24.5.08

Doença holandesa causou a grande divergência?


A tabela acima foi extraída de um NBER Working Paper de autoria de Jeffrey Williamson, publicado em março.

Os dados mostram a "grande divergência" de rendas per capita entre o centro (Europa Ocidental) e a periferia (Europa do Sul e Oriental, América Latina, Ásia e África) da economia mundial, no século XIX. A renda per capita na periferia correspondia, em média, a dois terços da renda per capita do centro em 1775. Em 1913, tinha se reduzido a um terço.

O que explica a "grande divergência"? De acordo com Williamson, não são os "fundamentos" (geografia, cultura, instituições), mas um choque nos termos de troca bastante favorável aos países da periferia, o qual induziu a especialização na oferta de produtos primários e a desindustrialização. Em outras palavras, a "grande divergência" teria sido um caso de "doença holandesa", agravada pela alta volatilidade dos preços dos produtos primários.

23.5.08

Erros de política econômica - Brasil (II)

Da coluna de Edward Amadeo, na edição de 14 de maio do Valor Econômico:
"No Brasil, chegará o dia em que nos perguntaremos se usamos da melhor forma a atual fase de vacas gordas. Por um lado, o governo Lula foi uma surpresa extraordinária pela prudência nas áreas fiscal e monetária. Por outro lado, o esforço do governo para aumentar a taxa de investimento não foi bem-sucedido. O investimento como porcentagem do PIB manteve-se praticamente inalterado em relação ao ano de 2001, quando da crise de energia. Iludidos com a preservação do superávit primário, analistas como eu viram no governo Lula uma alternativa ao velho populismo de esquerda latino-americano. Mas por trás do superávit se escondia a ausência de qualquer reforma relevante e um enorme aumento da arrecadação tributária inteiramente revertido em gastos com consumo e transferências. O Brasil, induzido pelo governo, consumiu boa parte das vacas gordas, em lugar de fazer uma política fiscal anti-cíclica. Foi privilegiado o consumo e a política fiscal pró-cíclica, sem melhora relevante do patamar de crescimento sustentável".

Erros de política econômica - Brasil (I)


Da coluna de Affonso Celso Pastore e Maria Cristina Pinotti, na edição de 19 de maio do Valor Econômico:

"O pacote de incentivos ao investimento anunciado pelo Ministro da Fazenda tem o objetivo de elevar a taxa de investimento de 17,6% do PIB para 21% do PIB. Será que o crescimento do investimento pode ser financiado pelo aumento da poupança doméstica, ou precisará do crescimento da poupança externa? O gráfico acima ajuda a entender o que se passará. Nele estão superpostos a taxa de investimento (escala da direita) e as exportações líquidas (escala da esquerda), que seguem de perto a conta corrente. Esta correlação inversa nos diz que aumentos da taxa de investimento não têm sido seguidos por aumentos correspondentes da poupança doméstica, precisando do complemento da poupança externa. Se o mesmo padrão histórico for mantido, uma elevação de 3,5% do PIB na taxa de investimento requer uma elevação no mínimo de 3,5% do PIB no déficit em conta corrente. Esta elevação pode ser sustentável ou não, mas o melhor seria que o governo fizesse um esforço de elevar a poupança doméstica com o corte de seus gastos de consumo, rompendo com o padrão histórico que está por trás do gráfico".

Erros de política econômica - Argentina (II)

Da coluna de Miriam Leitão, na edição de hoje de O Globo:
"Segundo Roberto Lavagna, ex-Ministro da Economia da Argentina, o maior erro do governo argentino foi a queda do superavit fiscal primário, de 4,5% para 2% do PIB. Isso é que alimentou a inflação, que está em 25%. A Argentina conseguiu evitar a valorização excessiva da moeda nacional, na época em que Lavagna era ministro, porque fez um grande superavit fiscal, que o Tesouro usava para comprar dolares. Hoje, o governo baixou o superavit e quem compra os dolares é o Banco Central, com emissão de moeda. Dessa forma, a política fiscal e a política monetária são expansionistas. Na prática, está havendo uma valorização do peso via inflação".

Erros de política econômica - Argentina (I)

Da coluna de Alexandre Schwartzman, na edição de 30 de abril da Folha de São Paulo:
"Qual a origem do problema inflacionário argentino? Simplesmente seu regime cambial e monetário. Na Argentina, o câmbio só 'flutua' para cima, graças à combinação das intervenções do Banco Central e da política de juros que apóia as intervenções garantindo que a taxa doméstica de juros não fique muito distante da taxa internacional, devidamente ajustada ao risco-país. No contexto de preços de commodities crescentes, este arranjo é a receita ideal para um enorme problema inflacionário. Por um lado, os preços de exportações em alta contaminam diretamente os preços domésticos. Por outro lado, como a melhora de preços de exportação implica apreciação da taxa real de câmbio, os preços dos produtos não-comercializáveis devem subir ainda mais, o que é possível graças à demanda doméstica, impulsionada por juros baixos. O resultado final é apreciação cambial por meio de inflação mais elevada, ao invés de apreciação da taxa nominal de câmbio".
O artigo pode ser acessado no blog de Schwartzman.

22.5.08

Altruísmo (III)

Martin Nowak e Karl Sigmund têm feito importantes contribuições para a teoria "econômica" do altruísmo.

Suas principais descobertas foram resumidas em dois artigos publicados em Scientific American - The arithmetics of mutual help e The economics of fair play.