização "excessiva" do real tem pouco fundamento.

Em sua coluna na edição de ontem da Folha de São Paulo, Alexandre Schwartzman defendeu um ponto de vista semelhante.

Os principais pontos do argumento de Schwartzman são:

  • "De acordo com a teoria econômica, o equilíbrio geral da economia se verifica quando são satisfeitas duas condições de equilíbrio. A primeira condição é o equilíbrio externo, ou seja, a manutenção de certo saldo na conta corrente que seja visto como sustentável ao longo dos anos. A segunda se refere ao equilíbrio doméstico, que pode ser interpretado como uma condição acerca da evolução das taxas de inflação dos produtos que não podem ser comercializados internacionalmente, tipicamente serviços. Se a taxa de inflação desses produtos estiver crescendo, é sinal de excesso de demanda nesse mercado; se caindo, excesso de oferta. Em equilíbrio geral, portanto, a inflação dos não-comercializáveis é estável e o país gera um saldo em conta corrente percebido como sustentável".
  • "Caso a taxa de câmbio esteja 'fora do lugar', alguma dessas condições (ou ambas) não poderá ser atendida. Em particular, deveríamos observar uma piora nas condições do balanço de pagamentos ou uma queda acelerada das taxas de inflação de produtos não comercializáveis internacionalmente, ou ainda uma combinação desses dois fenômenos".
  • "O Brasil registra atualmente um superávit próximo a US$ 14 bilhões na conta corrente e as expectativas coletadas pelo BC acerca do saldo para 2007 sugerem manutenção daquele superávit em mais de 1% do PIB".
  • "Esse superávit, porém, poderia resultar de uma demanda doméstica muito fraca, que reprimisse as importações e forçasse certos setores a exportar mais por falta de mercado. Só que a demanda doméstica tem crescido bem (4% no ano passado), acima de sua média desde 1993 (2,4%). Consistente com isso, a inflação de não-comercializáveis tem oscilado desde meados de 2006 ao redor de 4%".
  • "A combinação de superávits expressivos em conta corrente com demanda doméstica se expandindo vigorosamente não sugere nada de fundamentalmente errado com a taxa de câmbio".

Use este link para obter a versão completa do artigo.

20.3.07

Trade off entre inflação e crescimento


O gráfico acima, extraído de artigo de Delfim Neto publicado na edição de hoje do Valor Economico, mostra a relação entre o crescimento do PIB e a taxa de inflação no Brasil, nos últimos dez anos. Foram utilizados dados do mesmo trimestre em anos consecutivos, de modo que se trata de taxas anuais, não sujeitas a variação estacional. As observações vão do quarto trimestre de 1996 até o quarto trimestre de 2006, excluído o período de turbulência da sucessão presidencial de 2002/03. A análise do gráfico, de acordo com o autor, sugere que:
  • "Todos os pontos se conformam dentro de uma elipse cujo eixo maior mede, grosseiramente, a relação entre crescimento do PIB e inflação. Esta relação existe, mas é relativamente tênue: o aumento de 1% no PIB anual tende a elevar em aproximadamente 0,25% a inflação anual".
  • "Há uma ampla variância: quando se fixa uma taxa de inflação, pode-se obter taxas de crescimento do PIBs que diferem entre si de 1% a 5%; quando se fixa a taxa de crescimento do PIB, pode-se obter taxas de inflação que diferem entre si de 1% a 4%".

Segundo Delfim Neto, a altura do eixo maior da elipse, que indica a taxa de inflação "esperada" para cada valor da taxa de crescimento do PIB, depende do nível da carga tributária, da relação dívida/PIB, do equilíbrio fiscal, da qualidade do ambiente de negócios, das reformas microeconômicas, particularmente do mercado de trabalho, do respeito à propriedade, da qualidade das instituições, do grau de competição etc. Melhoras nestas variáveis permitiriam à política monetária manter sob controle a taxa de inflação, sem ter que, para alcançar esse objetivo, comprometer o crescimento do PIB com uma taxa de juro real muito elevada.

17.3.07

Crescimento - o papel das instituições

Desde a publicação em 1992 do conhecido paper de Mankiw, Romer e Weil sugerindo que 80% da variação do produto por trabalhador entre os países são explicados por diferenças nas taxas de investimento em capital físico e humano, a questão da importância relativa da acumulação de fatores e das instituições passou a estar no centro do debate sobre os determinantes do crescimento econômico.

Eicher, Peñalosa e Teksoz, num paper recente, retomam esta questão, chegando através de diversos exercícios empíricos, a duas conclusões principais:
  • As instituições não têm efeito direto sobre o nível do produto por trabalhador - o que elas fazem é modificar o impacto dos estoques de fatores, ou seja, as elasticidades do produto em relação ao capital físico e humano.
  • Enquanto instituições melhores ampliam a contribuição do capital físico para o produto, o efeito contrário se observa para o capital humano - quanto melhores as instituições, menor o impacto do capital humano. As instituições importam mais para o crescimento nos países com baixo capital humano. A relação das instituições com o capital físico é de complementaridade, ao passo que com o capital humano é de substituição.

Autonomia do BC

Da coluna de Márcio Garcia, na edição do Valor Econômico de 16 de março:

"Embora nossa história desde 1994 não mostre nenhuma leniência por parte da autoridade monetária no controle da inflação, as expectativas inflacionárias de longo prazo ainda não estão estabilizadas em patamar reduzido. Para entender isso, basta que cada um se pergunte se aplicaria as próprias economias em títulos pré-fixados em reais de 30 anos. Supondo-se que ocorram a manutenção e o cumprimento das metas futuras de inflação, esses títulos proporcionariam um polpudo juro real. Apesar disso, acredito que a resposta seja negativa. Para mim, é. Mas ela é positiva na maioria dos países do mundo, mesmo com juros baixos. O título pré-fixado mais longo de nossa dívida interna vence em 2017, provando que ainda nos falta amadurecer quanto ao controle inflacionário. Para obter amadurecimento mais rápido, seria bom conceder ao Banco Central autonomia de direito para cumprir seu mandato fixado pelo regime de metas para a inflação. Tal garantia legal poderia ajudar a descartar de vez quaisquer dúvidas quanto ao fato de que não voltaremos a brincar com inflação alta".

Estudo de caso para alunos de microeconomia - foco da política anti-truste

Examinando a fusão de duas emissoras de rádio por satélite dos Estados Unidos, James Surowiecki, em artigo publicado na edição desta semana da New Yorker, comenta a "revolução intelectual" dos anos 70 que levou o foco da política anti-truste a se deslocar da "defesa da concorrência" para a "maximização do bem estar do consumidor".

Felicidade em U

Na coluna The Dismal Science, publicada em Slate, Joel Waldfogel mostra os resultados de uma pesquisa segundo a qual, nos Estados Unidos e na Europa, a felicidade (reportada) é relativamente alta no início da idade adulta, declina a partir daí e alcança seu nível mais baixo em torno dos 45 anos, aumentando, então, até a velhice.

O declínio da felicidade dos 16 aos 45 anos é maior do que aquele provocado por uma redução de renda de 50%. Em contrapartida, o aumento da felicidade observado entre os 45 e os 60 anos é mais forte do que o causado por uma duplicação da renda.

O tempo aparentemente remedia tudo.

12.3.07

Para melhorar a educação

Matéria na edição de hoje do Valor Economico discute se é preciso aumentar o gasto em educação como proporção do PIB ou se o problema principal da área está na ineficiência com que os recursos já disponíveis são empregados.

A seguir, dois pontos que me pareceram importantes:

  • "O Brasil não investe pouco em educação. Atualmente, os gastos chegam a 4,3% do PIB. É um percentual próximo de países como Canadá, Estados Unidos e Coréia do Sul que, segundo a OCDE, gastam, respectivamente, 5,2%, 4,8% e 4,3% do PIB com educação. Ter mais recursos não é a questão principal".
  • "Será difícil melhorar a qualidade do ensino se não forem modificados os instrumentos de contratação e avaliação de professores. A avaliação deveria ser feita em cada escola e não no município ou no Estado. Do contrário, os resultados podem camuflar problemas em algumas escolas. Além disso, seria importante premiar as escolas que vão bem, para incentivar alunos e professores".

Sobre o mesmo assunto (aumento de verbas x aumento de eficiência), ver esta postagem.

11.3.07

Estudo de caso para alunos de microeconomia - cartéis onde menos se espera?

Considerada como infração cometida em geral pelas grandes corporações, a colusão entre vendedores, segundo a Folha de São Paulo de hoje, ocorre também em setores "triviais".

Alguns exemplos mencionados pelo jornal:
  • "Em Porto de Galinhas - PE, os jangadeiros cobram o mesmo valor nos passeios. Um turista procurou a Secretaria de Direito Econômico (SDE) com uma foto da cobrança igual e registrou denúncia administrativa".
  • "O uso de uma mesma tabela com os preços das aulas práticas e teóricas levou o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) a condenar auto-escolas de Santos - SP por prática de cartel".
  • "Em outro caso investigado pela SDE, foi 'descoberto' um cartel entre as empresas de manutenção de taxímetros de São Paulo. Todas precisam de certificação do Instituto Nacional de Metrologia para funcionar, o que limita a oferta de manutenção no mercado. Quatro empresas teriam combinado entre si os preços de serviços e equipamentos".
  • "Ainda sem conclusão, corre um processo na SDE, a pedido do Ministério Público de São Paulo, contra a Associação de Funerárias de Atibaia. Há suspeita de que as empresas adotem venda casada: quem comprar um caixão deve levar uma coroa de flores".

Como todos estes parecem ser "mercados contestáveis", com barreiras baixas à entrada e saída, é, na verdade, duvidoso que a ação da autoridade responsável pela defesa da concorrência se justifique nestes casos.

Crescimento (falta de) - infraestrutura

O Banco Mundial divulgou recentemente um estudo sobre a revitalização do investimento em infra-estrutura no Brasil.

Abaixo algumas informações interessantes deste documento:
  • Um aumento de 1% do estoque de capital em infra-estrutura eleva a taxa de crescimento do PIB entre 0,5% e 0,6%.
  • Um aumento de 1% nos gastos com manutenção da infra-estrutura existente eleva a taxa de crescimento do PIB em 2,5%.
  • O investimento em infra-estrutura necessário para que o PIB brasileiro possa crescer a uma taxa de 5% ao ano nos próximos dez anos corresponde a 3,2% do PIB. Esse seria o nível de gasto requerido para atender o aumento da demanda e alcançar a cobertura universal dos serviços de eletricidade, telefonia, abastecimento de água e saneamento e para a manutenção dos ativos já existentes.

Antonio Ermírio de Moraes, em sua coluna na Folha de São Paulo de hoje, avalia a viabilidade de se alcançar esse volume de investimentos em infra-estrutura no Brasil:

"Isso só pode ser conseguido com uma forte participação do setor privado, porque o governo não tem recursos. Não faltam recursos ao setor privado, mas falta interesse porque a segurança jurídica é insuficiente e a burocracia é excessiva para que se entre em obras que demoram para ser concluídas e demoram mais ainda para apresentar resultado positivo".

10.3.07

Previsões

Milton Friedman disse uma vez que não se devia tentar prever mudanças de curto prazo na economia - segundo ele, "a performance dos economistas nisso justifica apenas a humildade".

Em artigo publicado no New York Times na semana passada, Daniel Gross discute a dificuldade em antecipar recessões nos Estados Unidos. De acordo com o artigo, nove das últimas cinco recessões americanas foram corretamente previstas pelos economistas.

Distribuição de lazer

De acordo com Steven Landsburg, em sua coluna Everyday Economics, publicada em Slate, as horas de lazer nos Estados Unidos, desde 1965, aumentaram bem mais para as pessoas na base da distribuição de renda do que para aquelas no topo. A conclusão politicamente incorreta que Landsburg extrai disso merece ser lida.

7.3.07

Crescimento (falta de) - abertura da economia (III)


  • Na sua coluna no Valor Economico de hoje, Cristiano Romero reproduz a tabela acima, extraída do recém-lançado livro de Fábio Giambiagi - "Brasil: Raízes do Atraso". A tabela mostra que o grau de proteção tarifária em diversos setores ainda é muito alto no Brasil, em comparação tanto com países desenvolvidos, como com países em desenvolvimento.
  • Romero reproduz também os três argumentos mais importantes em favor de uma redução do protecionismo, listados por Giambiagi em seu livro: (i) incorporação de novas tecnologias pela importação de máquinas e equipamentos; (ii) estímulo à concorrência e, em conseqüência, barateamento dos preços internos; (iii) aumento da produtividade total dos fatores - estudos empíricos mostram que a produtividade total está diretamente associada ao grau de abertura da economia
  • A conclusão de Giambiagi é que o Brasil não pode continuar esperando pelo avanço das negociações comerciais na OMC para promover uma nova rodada de abertura comercial.

4.3.07

Manias, pânicos e quebras

Em artigo publicado na edição de 1 de março do Valor Econômico, Aquiles Mosca explica as fortes oscilações que estão ocorrendo nos mercados de ações, mundo afora:
"Na semana passada, observamos um mercado financeiro global à beira do pânico, apesar de não ter havido alteração nos fundamentos que justificaram a alta sustentada ocorrida recentemente nos principais mercados de ativos de risco. Como se explica, então, o nervosismo e a queda?
Basicamente, o que observamos em momentos como esse - no qual há um evento extremamente raro e inesperado afetando o mercado -, é uma tendência à maioria dos agentes de inferir que a queda (realização) tende a continuar. Isso nada mais é do que tentar prever o futuro com base no passado, a chamada representatividade na teoria financeira comportamental.
Esse fator é acentuado pela ampla divulgação feita pela mídia sobre os estragos sofridos pelo mercado. A disseminação de um fato raro, porém amplamente divulgado, recebe a denominação de saliência e é o principal combustível para o contágio de outros mercados não diretamente relacionados às notícias negativas originais.
O ingrediente final para alimentar a realização refere-se à necessidade que os agentes têm de agir em conformidade com o grupo onde estão inseridos (se todos estão vendendo, tendemos também a vender). Errar em companhia da maioria é menos estressante. Já conviver com as consequências de um erro em virtude de um posicionamento oposto ao do grupo é um constrangimento que a maioria evita. Esse é o principal combustível do efeito manada, que tende a acentuar o efeito contágio.
Se há indícios de que um movimento de manada formou-se com base em um fato raro porém de ampla divulgação (saliência) e esse efeito magnificou a tendência natural que temos a inferir que o passado recente continuará se repetindo (representatividade), o melhor que um investidor que acredita na solidez do cenário pode fazer é assumir novas e maiores posições em ativos de risco. Mas agir de tal forma resultará em enorme desconforto, uma vez que a possibilidade de errar sozinho, ou seja, comprar ativos de risco no momento em que a manada está vendendo, pode criar um constrangimento com o qual a maioria dos gestores não está disposta a conviver, ainda que brevemente".

Premiar o trabalho

Abaixo, trecho da entrevista de Fábio Giambiagi, publicada na edição de hoje da Folha de São Paulo:
"A existência de programas assistenciais é a expressão de uma sociedade civilizada. O fato de eles existirem fala bem do Brasil. Agora, uma coisa é defender a existência dos programas, e outra é o que tem acontecido ao longo dos últimos 12 anos. Vamos tomar como referência a situação de duas pessoas: uma que já tivesse um benefício assistencial em 1994, da LOAS ou aposentadoria rural, e outra, um trabalhador que trabalha 10 ou 12 horas por dia, ganha seu dinheiro suado e paga todos os seus impostos desde 1994. A primeira pessoa, que recebe um benefício do Estado sem nunca ter contribuído para isso, tem hoje um poder aquisitivo mais de 100% superior ao que tinha em 1994. A outra pessoa, que sustenta o país, que faz o país crescer, tem hoje um poder aquisitivo inferior ao daquela época. Tendo isso em vista, deveríamos contemplar a possibilidade de desvincular o piso previdenciário do salário mínimo".

3.3.07

Mudanças de preços relativos - a "doença dos custos de Baumol"


Outra informação bastante interessante, contida no trabalho de Carvalho Filho e Chamon comentado nas duas últimas postagens, encontra-se resumida no gráfico acima, que mostra a evolução dos preços relativos de alguns grupos de bens e serviços no Brasil, no período 1980-2005.

O gráfico ilustra a chamada "doença dos custos de Baumol", a tendência ao aumento do preço relativo dos serviços, bem explicada em um artigo de James Surowiecki, publicado na coluna The Financial Page, da New Yorker.

(Clique com o mouse no gráfico, para melhor vizualização).

Lei de Engel


Adendo à postagem anterior: De acordo com a Lei de Engel, a participação do gasto com alimentação no orçamento das famílias declina com o nível de renda (ou despesa). O gráfico acima, extraído do trabalho de Carvalho Filho e Chamon, mostra a operação da Lei de Engel no caso brasileiro. As barras representam a participação percentual da alimentação no orçamento das famílias. Como se pode perceber, esta participação, num ano determinado, declina à medida que nos movemos dos decis de despesa inferiores para os superiores. Além disso, para um dado decil, declina ao longo do tempo.

Crescimento (falta de) - erro na conta?

Em um IMF Working Paper publicado em dezembro de 2006, Irineu de Carvalho Filho e Marcos Chamon sugerem que a estagnação da renda per capita no Brasil após as reformas liberais da década de 90 é um mito, motivado por vieses no Índice de Preços ao Consumidor (IPC) utilizado como deflator da renda.

Esses vieses no IPC teriam as seguintes explicações:
  • Novos bens costumam ser introduzidos na cesta utilizada para cálculo do IPC com grande defasagem, de modo que, quando os preços desses bens começam a ser acompanhados pelo instituto que calcula o índice, eles já se reduziram bastante, em relação ao nível em que se achavam quando o produto começou a ser comercializado. No caso específico, isso teria acontecido principalmente com os bens que passaram a ser importados após a abertura comercial.
  • O efeito substituição de mudanças de preços relativos, isto é, o fato de que os consumidores aumentam suas compras de bens cujo preço relativo se reduz e vice-versa, é ignorado no cômputo do IPC.
  • Melhoras na qualidade e durabilidade dos bens também não são levadas em conta naquele cálculo.
Outra fonte de erro seria a desconsideração do impacto sobre a renda das famílias mais pobres da grande redução do imposto inflacionário trazida pelo fim da hiperinflação.

Fazendo uso da Lei de Engel e de dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares, realizada pelo IBGE, os autores estimam o crescimento da renda real sugerido pela redução observada, ao longo do tempo, da parcela do gasto com alimentação no orçamento das famílias. A diferença entre esta estimativa e a medida convencional do crescimento da renda é tomada como o viés do Índice de Preços ao Consumidor.

Este viés teria sido da ordem de 3% ao ano, entre 1987 /88 e 2002 /03, o que significa que, se num dado ano a variação do IPC foi estimada em 10%, o aumento "verdadeiro" do índice teria sido de apenas 6,7%.

Mais ainda, o viés teria sido maior para as camadas de renda mais baixa, implicando que o método convencional subestima a renda real dos pobres mais do que a renda dos ricos.

Eliminado o viés do IPC, os autores concluem que:
  • a renda per capita domiciliar cresceu a uma taxa de 4,5% ao ano, nas áreas metropolitanas, entre 1987/88 e 2002/03, em lugar de apenas 1,5% ao ano, conforme sugerido pelo cálculo convencional.
  • a distribuição de renda melhorou significativamente neste período, com o coeficiente de Gini se reduzindo de 0,533, em1987/88, para 0,414, em 1995/96, e 0,398, em 2002/03, resultados que também diferem bastante daqueles obtidos a partir da medida convencional (0,533, 0,550 e 0,542, respectivamente).

Estudo de caso para alunos de microeconomia - prêmio da beleza

A beleza física é premiada em mais circunstâncias do que se imagina. Diversos estudos mostram que políticos "bonitos" têm mais chance de se eleger e que pessoas "feias" ganham menos em diversas atividades em que a aparência não deveria, por si só, importar. Existe uma correlação entre "beleza" e "produtividade"? Tim Harford apresenta alguns argumentos neste sentido, na sua coluna Undercover Economist desta semana.