30.8.10

Hausmann e a fantasia lulista

Trechos da entrevista de Ricardo Hausmann, publicada na edição de hoje da Folha de São Paulo:
  • "O principal problema com muitos países é que, quando as coisas começam a parecer bem, eles se tornam arrogantes. Passam a acreditar num mundo de fantasia. Só porque teve por um trimestre uma taxa de crescimento acima de 7%, o Brasil agora é a nova China e o Lula é um gênio das finanças, e todos os problemas anteriores não existem mais porque o Brasil é um país diferente. Há toda uma narrativa que tem sido criada por conta de alguns bons trimestres que pode levar a políticas macroeconômicas muito inconvenientes. Quando o Lula foi eleito, em 2002, houve uma crise econômica e ele foi muito cuidadoso. Agora, eles começaram a pensar que sabem mais e estão menos dispostos a serem cuidadosos. Estão se tornando mais ideológicos".
  • "Você tem uma política macroeconômica em que o BNDES tem o pé no acelerador e o Banco Central tem o pé no freio. Essa combinação deixa a SELIC muito alta em um período em que as taxas de juros globais estão muito baixas. Isso leva os investidores a pegar dinheiro emprestado em dólares, em ienes ou em euros para colocar no Brasil, o que gera uma forte apreciação da taxa de câmbio e a possibilidade de desindustrialização".
  • "A deterioração do déficit em conta-corrente indica que a expansão do gasto é mais rápida do que a expansão da produção. O efeito disso é apreciar a taxa de câmbio, desestimulando as atividades exportadoras, para liberar recursos produtivos para atender a esse boom temporário do consumo. Todas as indicações são de que as condições fiscais e a política financeira do setor público são excessivamente expansionistas. Isso vai causar prejuízo para as perspectivas de crescimento de longo prazo".
  • "Lula construiu um capital político enorme, mas esse capital político não se traduziu em nenhuma reforma significativa. Ele não tem nada a mostrar em termos de ter resolvido problemas antigos relacionados à baixa taxa de poupança, ao sistema de previdência, à infraestrutura, a ter uma estrutura tributária mais normal e funcional. Apesar do seu enorme capital político, ele não foi capaz de fazer nenhuma reforma significativa como as feitas pelo antecessor dele. E, recentemente, ele tem se movido na direção contrária. A grande sorte do presidente Lula foi ter tido um ótimo antecessor . O próximo presidente do Brasil não terá a mesma sorte".