28.2.07

Crescimento (falta de) - "dividendo demográfico"


  • O gráfico acima mostra a evolução da relação entre população em idade ativa (15 a 64 anos) e não ativa no Brasil, no período 1950-2005, assim como o valor predito para esta relação até 2050 (estimativa intermediária). A fonte dos dados é o Programa de População das Nações Unidas.
  • A razão entre a PIA e a população em idade não ativa se reduziu de 1,25 em 1950 para 1,12 em 1965 e começou a aumentar a partir daí, chegando a 1,96 em 2005. Seu pico, no valor de 2,04, será alcançado em 2020. Deste ponto em diante, esta razão deve declinar, reduzindo-se a 1,69, em 2050.
  • Tendo em vista a virtual estagnação da renda per capita observada desde 1980, é possível dizer que o Brasil, ao contrário dos países do Sudeste Asiático e da Irlanda, casos discutidos no artigo de Malcolm Gladwell já mencionado, não tirou proveito do "dividendo demográfico" para acelerar sua taxa de crescimento.
  • A origem do "dividendo demográfico" foi explicada em postagem anterior.

Paternalismo libertário ou Estado-babá? (II)

A evidência reunida pelas pesquisas da economia comportamental com relação às dificuldades cognitivas que as pessoas enfrentam e as limitações decorrentes para o comportamento estritamente racional induziu vários pesquisadores a questionar a tradicional hostilidade da teoria econômica com relação ao "paternalismo", sugerindo que a intervenção do estado, em diversas circunstâncias, poderia levar a um aumento do bem estar.

Edward Glaeser, em artigo publicado na revista Regulation, editada pelo Cato Institute, argumenta na direção contrária. Segundo ele, falhas de cognição deveriam nos tornar mais desconfiados, e não menos, com relação à tomada de decisões pelo governo.

O artigo é um bom complemento ao podcast com Glaeser sobre o mesmo assunto, disponível em EconTalk e mencionado em uma postagem anterior.

27.2.07

Tendências da criminalidade em São Paulo

Um editorial da Folha de São Paulo de hoje examina a evolução recente da taxa de homicídios no Estado de São Paulo:
"A redução dos índices de homicídios em território paulista tornou-se tendência. Em 1999, pico de homicídios, foram 12.818 mortes (ou 35 para cada grupo de 100 mil habitantes). No ano passado, o número bruto e a taxa de assassinatos já haviam caído mais de 50%. Foram 6.164 óbitos (15 para cada 100 mil paulistas). Essa evolução favorável não deve servir de desculpa para as autoridades baixarem a guarda. A quantidade, relativa e absoluta, de homicídios ainda é inaceitável. Há evidências, ademais, de que a geografia do crime vai se alterando. A violência se torna mais pronunciada nas franjas dos grandes centros urbanos e no interior. São em geral regiões que foram alvo de forte adensamento populacional recente - apresentam nível elevado de desagregação social e menor presença de serviços públicos. Ações bem-sucedidas nesses casos indicam que a prevenção de assassinatos inclui apreensão maciça de armas, fechamento de bares e elucidação rápida dos crimes".

Crescimento (falta de) - carga tributária (III)


Da coluna de Delfim Neto, na edição de hoje do Valor Economico:

"O gráfico acima registra no eixo horizontal o nível do PIB per capita (em dólares de paridade do poder de compra) e no eixo vertical, a carga tributária bruta/PIB. Ele está dividido em quatro quadrantes, determinados pelo PIB per capita de US$ 10 mil (o nosso é da ordem de US$ 8.200) e pela carga tributária bruta/PIB de 30% (o limite superior para países emergentes). Vemos o Brasil isolado no primeiro quadrante, com um crescimento médio de 2,4% ao ano. Os pequenos círculos em cada quadrante mostram o crescimento médio, no período, dos países contidos em cada um deles. Todos crescem mais do que o Brasil!"

Fontes: IMD World Competitiveness Yearbook - Idéias Consultoria

* taxa de crescimento do PIB em 2003-2005

26.2.07

Crescimento (falta de) - as importações reduzem a taxa de crescimento?


Em vários artigos publicados recentemente na imprensa diária, alguns economistas e jornalistas econômicos alegaram que o aumento das importações brasileiras ocorrido em 2006, cuja causa seria a "excessiva" valorização do real, teria contribuído para reduzir a taxa de crescimento do PIB. Em sua coluna de hoje no Valor Economico, Affonso Celso Pastore e Maria Cristina Pinotti mostram porque esta é uma tese equivocada.
  • "As importações de bens de produção mais baratos e com um conteúdo tecnológico mais avançado ajudam a baratear o custo do capital e a elevar a produtividade. As importações de matérias-primas reduzem os custos dos produtos exportados e vendidos no mercado doméstico. As exportações, a produção e o bem estar da população, em consequência, se elevam".

  • "O aumento das importações contrai a demanda agregada e o Banco Central reage a isto baixando a taxa real de juros. O gráfico compara as exportações líquidas com a soma do consumo das famílias e a formação bruta de capital fixo, medidos com relação ao PIB (somamos consumo e investimentos porque o comportamento isolado de cada uma destas variáveis é igual ao da sua soma). Fica claro que um aumento nas exportações líquidas tem como contrapartida uma queda no consumo e no investimento - assim, retarda, em vez de acelerar, a acumulação de capital e o crescimento da economia. Para que um país aumente as exportações líquidas sem provocar uma redução na formação bruta de capital fixo é preciso que o governo corte seus gastos, hipótese muito distante da atual realidade brasileira".

  • "O Brasil ainda tem um grau muito elevado de protecionismo. O país ganharia se as importações fossem estimuladas através de uma baixa adicional das barreiras tarifárias e não tarifárias. A redução de tarifas deveria preferencialmente (mas não exclusivamente) atingir bens de capital e matérias primas, baixando o custo do capital. Além de permitir a redução da taxa de juros real, a queda das barreiras comerciais reduziria a tendência à valorização do real".

Desestímulo ao emprego formal

Do editorial "Premiar o trabalho", na edição de hoje da Folha de São Paulo:
"Desde o retorno à democracia, na segunda metade da década de 80, proliferam, nas três esferas de governo, programas destinados a elevar o poder de compra dos mais pobres mediante intervenção direta do Estado. O espírito do pacto democrático, num país cindido por drástica desigualdade, explica e justifica a opção tomada. A expansão desordenada desses programas sociais e a necessidade de ampliar a margem de políticas que promovam o emprego, no entanto, exigem revisão de procedimentos. Os princípios de justiça social, recompensa pelo esforço individual e equilíbrio das finanças públicas precisam ser harmonizados.
A aposentadoria especial do setor rural contém mecanismos de desestímulo à atividade profissional. Um lavrador com um dia de trabalho registrado na carteira tem de esperar até os 65 anos para aposentar-se. Se não tiver registro nenhum, ganha direito a um salário mínimo por mês ao completar 60. Muitos trabalhadores, obviamente, fogem do emprego formal para não perder o privilégio. Para estimular o trabalho formal, o sistema não pode continuar operando nos moldes atuais. O trabalhador rural deveria buscar o emprego com registro na expectativa de ampliar direitos e rendimentos não apenas no presente mas também após a aposentadoria. Pagar os mesmos R$ 350 a quem contribuiu e a quem nunca o fez é oferecer um bônus à informalidade e à inatividade".
(A respeito, ver também esta postagem).

25.2.07

Redução da criminalidade - evidência para os Estados Unidos e implicações de política para o Brasil

Em sua coluna na Folha de São Paulo de hoje, Alexandre Scheinkman apresenta a evidência empírica relativa aos efeitos de penas maiores sobre a criminalidade juvenil nos Estados Unidos, discutindo as implicações decorrentes de tal evidência para a política de combate ao crime no Brasil.

Juventude e criminalidade - a evidência relativa aos Estados Unidos
  • "O crime violento é uma atividade de jovens. No final do século 20, os jovens entre 15 e 19 anos totalizavam 7% da população dos Estados Unidos, mas constituíam 20% dos acusados por crimes violentos".
  • "A punição por crimes violentos nos Estados Unidos é determinada por legislação de âmbito estadual. Há estados em que os menores de 18 anos recebem penas muito mais suaves do que os adultos, enquanto em outros estados não há praticamente diferença".
  • "Em cada um desses dois grupos de estados, os adolescentes de 15 anos cometem em média 30% menos crimes violentos dos que os de 16 anos e os jovens de 16 anos cometem 20% menos crimes violentos do que aqueles com 17 anos. Essa é a progressão usual do crime durante a adolescência".
  • "Há, no entanto, uma grande diferença entre os dois grupos de estados quando se compara o grau de criminalidade entre os jovens de 17 e de 18 anos. Nos estados em que o tratamento aos menores é leniente em comparação com o tratamento aos adultos, os adolescentes de 17 anos cometem crimes na mesma proporção daqueles com 18 anos, enquanto onde o tratamento de menores é mais severo os jovens com 17 anos cometem 20% menos crimes do que os seus correspondentes com 18 anos".
Implicações para a política de redução da criminalidade no Brasil
  • "Estudos empíricos mostram que a criminalidade é maior nos países com mais desigualdade. O aumento da escolaridade entre os jovens do sexo masculino está associado a uma menor probabilidade de participação em atividades criminais. A educação pré-escolar parece contribuir para a redução da taxa de criminalidade. Diminuir a criminalidade é, portanto, mais uma razão para políticas focadas em melhorar o futuro dos mais pobres. Os efeitos de uma melhor política social serão, porém, sentidos principalmente no longo prazo".
  • "Há documentação empírica de que o criminoso adolescente no Brasil, como nos Estados Unidos, responde a um aumento na probabilidade de apreensão e ao tipo de pena a que está sujeito. A redução da violência e da criminalidade, no curto prazo, exige uma mudança no tratamento do infrator adolescente no nosso sistema judicial. A questão da idade de maioridade é de certa forma secundária. O que é preciso fazer é criar punições adequadas e aumentar substancialmente as chances de apreensão e encarceramento dos menores que cometerem um crime violento".

24.2.07

Aumento do prêmio pela qualificação nos países em desenvolvimento

O diferencial de salários entre trabalhadores qualificados e não qualificados, o chamado prêmio pela qualificação (skill premium), aumentou, entre a segunda metade da década de 80 e o final dos anos 90, em vários países em desenvolvimento - Argentina, Brasil, Colombia, México e Índia, por exemplo.

Pinelopi Goldberg e Nina Pavcnik examinam as principais explicações que têm sido propostas para o aumento do skill premium, em um paper do National Bureau of Economic Research publicado neste mês de fevereiro.

De acordo com as autoras, tanto o salário relativo como o emprego relativo dos trabalhadores qualificados tenderam a se elevar naqueles países, de modo que o aumento do prêmio pela qualificação parece ter se devido a um crescimento da demanda por trabalho qualificado.

As explicações sugeridas na literatura para este aumento de demanda são:

Abertura comercial

  • A abertura comercial levou a um aumento da demanda por recursos naturais, que são o fator de produção abundante em alguns daqueles países. Dada a complementaridade entre recursos naturais e trabalho qualificado, a demanda por este último fator também aumentou.
  • Como os setores intensivos em trabalho não qualificado eram relativamente mais protegidos antes da abertura comercial, esta afetou mais fortemente aqueles setores, levando a uma redução da demanda e da remuneração relativas do trabalho não qualificado.
  • A integração da China, Indonésia, Índia, Paquistão e de outros países de baixa renda ao mercado mundial deslocou o padrão de vantagem comparativa dos países de renda média (como Argentina, Brasil, Colombia e México) para bens intensivos em trabalho de qualificação média.
  • A abertura comercial induz um aumento da "qualidade" dos produtos oferecidos pelas firmas domésticas - reação à competição dos produtos importados de menor qualidade e mais baratos ou consequência do aumento das exportações. Este aumento da "qualidade" dos produtos leva a aumento da demanda por trabalho qualificado.
Outsorcing

  • A redução dos custos de transporte e comunicações viabilizou a internacionalização das cadeias produtivas de vários bens, deslocando para países em desenvolvimento etapas da produção destes bens que, embora intensivas em trabalho não qualificado do ponto de vista dos países desenvolvidos, são intensivas em trabalho qualificado na perspectiva dos países em desenvolvimento. Assim, a produção se tornou, em média, mais intensiva em trabalho qualificado e o skill premium aumentou em ambos os grupos de países.
Abertura dos mercados de capitais

  • A liberalização dos mercados de capitais levou a maiores fluxos de capital para os países em desenvolvimento e, dada a complementaridade entre capital e trabalho qualificado, a um aumento da demanda e da remuneração relativas deste tipo de trabalho.

Viés no progresso tecnológico

  • O progresso tecnológico possui um viés favorável ao trabalho qualificado.

Interação entre abertura comercial e viés no progresso tecnológico

  • As firmas nos países em desenvolvimento respondem à abertura comercial com "inovações defensivas", ou seja, adotando novas tecnologias que, dado o viés do progresso técnico, são intensivas em trabalho qualificado.
  • A abertura comercial induz o aumento da importação de máquinas e equipamentos que são complementares com o trabalho qualificado, induzindo o aumento da demanda por este tipo de trabalho.

Modernização da economia

  • As mudanças introduzidas nas economias em desenvolvimento pelas reformas liberais, resultando em competição mais acirrada no mercado doméstico, maior integração à economia mundial, modernização do aparato produtivo e institucional etc., levaram a um maior procura por técnicos, profissionais e gerentes, elevando a remuneração destas ocupações.

23.2.07

Como reduzir a criminalidade

Na sua coluna de hoje no Valor Econômico, Naércio Menezes discute medidas para reduzir a criminalidade no Brasil. Abaixo, alguns pontos do artigo.

Como reduzir a criminalidade em geral

  • "A criminalidade é mais alta no Brasil do que em outros países com mesmo nível de desenvolvimento".
  • "A evidência empírica indica que os países com maiores índices de criminalidade são aqueles com maior desigualdade de renda, com menor nível educacional de sua população e com menores taxas de crescimento econômico recente. Além disto, quanto maior for a probabilidade de captura e mais rigorosa for a punição que o criminoso capturado sofrer, menores tenderão a ser as taxas de criminalidade".
  • "O que fazer, então, para reduzir a criminalidade? A longo prazo, diminuir a desigualdade de renda e aumentar o nível educacional da população. No curto prazo, aumentar o policiamento, para aumentar a probabilidade de captura, e ampliar as penas para crimes mais graves".

Como reduzir a criminalidade juvenil

  • "Se acreditarmos na racionalidade individual, o jovem que está na iminência de se engajar na carreira criminosa pesa os custos e benefícios desta alternativa com relação a continuar na situação legal. Vários estudos empíricos mostram que os jovens realmente comportam-se dessa forma".
  • "Para impedir que esses jovens ingressem na criminalidade, o Estado teria que não somente aumentar os custos associados à carreira criminal, como também aumentar a atratividade da 'carreira legal'. O jovem pobre tem que sentir que, ao continuar freqüentando a escola para depois ingressar no mercado de trabalho, terá perspectivas de melhora no seu padrão de vida. Para isto, os estados deveriam melhorar a qualidade do ensino nas escolas públicas, aumentando a atratividade da escola e a probabilidade de inserção do jovem pobre em uma profissão melhor remunerada".
  • "Atualmente, o programa Bolsa Família só concede recursos para as famílias com crianças até 14 anos. Mas é justamente a partir dessa idade que a evasão escolar começa a aumentar, assim como as tentações de ingresso na carreira criminal. Os governos estaduais deveriam investir em programas de transferência de renda para os jovens em idade escolar e cobrar a freqüência escolar destes jovens. Além disto, o envolvimento em atividades ilícitas deveria resultar em imediato cancelamento da bolsa".

Crescimento (falta de) - abertura da economia (II)

Embora o nível de proteção tarifária à produção de bens manufaturados no Brasil tenha se reduzido desde 1990, essa proteção ainda continua alta em termos comparativos, como mostram os dados abaixo, citados hoje em editorial da Folha de São Paulo.

Tarifas médias efetivamente praticadas sobre a
importação de bens não agrícolas (em %)

México - 17,1 (2003)
Brasil - 12,7 (2004)
Chile - 5,9 (2003)
União Européia - 4,0 (2005)
Estados Unidos - 3,3 (2004)

Fonte: OMC

* em parenteses, ano a que se refere a informação.

Sobre o grau de abertura da economia brasileira, ver também informações postadas anteriormente relativas a importações e corrente de comércio como proporção do PIB.

22.2.07

Desconcentração espacial da produção (III)

A coluna de Vinicius Torres Freire, na edição de hoje da Folha de São Paulo, traz informações sobre a evolução do mercado de trabalho no Brasil entre 1992 e 2005, extraídas de trabalho de Lauro Ramos, do IPEA.
  • "O número de ocupados no 'interior urbano' cresceu mais que nas 12 maiores regiões metropolitanas (49% a 41%), naquele período. O emprego industrial cresceu quase só no 'interior urbano' (44%, contra 7% nas metrópoles). A informalidade caiu no interior e subiu nas metrópoles".
  • "Ainda inferior ao metropolitano, o salário no 'interior urbano' cresceu mais rápido - o rendimento médio mensal do trabalho passou de R$ 964, em 1993, para R$ 977, em 2005, nas metropoles, enquanto no interior, subiu de R$ 514 para R$ 611".
  • "Empregos e empresas foram para o interior principalmente para cortar custos: à procura de salários menores, menos sindicatos, menos confusão urbana, instalações mais baratas, descontos de impostos etc. Também, devido à melhora na distribuição de educação".
  • "Qual o estopim da mudança de endereço do emprego? A abertura comercial, uma década depois, promoveu uma redistribuição das empresas mais produtivas pelo país, onda em parte reforçada pelo sucesso do agronegócio".

Outras informações sobre a desconcentração espacial da produção no Brasil podem ser encontradas em duas postagens anteriores - de 11/12/06 e 14/12/06.

21.2.07

Credibilidade do regime de metas de inflação

O Banco Central divulgou um estudo, comentado na edição de hoje do Valor Econômico, mostrando que, ao longo do tempo, as expectativas de inflação no Brasil ficaram cada vez mais ancoradas na meta de inflação.

Segundo o estudo, esta ancoragem hoje é tal que, se a meta de um ano para outro for 1 ponto percentual menor, a inflação esperada cai 0,77 ponto percentual. O peso da inflação corrente é menos importante: uma alta de 1 ponto na inflação corrente leva a um aumento de 0,2 ponto percentual na expectativa de inflação. No caso do câmbio, uma variação de 1 ponto percentual leva a uma variação de 0,06 ponto percentual na expectativa.

O aumento da credibilidade do regime de metas de inflação é um fato indiscutível. A esse respeito e tendo em vista a oposição que a política monetária ainda sofre de alguns setores (dentro e fora da coalizão política dominante), vale citar Robert Barro:
"Credibility is not a gift - it has to be earned. It is built up one step at a time and supported by facts and by consistency. Even more, credibility is never owned; it is rented, because it can be taken away at any time".

19.2.07

Os trabalhadores ganham com a "globalização"?

Robert Feenstra resumiu a evidência disponível relativa aos impactos da "globalização" sobre o emprego e renda de trabalhadores qualificados e não qualificados nos Estados Unidos, Canadá, México e Europa, em palestra proferida no Vienna Institute for International Economic Studies, em 8 de fevereiro deste ano.

A principal conclusão é que a "globalização" - ou seja, processos como a criação do NAFTA e a ampliação da União Européia e fenômenos como outsourcing e a imigração para os Estados Unidos:

(i) não tem levado a perdas para os trabalhadores, em geral.

(ii) tem proporcionado ganhos de renda diretos para algumas categorias específicas (por exemplo, os trabalhadores qualificados empregados nas maquiladoras mexicanas).

(iii) tem produzido ganhos indiretos de renda para todas as categorias de trabalhadores, via reduções de preços relacionadas a aumentos de produtividade e diminuição de mark ups.

(iv) também tem proporcionado ganhos significativos de bem estar, via aumento da variedade de produtos disponíveis.

18.2.07

Nafta e imigração ilegal

Um dos propalados objetivos do NAFTA (Tratado de Livre Comércio da América do Norte) era resolver o problema da imigração ilegal de mexicanos para os Estados Unidos. Louis Uchitelle explica, em artigo publicado hoje no New York Times, porque isso não aconteceu.

Estudo de caso para alunos de microeconomia - preços do minibar

Na sua coluna The Undercover Economist, publicada em Slate, Tim Harford discute esta semana alguns exemplos de tarifas em duas partes (diárias de hotel + serviços de minibar, telefonia, internet etc.; impressoras + cartuchos de tinta; barbeadores + lâminas de barbear) e comenta o artigo de Xavier Gabaix e David Laibson, que já tinha sido objeto de uma outra postagem.

Crescimento e dividendo demográfico

David Bloom e David Canning, no artigo citado em uma postagem anterior, descrevem como o crescimento econômico pode se beneficiar do chamado 'dividendo demográfico':

"No ponto de partida, a redução na mortalidade infantil produz um baby boom e, assim, mais adiante, leva a uma coorte maior de pessoas em idade de trabalhar. A redução subsequente na fecundidade diminui a taxa de dependência. A oferta de trabalho per capita aumenta com a chegada da grande coorte do baby boom à idade de trabalhar e com o aumento da participação feminina na força de trabalho tipicamente associado à queda da fecundidade. A grande coorte do baby boom poupa para a aposentadoria, talvez mais do que antes devido à sua maior expectativa de vida, gerando recursos potenciais para o investimento. A perspectiva de uma vida mais longa pode também estimular investimentos em educação.

Mas o potencial deste 'dividendo demográfico' nem sempre é realizado - o crescimento econômico não resulta automaticamente de mudanças na estrutura etária da população. A América Latina tem uma história demográfica similar à do Leste Asiático, mas esta última região experimentou um rápido crescimento enquanto a América Latina estagnou por um longo período.

Sem políticas apropriadas, a oferta extra de trabalho relacionada com o 'dividendo demográfico' pode resultar em desemprego ou subemprego, levando a instabilidade política, taxas elevadas de criminalidade e deterioração do capital social".

17.2.07

Paternalismo libertário ou Estado-babá? (I)

A economia comportamental pretende ter mostrado, através de vários experimentos, que as pessoas não agem sempre de maneira inteiramente racional e, por isso, podem tomar decisões que contrariam seu próprio interesse e reduzem seu bem estar presente ou futuro. Uma recomendação de política seria a criação pelo governo de programas destinados a tornar mais fácil para as pessoas chegarem às decisões que maximizam seu bem estar - o chamado "paternalismo libertário".

Estas questões são discutidas no artigo Can behavioral economics save us from ourselves?, publicado na edição de fevereiro de 2005 de The University of Chicago Magazine, a revista da associação de ex-alunos da Universidade de Chicago.

Os interessados no debate sobre o "paternalismo libertário" (que, para os críticos, não passa da defesa, com novos argumentos, da velha idéia do "Estado-babá") devem também ouvir as entrevistas com Richard Thaler e Edward Glaeser, disponíveis em EconTalk.

16.2.07

Desvalorização salarial (II)

Da coluna de Márcio Garcia, na edição de hoje do Valor Econômico:
"A depreciação do dólar frente ao real causa problemas para diversos setores menos competitivos da nossa indústria. Uma forma de entender a economia deste processo é pensar que câmbio pode ser interpretado como o inverso do salário: quanto mais baixo estiver o dólar, mais alto estarão os salários dos trabalhadores brasileiros em dólar. A boa notícia que a apreciação do real representou para os trabalhadores brasileiros é a contra face das dificuldades que os exportadores de produtos industriais intensivos em mão-de-obra vêm sofrendo. Este é um ponto importante que não pode ser omitido em discussões sobre a taxa de câmbio: um câmbio superdepreciado como o chinês, se factível, viria necessariamente acompanhado de um salário mais baixo. Pode-se argüir que é melhor ter emprego alto com salário baixo do que emprego baixo com salário alto, mas não existe a possibilidade de ficar com o melhor de cada situação, como muitas propostas propagandeiam".
Sobre o mesmo tema, ver esta postagem anterior.

14.2.07

Crescimento e taxa de dependência

Abaixo trecho de um artigo de Malcolm Gladwell, publicado na New Yorker - edição de 28 de agosto de 2006, discutindo a relação entre demografia (taxa de dependência) e crescimento econômico.

De acordo com Gladwell, reduções na taxa de dependência explicam em parte os milagres econômicos irlandês e asiático, assim como a elevada taxa de dependência é um fator crítico na determinação do desastre africano.


Irlanda

"Nas últimas duas décadas, a economia da Irlanda, que era uma das mais atrasadas da Europa Ocidental, passou a ser uma das mais fortes: sua taxa de crescimento tem sido praticamente o dobro daquela do restante da Europa".

"Não há falta de explicações. A Irlanda aderiu à União Européia. Abriu seus mercados. Investiu bem em educação e na infra-estrutura econômica. É um país politicamente estável com uma força de trabalho sofisticada e móvel".

"David Bloom e David Canning, economistas de Harvard, sugerem, porém, em seu estudo do 'tigre celta', que um fato demográfico singular pode ter sido da maior importância".

"Em 1979, restrições com relação à contracepção que existiam desde a criação da Irlanda foram levantadas e a taxa de natalidade começou a declinar. Em 1970, a irlandesa média tinha 3,9 filhos. Em meados dos anos 90 esse número tinha se reduzido a menos de 2".

"Como resultado, quando as crianças irlandesas nascidas na década de 60 se integraram à força de trabalho, não havia muitas crianças nas gerações logo atrás delas. A Irlanda se viu repentinamente livre do enorme custo social de assistir, educar e cuidar de uma grande população dependente".

"Esta relação entre o número de pessoas que não têm e que têm idade para trabalhar é captada pela taxa de dependência. Na Irlanda, na década de 60, quando a contracepção era ilegal, havia dez pessoas muito velhas ou muito novas para trabalhar para cada 14 pessoas em condições de ter um contracheque. Isso significava que o país estava gastando uma grande percentagem dos seus recursos na assistência aos jovens e aos velhos. Em 2005, a taxa de dependência da Irlanda alcançou um recorde de baixa: para cada dez dependentes, o país tinha vinte e duas pessoas em idade de trabalhar. Essa mudança coincide exatamente com o extraordinário surto econômico do país".


Ásia Oriental e Índia

"Os demógrafos estimam que quedas nas taxas de dependência são responsáveis por cerca de um terço do milagre econômico na Ásia Oriental no período do pós-guerra; esta é uma região do mundo que, no curso de vinte e cinco anos, viu sua taxa de dependência declinar trinta e cinco por cento".

"Taxas de dependência podem também ajudar a responder a muito discutida questão de qual dos dois países – a Índia ou a China - tem um futuro econômico mais brilhante. Nos anos 60, a China reduziu sua taxa de natalidade dramaticamente. A Índia, por outro lado, reduziu sua taxa de natalidade mais devagar – seus melhores anos ainda estão por vir".

"A lógica das taxas de dependência opera obviamente de maneira igualmente poderosa na direção inversa. Se uma economia se beneficia de ter uma grande parcela de pessoas em idade de trabalhar, ela enfrentará tempos difíceis quando aquela grande parcela de pessoas se aposentar e houver relativamente poucos trabalhadores para ocupar o seu lugar".

"Para a China, as próximas décadas serão mais difíceis. 'A China vai alcançar um pico com uma taxa de dependência de 1 para 2,6 pessoas entre 2010 e 2015', diz Bloom. 'Mas então voltará para um pouco acima de 1 para 1,5 por volta de 2050. Esta é uma mudança bastante dramática. Trinta por cento da população chinesa terão mais de 60 anos em 2050, o que corresponde a quatrocentos e trinta e dois milhões de pessoas'. Os demógrafos às vezes dizem que a China se encontra numa corrida para ficar rica antes de ficar velha".


África

"Os economistas há muito tempo dão atenção ao crescimento populacional, argumentando ora que ter um grande número de pessoas em um país é uma coisa boa (estimulando a inovação), ora que é uma coisa ruim (levando ao esgotamento de recursos escassos). Mas uma análise das taxas de dependência nos diz que o que é crítico não é apenas o crescimento da população, mas sua estrutura".

“ 'A introdução da questão demográfica reduziu a necessidade de se recorrer ao argumento de que há algo de excepcional com relação à Ásia Oriental ou de idiossincrático com respeito à África', Bloom e Canning escrevem em seu estudo do milagre irlandês. 'Uma vez que a dinâmica da estrutura etária é introduzida no modelo de crescimento econômico, estas regiões se acham mais próximas de obedecer a princípios comuns de crescimento econômico' ".

"Este ponto é importante. As pessoas falam sem parar sobre as deficiências políticas, sociais e econômicas da África e simultaneamente de algum ingrediente cultural mágico possuído pela Coréia do Sul, Japão ou Taiwan que os levou ao sucesso".

"Mas a verdade é que a África Sub-Sahariana está presa numa debilitante taxa de dependência de 1 para 1 por décadas e esta proporção de dependentes frustraria ou complicaria o desenvolvimento econômico em qualquer lugar. A Ásia tem visto, enquanto isso, sua carga demográfica se tornar extraordinariamente mais leve nos últimos anos".


Conclusão

"Conseguir uma taxa de dependência de 1 para 2,5 não torna o sucesso econômico inevitável, mas, dada uma infra-estrutura econômica e política razoavelmente funcional, certamente torna o sucesso muito mais fácil".

(O artigo de David Bloom e David Canning citado por Gladwell pode ser encontrado neste link).

Crescimento (falta de) - contabilidade do crescimento no Brasil

No artigo mencionado em uma postagem anterior, José Ronaldo de Castro Souza Jr., do IPEA, estima as taxas de crescimento do capital, da força de trabalho e da produtividade total dos fatores na economia brasileira, durante o período compreendido entre o primeiro trimestre de 1992 e o terceiro trimestre de 2006, assim como as contribuições relativas desses três fatores para a taxa de crescimento do PIB de 2,71%, observada naquele período.

Os resultados obtidos foram os seguintes:

Taxas de crescimento - em %
Capital - 2,72%
Trabalho - 1,86%
PTF - 0,43%
PIB - 2,72%

Contribuição para a taxa de
crescimento do PIB - em %
Capital - 48,0%
Trabalho - 36,2%
PTF - 15,9%
Total - 100%

Como se vê, o crescimento do PIB brasileiro neste período ainda dependeu principalmente da acumulação de fatores de produção, com o aumento da PTF respondendo por uma parcela pequena (cerca de 16%) da taxa de crescimento observada.

Ajuste fiscal e crescimento (na Irlanda)


Em artigo publicado na edição do Valor Econômico de hoje, Samuel Kinoshita e Patricia Stefani discutem a relação entre ajuste fiscal e crescimento econômico na Irlanda:
  • "Após mais de uma década de políticas expansionistas, a situação fiscal irlandesa no início dos anos 80 era crítica. A primeira saída encontrada pelo governo foi o aumento da taxação. Ainda que essa medida tenha surtido efeito momentâneo, reduzindo o déficit primário pela metade, a relação dívida/PIB continuava a subir, atingindo 116%, em 1986".

  • "Não dispondo mais do recurso da elevação da taxação ou do aumento da dívida, os irlandeses poderiam, em princípio, gerar inflação e recolher o imposto inflacionário, mas essa opção não estava à disposição dos governantes: o país fazia parte do Sistema Monetário Europeu e havia logrado a diminuição de sua taxa de inflação de 19,6% em 1981 para 4,6% em 1986".

  • "Sem outros instrumentos, o governo irlandês foi conduzido ao ajuste fiscal. Aproximadamente 10 mil funcionários públicos foram demitidos (em uma população de 3,5 milhões de habitantes) e os gastos por área sofreram grandes cortes: 6% na Saúde, 7% na Educação, 18% na Agricultura e 7% nos gastos militares. O gasto do governo (excluindo juros) caiu de 55 % do PIB em 1985 para 41% em 1990".

  • "O corte de gastos precedeu o vigoroso aumento do produto. Com a situação monetária bem resolvida, o aumento da credibilidade de sua trajetória fiscal, obtido no ano de 1992 em Maastricht, entre outras medidas, e uma população educada e nativa na língua inglesa, o 'mercado' não tardou a aumentar seus investimentos no país. A Irlanda pôde gozar de taxas de crescimento espantosas. Em termos per capita já é mais rica que a Inglaterra e a Alemanha".

Mercados de predições

David Leonhardt descreve o funcionamento dos mercados de predições, em artigo publicado na coluna Economix, do New York Times de ontem.

No artigo, N. Mankiw explica como estes mercados funcionam:
"Cada pessoa possui informação sobre o seu próprio cantinho do universo e gostaria de ter informações sobre todos os outros cantos. O que estes mercados fazem é proporcionar um veículo que reflete toda esta informação".
Mercados de predições foram considerados por James Surowiecki como um dos meios de se ter acesso à "sabedoria das multidões", no livro, já traduzido para o português, que tem este título.

13.2.07

Crescimento (falta de) - investimento (I)


O gráfico acima, extraído de artigo de José Ronaldo de Castro Souza Jr., publicado no Boletim de Conjuntura do IPEA no. 75, mostra a evolução da taxa de investimento no Brasil nos últimos trinta e cinco anos, a preços constantes de 1980.

A taxa de investimento se eleva de 20% para 25%, na primeira metade da década de 70, e declina a partir daí, situando-se nos últimos anos em torno de 13%.

12.2.07

Crescimento (falta de) - o todo e as partes

Da coluna de Affonso Celso Pastore e Maria Cristina Pinotti, na edição de hoje do Valor Econômico:
  • "O crescimento econômico é um processo de ampliação da capacidade produtiva, expandindo a oferta agregada, e exige o aumento da formação bruta de capital fixo e da produtividade total dos fatores".
  • "Há 25 anos, quando o PIB ainda crescia acima de 7% ao ano; quando a taxa de investimento avaliada a preços de 1991 superava os 28% do PIB, tendo ultrapassado por um curto período a taxa de 30% do PIB; e a produtividade total dos fatores tinha o crescimento mais rápido do mundo, a carga tributária estava um pouco acima de 20% do PIB. O 'milagre econômico' daqueles anos era em grande parte fruto de um tamanho menor do governo, que libertava o 'espírito animal' dos empresários, elevando os investimentos privados".
  • "O produto total do país é igual à soma do consumo e dos investimentos privados, do consumo e dos investimentos do governo e das exportações líquidas de bens e serviços, que é o saldo em conta corrente. Não há como escapar da restrição de que a soma das partes tem que ser igual ao todo. Para que os investimentos privados possam voltar a crescer há somente três alternativas: ou se reduz o consumo privado; ou se reduzem os superávits na conta corrente; ou se reduz o tamanho do governo".
  • "Governos democráticos rejeitam o caminho da compressão do consumo e, em adição, os elevados níveis de pobreza compelem o governo a persistir na sua política de transferências às camadas mais pobres da população e nos estímulos à ampliação do crédito ao setor privado".
  • "Os superávits na conta corrente tiveram que ocorrer nos últimos anos para reduzir o tamanho excessivo da dívida externa. Atualmente, o crescimento das importações poderia se acelerar, mas não há nada sinalizando uma liberalização adicional de comércio".
  • "Nos últimos quatro anos, os gastos do governo central, excluindo o pagamento de juros, cresceram à taxa de 9,7% ao ano. Uma alternativa para o país seria, preservando as transferências socialmente desejáveis, reduzir o tamanho do governo, o que requer reformas, dentre as quais a mais urgente é a da Previdência".

11.2.07

Estudo de caso para alunos de microeconomia - presente eficiente

Duas postagens anteriores, sob o título de "O peso morto do Natal", incluíram links para artigos de James Surowiecki e de Steven Dubner e Steven Levitt mostrando que apenas presentes em dinheiro satisfazem com certeza o critério de eficiência segundo o qual o valor (benefício) do presente para o presenteado deve ser pelo menos igual ao seu custo para o presenteador.

Um artigo na edição de hoje do New York Times, a propósito do Dia dos Namorados nos Estados Unidos (Valentine's Day), que acontece em fevereiro, argumenta, porém, que oferecer presentes que custam mais do que valem para o seu receptor corresponde a sinalização num contexto de informação assimétrica. Como o receptor do presente não sabe ao certo quanto o doador gosta dele, oferecer um presente muito caro, possivelmente com custo maior do que o benefício, é uma forma de sinalizar a intensidade da afeição. A emissão do sinal, para cumprir sua finalidade nessas circunstâncias, como se sabe, deve ser custosa.

Determinantes da diferença de renda per capita entre o Brasil e os Estados Unidos

A Faculdade de Economia da Universidade de Groningen - Holanda, através de seu Growth and Development Centre (GGCD), mantém uma excelente base de dados, com informações para o período 1950-2005 sobre 125 países, correspondendo a 96% da população e 99% do PIB mundial.

De acordo com as informações disponíveis nesta base de dados, a renda por habitante do Brasil em 2005 equivalia a 18,8% da renda por habitante dos Estados Unidos.

A renda per capita de um país é determinada pelos seguintes fatores:

  • valor do PIB por hora trabalhada (produtividade do trabalho)
  • número médio de horas trabalhadas no ano pelos trabalhadores empregados
  • proporção da população que se encontra empregada

[Para entender este ponto, considere que Y /POP = (Y/h) (h/L) (L/POP), onde Y = PIB, POP = população, h = horas totais trabalhadas na economia durante o ano e L = total de pessoas empregadas].

O PIB por hora de trabalho no Brasil, de acordo com os dados do GGDC, correspondia a 22,6% do observado nos Estados Unidos, em 2005, enquanto a média de horas trabalhadas no Brasil (1841 horas) foi 2,8% maior do que nos Estados Unidos (1791 horas) , no mesmo ano.

Quanto à proporção da população total que se encontrava empregada, foi de 39,2% e 48,4%, no Brasil e nos Estados Unidos, respectivamente, com a diferença de 19% sendo explicada pelo fato de as taxas de emprego e de participação na força de trabalho, assim como a proporção da população em idade de trabalhar, serem menores aqui do que lá.

[Note que L/POP = (L/PEA) (PEA/PIA) (PIA/POP), onde PEA = população economicamente ativa e PIA = população em idade ativa].

O produto das razões entre Brasil e Estados Unidos para os três determinantes da renda per capita (produtividade, horas médias trabalhadas e proporção da população empregada) - ou seja, 0,226 x 1,028 x 0,81 - equivale a 0,188, a razão entre as rendas per capita dos dois países em 2005.

Se a proporção da população total empregada fosse igual nos dois países, a renda per capita brasileira ainda equivaleria a apenas 23,2% da renda per capita americana, devido à baixa produtividade brasileira.

Em outras palavras, 95% do hiato de renda per capita entre o Brasil e os Estados Unidos é explicado pela baixa produtividade do trabalho no Brasil, sendo esta, assim, o principal determinante daquele hiato.

Crescimento (falta de) - inovação tecnológica (II)

Informações publicadas no Valor Econômico - edição de 8 de fevereiro de 2007:

  • "O Brasil situa-se na 27ª posição no ranking de pedidos de registro de patentes, que serve como um indicador de inovação na economia, de acordo com relatório da Organização Mundial de Propriedade Intelectual".
  • "Pela primeira vez em cinco anos, o país depositou em 2006 menos pedidos de patentes internacionais do que no ano anterior. Os pedidos depositados pelo Brasil caíram de 280, em 2005, para 265 no ano passado".
  • "Já Coréia do Sul e China registraram alta 'excepcional' e superaram vários países industrializados. A Coréia do Sul (5.935 demandas) tomou o 4º lugar da Grã-Bretanha e da França, graças a um crescimento de 26,5% no número de novos pedidos. A China (3.910 demandas) aumentou o número de pedidos em 56,8% em 2006, passando Suíça e Suécia e ocupando o 8º lugar".
  • "O Brasil registra 21 pedidos de patente por milhão de habitantes, comparados a 2.189 pedidos da Coréia. Por dólar do PIB, o Japão (116) e a Coréia (107) têm cinco vezes mais patentes que os industrializados. O Brasil tem uma taxa baixa de 2,8 patentes por bilhão de dólares. O Brasil tem igualmente baixa taxa de demanda de patentes em relação às despesas de pesquisa e desenvolvimento".

Estudo de caso para alunos de microeconomia - economias externas no Vale do Silício

Geografia importa? Um artigo de G. Zachary, também na edição de hoje do New York Times, explica porque inovações como o iPod, Google e e-Bay, entre tantas outras, tiveram como berço o Vale do Silício.

Estudo de caso para alunos de microeconomia - externalidades negativas e preços de pico

Daniel Gross discute, em artigo publicado na edição de hoje do New York Times, a proposta de se adotar preços de pico (congestion pricing) para o trânsito em ruas e estradas nos Estados Unidos. Algumas experiências nesse sentido já estão sendo realizadas - num trecho de 8 milhas de estrada em San Diego - Califórnia, o valor do pedágio pode mudar a cada seis minutos, dependendo da taxa de ocupação da rodovia.

O atraso é heterodoxo

Da coluna de José Scheinkman, na Folha de São Paulo de hoje:
"Há no Brasil uma divisão entre economistas ortodoxos e heterodoxos. Isso seria de pouca importância se fosse uma mera discussão acadêmica, mas essa divisão tem conseqüências. No começo da década de 70, Carlos Langoni documentou que investimentos em educação no nosso país tinham uma taxa de retorno muito alta e poderiam servir para reduzir a desigualdade. O trabalho de Langoni foi recebido com hostilidade no meio acadêmico brasileiro e não influenciou a política educacional. Houve elementos ideológicos nesse episódio, mas a acolhida negativa também foi resultado da falta de conhecimento entre boa parte dos economistas brasileiros da teoria do capital humano e da incapacidade destes para julgarem a qualidade dos métodos empíricos que Langoni utilizou (na literatura acadêmica heterodoxa no Brasil, se encontra com muito maior freqüência referências a Keynes ou Ricardo, morto em 1823, do que a artigos recentes em econometria ou teoria econômica). Não é óbvio que o governo da ditadura, interessado em grandes obras e subsídios a empresários amigos, teria escutado a academia, mas perdemos uma chance de investir mais cedo em educação. Leio no dicionário Houaiss da língua portuguesa que um uso informal da palavra 'ortodoxo' é 'que não tolera o novo e o diferente'. Exatamente o que parece descrever uma parcela dos heterodoxos".

10.2.07

Distribuição de renda nos Estados Unidos

Ben Bernanke, presidente do Banco Central dos Estados Unidos, analisou, em discurso feito esta semana, os determinantes do aumento da desigualdade de renda verificado nos últimos 25 anos naquele país.

A lista é conhecida:
  • progresso tecnológico com viés para o trabalho qualificado
  • aumento da penetração de importações de bens intensivos em trabalho não qualificado
  • imigração de trabalhadores de baixa qualificação
  • enfraquecimento dos sindicatos

Embora o remédio - ampliação das oportunidades de acesso a educação e treinamento - também não seja novidade, Bernanke faz uma menção especial à importância dos programas de educação pré-escolar, os quais tendem a afetar positivamente o desempenho escolar subsequente e a reduzir problemas sociais como gravidez na adolescência e dependência de transferências do governo.

O diagnóstico e as recomendações de política são bem conhecidos, mas a leitura vale a pena.

(Agradeço a Gilson Geraldino pela indicação).

9.2.07

Crescimento (falta de) - inovação tecnológica (I)

A Folha de São Paulo, em editorial publicado na edição de 5 de fevereiro de 2007, tratou dos problemas da pesquisa tecnológica no Brasil:

  • "Em 1990, o Escritório de Patentes dos EUA concedeu 41 desses privilégios ao Brasil e 225 à Coréia do Sul. Em 2004, foram respectivamente 192 e 4.590. A diferença atual exprime bem a distância que separa os dois países em sua capacidade de aportar produtos de alta tecnologia ao mercado global".
  • "O Brasil continua a patinar nesse terreno também internamente. Em 1990, o Instituto Nacional de Propriedade Industrial reconheceu um total de 4.712 patentes. Década e meia depois, em 2004, foram apenas 7.047".
  • "Há ainda distorções qualitativas. Persiste o abismo que separa a pesquisa acadêmica do setor empresarial. No ranking dos maiores patenteadores, no período 1999-2003, figuram nove instituições públicas. O normal seria que empresas privadas ocupassem as posições de destaque, mas apenas 10% dos pesquisadores no Brasil estão no setor privado hoje".
  • "Alguns indicadores começam, porém, a melhorar, como a parcela do PIB investido em pesquisa e desenvolvimento, que deve chegar a 1,3% em 2006 (ainda longe dos 2% pretendidos). O número de artigos de cientistas brasileiros também continua a progredir (aumento de 19%, entre 2004 e 2005)".

"Moedas alternativas" e imposto inflacionário

Um artigo na edição de hoje do New York Times descreve o curioso caso das "moedas locais alternativas" (com nomes exóticos como chiemgauer, urstromtaler e kirschblüte) em circulação na Alemanha, Áustria e Suiça. O mais interessante na história é que a "autoridade monetária" que emite estas "moedas" fixa de antemão e explicitamente a alíquota do imposto inflacionário (cobrado apenas quando a "moeda" é usada como reserva de valor) com o qual cobre seus custos e se remunera.

8.2.07

Desvalorização salarial (I)

Ilan Goldfajn, em artigo publicado na edição de hoje do Valor Econômico, lembra o que significa uma desvalorização real da taxa de câmbio:
"Muitos acreditam que o Brasil poderia seguir o caminho de alguns países emergentes da Ásia, que crescem a taxas elevadas com moedas depreciadas. A idéia é que um país com preços mais competitivos dos seus produtos teria como exportar mais, crescer mais e gerar mais emprego. Portanto, nesta linha de raciocínio, o Brasil deveria se esforçar para manter um real mais fraco para alavancar o crescimento. A teoria econômica nos ensina, entretanto, que câmbio (real) mais depreciado significa salários reais mais baixos (de fato, é difícil encontrar países com salários altos e moedas muito fracas). Governos que tentam depreciar suas moedas, sem querer aceitar salários mais baixos, acabam gerando apenas mais inflação, o que acaba frustrando o desejo de se tornarem mais competitivos".

7.2.07

Senhoriagem (III) - cá como lá

Segundo matéria publicada na edição de hoje do Estado de Minas, moedas de 1 centavo sumiram do mercado de Belo Horizonte.

A produção dessas moedas foi interrompida há dois anos, porque seu custo de produção é 9 centavos. De acordo com o BC, a quantidade emitida de moedas de 1 centavo é de 3,18 bilhões (equivalendo a R$ 31,8 milhões), mas metade delas estaria fora de circulação (em cofres de poupança, fundos de gaveta, no lixo ou - possibilidade não mencionada na matéria - derretidas para venda do metal).

Numa postagem anterior, se mostrou que, já em 2002, o custo de produção das moedas de 1 e 5 centavos superava seu valor - apenas as moedas com valor de 10 centavos ou mais proporcionavam receita de sehoriagem positiva para o Banco Central.

4.2.07

Crescimento (falta de) - Brasil e BRICs


O quadro acima foi publicado na edição de Veja desta semana (números algo diferentes dos reportados por Veja para Brasil e China podem ser encontrados nesta nota postada anteriormente).

O Brasil se diferencia dos outros BRICs também por ser uma economia bem menos integrada aos fluxos do comércio internacional, como se constata pelos dados a seguir.

Corrente de comércio como % do PIB

Brasil – 23,9%
India – 34,7%
Rússia – 41,0%
China – 65,2%

* corrente de comércio = exportações + importações

Crescimento (falta de) - abertura da economia (I)

A economia brasileira continua a ser uma das mais fechadas ao comércio no mundo, segundo dados apresentados na Folha de São Paulo de hoje:
"Em uma pesquisa realizada pelo Fundo Monetário Internacional em 2004, o Brasil apareceu como penúltimo em uma lista dos 84 maiores importadores de bens e serviços, só à frente do Japão. As compras brasileiras de fora representavam apenas 13,3% do PIB, contra 39,7% na Coréia do Sul, 36,8% na China, 32% no México, 18,4% no Chile e 15,1% nos Estados Unidos".

Estudo de caso para alunos de microeconomia - salário mínimo nos Estados Unidos

O Congresso dos Estados Unidos está discutindo um aumento de 40% no salário mínimo federal - o valor atual de 5,15 dólares foi fixado há uma década. Os possíveis efeitos deste reajuste são discutidos por Eduardo Porter, em um artigo publicado hoje no New York Times.

Crescimento (falta de) - "subversão paroquial da justiça"

A coluna de Elio Gaspari, na Folha de São Paulo de hoje, comenta os resultados de uma pesquisa realizada na USP, que contesta a noção de que a justiça no Brasil tende a favorecer "a parte mais fraca".

"Incerteza jurisdicional"

Num trabalho publicado em 2003, Pérsio Arida, Edmar Bacha e André Lara Resende sugeriram a existência de uma 'incerteza jurisdicional' no Brasil - um viés dos juízes, que buscariam promover a justiça social em litígios relacionados com o crédito e o respeito aos contratos. A teoria baseou-se em pesquisa de Bolivar Lamounier, que mostrou que 61% dos juízes entrevistados preferiam decidir a favor dos "fracos".

Em outra pesquisa, realizada por Armando Castellar, com uma amostra de 741 magistrados, 55,4% dos entrevistados afirmaram que a justiça social deve prevalecer nos casos relacionados com a defesa do consumidor e 45,8% afirmaram o mesmo com relação aos contratos trabalhistas.

Esta 'incerteza jurisdicional' inibiria a oferta de crédito e o funcionamento dos mercados no Brasil.


"Subversão paroquial da justiça"

Ivan César Ribeiro e Brisa Lopes de Mello Ferrão, da Universidade de São Paulo, estudaram amostras de 181 decisões judiciais de São Paulo e outras 84 de 16 Estados.

Esta pesquisa mostrou que:
  • "Uma parte com poder econômico ou político tem entre 34% e 41% mais chances de que um contrato que lhe é favorável seja mantido pela justiça do que uma parte sem poder".
  • "Uma parte com poder apenas local tem 38% mais chances de que uma cláusula contratual seja mantida e entre 26% e 38% mais chances de ser favorecido pela justiça do que uma grande empresa nacional ou multinacional".
  • "Quanto maior a desigualdade social num estado, maior é a probabilidade de que uma cláusula contratual não seja mantida pelo judiciário. Passando-se, por exemplo, do grau de desigualdade de Alagoas (coeficiente de Gini de 0,69) para o de Santa Catarina (coeficiente de Gini de 0,56), tem-se uma chance 210% maior de que o contrato seja mantido".

Os autores concluíram que:

  • No Brasil, "a operação das instituições legais, políticas e regulatórias é subvertida pelos ricos e politicamente influentes em seu próprio benefício", uma situação que Edward Glaeser, José Scheinkman, David Laibson e Christine Soutter designaram como "redistribuição do tipo King John" (em oposição à "redistribuição do tipo Robin Hood").
  • "O exercício do poder local promove a 'subversão paroquial da justiça' e, assim, impede o desenvolvimento, especialmente nas áreas de maior desigualdade social. A 'subversão paroquial da justiça' também ajuda a aumentar essa desigualdade, em um círculo vicioso perverso para os mais pobres".

Links

Abaixo os links para os trabalhos de Ribeiro e Ferrão:

Brisa Lopes de Mello Ferrão e Ivan César Ribeiro. Os Juízes Brasileiros Favorecem a Parte Mais Fraca?

Ivan César Ribeiro. Robin Hood Versus King John: Como os Juízes Locais Decidem Casos no Brasil?

3.2.07

Crescimento (falta de) - carga tributária (II)

Em artigo publicado em 1992, Ross Levine e David Renelt mostraram que praticamente nenhuma das variáveis explanatórias comumente incluídas em equações de crescimento à la Barro eram robustamente relacionadas com a taxa de crescimento do PIB per capita.

Jenny Minier, em trabalho apresentado no Encontro da American Economic Association deste ano, atribuiu este resultado à hipótese de linearidade na relação entre aquelas variáveis e a taxa de crescimento, implícita no trabalho de Levine e Renelt.

Adotando os mesmos critérios de robustez e a mesma base de dados utilizada por estes autores, Minier testou a hipótese de que o efeito parcial de uma variável sobre o crescimento per capita depende do nível da própria variável e do nível de desenvolvimento (PIB per capita inicial) do país.

Seus resultados sugerem que a taxa de crescimento do PIB per capita está inversamente relacionada com a participação do gasto total do governo no PIB e com a carga tributária (aproximada pela razão entre a arrecadação de impostos pelo governo central e o PIB), com este efeito negativo sendo atenuado à medida em que aumentam o valor destas variáveis e o nível do PIB per capita.

Outro resultado interessante obtido por Minier é que o superávit fiscal tem um efeito positivo, mas decrescente com o nível de desenvolvimento dos países, sobre a taxa de crescimento.

----------------------------------------------------------------------------------

De acordo com estimativas de Renato Fragelli, da EPGE-FGV, divulgadas na edição de hoje da Folha de São Paulo, considerando-se a variação absoluta do PIB e da carga tributária entre 1991 e 2006, o governo se apropriou de 66,8% da renda adicional gerada na economia brasileira, ao longo daquele período.

"Conclui-se que a alíquota média de tributação no Brasil está em 37,5%, mas na década e meia compreendida entre 1991 e 2006 a alíquota marginal foi de dois terços".
Para Fragelli, o país só poderá voltar a crescer de forma significativa se reduzir drasticamente a carga tributária, conclusão apoiada pelos resultados da pesquisa citada acima.

Crescimento (falta de) - o peso da previdência

Em artigo publicado na Folha de São Paulo de hoje, José Márcio Camargo explica porque os gastos do governo com a Previdência Social reduzem a taxa de crescimento da economia.

Composição do gasto público
  • "O Brasil gasta 12% do PIB com Previdência e assistência social, tendo 6% de sua população com mais de 65 anos. Países que têm essa proporção de idosos na população gastam, em média, 6% do PIB com essa função".
  • "Como gastamos muito com Previdência e assistência social, sobra pouco dinheiro para investimentos em infra-estrutura e na educação de nossas crianças e jovens. Por essa razão, a qualidade da infra-estrutura é baixa e o nível educacional médio da população continua entre os mais baixos do mundo. O resultado é que os ganhos de produtividade são muito baixos, reduzindo o crescimento da economia".
Incentivo à informalidade
  • "Todo cidadão brasileiro tem direito a uma pensão de um salário mínimo ao atingir 65 anos de idade, desde que não tenha renda familiar per capita maior que um quarto do salário mínimo. Um cidadão que trabalhou na informalidade toda a vida, não contribuiu com a Previdência Social e decide parar de trabalhar aos 65 anos - tendo, portanto, renda zero a partir daí - tem direito à pensão".
  • "Por outro lado, um cidadão que teve um trabalho formal durante toda a vida, pagando diretamente 10% desse salário para a Previdência e, indiretamente, por meio da contribuição da empresa, mais 20% (pois uma parte -provavelmente toda- dessa contribuição é efetivamente paga pelo trabalhador por meio da redução de seu salário), também terá direito a uma aposentaria de um salário mínimo".
  • "Se o trabalhador ganha próximo do salário mínimo, o incentivo desse arranjo é claro: ter um emprego informal, negociar a contribuição da empresa e incorporá-la ao salário mensal, não pagar a Previdência e, aos 65 anos, passar a receber a pensão do sistema de assistência social. Existe um claro incentivo à não-contribuição, o que torna o sistema de Previdência Social muito caro para quem contribui".
  • "Com Previdência Social muito cara e assistência social muito generosa, trabalhadores e empresas têm incentivos para permanecer na informalidade. Por essa razão, mais de 50% da força do trabalho no Brasil é informal, o que reduz a taxa de crescimento da produtividade e, portanto, da economia".

Senhoriagem (II)

Em uma postagem anterior, se mencionou que o custo de produção das moedas de 1 centavo de dólar nos Estados Unidos supera 1 centavo de dólar atualmente, de modo que a receita de senhoriagem, neste caso, é negativa.

Qual o custo de produção das moedas e notas do Real?

Os valores abaixo apareceram em uma matéria publicada no Estado de Minas - edição de 1 de setembro de 2002:

Cédulas - custo por milheiro
1 real - R$ 59,91
2 reais - R$ 60,52
5 reais - R$ 58,53
10 reais - R$ 61,01
20 reais - R$ 85,90
50 reais - R$ 62,75

Moedas - custo por milheiro
1 centavo - R$ 56,68
5 centavos - R$ 68,19
10 centavos - R$ 78,71
25 centavos - R$ 100,70
50 centavos - R$ 105,93
1 real - R$ 125,77

Crescimento (falta de) - confiança

Do artigo de Franco Montoro Filho, na Folha de São Paulo - edição de 2 de fevereiro de 2007:

  • "Em uma economia de mercado, a existência de regras de comportamento, direitos e deveres que sejam respeitados e obedecidos é de fundamental importância. A atividade econômica requer a confiança de que o acertado seja cumprido - e, se não for, que existam meios de exigir o cumprimento".
  • "Quanto mais houver obediência espontânea das regras (comportamentos éticos), menos tempo e dinheiro serão desviados para a defesa de eventuais comportamentos não éticos e para acionar os mecanismos de defesa dos direitos. Com isso, mais recursos e esforços podem ser aplicados nas atividades de produção e de trocas, aumentando o produto social e o bem-estar econômico".
  • "Especialmente em relação a investimentos, a confiança no cumprimento dos contratos é indispensável. Os investimentos representam uma aposta no futuro desconhecido - paga-se hoje para receber depois. Para alguém se dispor a fazer tal transação, é preciso confiar no respeito ao tratado. Quanto mais confiança houver, mais dispostas as pessoas estarão para poupar e investir. Portanto, maiores serão as perspectivas de crescimento econômico. Ao inverso, se há desconfiança generalizada sobre o respeito ao que foi combinado, menor é a disposição de poupar e investir e menores são as perspectivas de crescimento. Investir representaria um grande risco que só atrairia aventureiros e oportunistas que exigiriam elevado retorno no menor prazo possível".
  • "No Brasil, comportamentos éticos não só não são valorizados como chegam a ser considerados antiquados, a alegação de que todo mundo é desonesto se torna justificativa para o desrespeito às leis e a repetida impunidade gera grande desânimo em quem cumpre suas obrigações e se torna grande estímulo a atividades ilegais".
  • "É preciso dar um basta no perverso processo de desagregação social gerado pela falta de ética nas relações sociais e no processo de canibalização das atividades econômicas gerado pelo desrespeito à legislação tributária, trabalhista e previdenciária".

Estudo de caso para alunos de microeconomia - elasticidade-preço da demanda e torcidas (in)fiéis


Em 1999, devido a atos violentos praticados pela torcida, o Estádio Independência foi interditado pela CBF para jogos do Atlético Mineiro e o time foi obrigado a jogar no Mineirão.

A diretoria decidiu, então, reduzir o preço dos ingressos, a fim de estimular a torcida a comparecer ao estádio. O valor dos ingressos de arquibancada passou de R$ 10 para R$ 2 e a entrada para a geral teve seu preço cortado de R$ 5 para R$ 1, com redução, portanto, de 80%.

O crescimento decorrente na venda de ingressos foi de 263%, com a média de pagantes subindo de 14 474 para 52 541 torcedores.

A média de renda dos jogos aumentou de R$ 98 237 para R$ 111 602.

Verifica-se, portanto, que ingressos para jogos do Atlético Mineiro são um bem (?) com elasticidade-preço da demanda bastante elevada.

Alta elasticidade-preço da demanda, como ensina o manual de introdução à economia de Mankiw, em seu capítulo 5, é característica de bens que têm bons substitutos próximos e / ou são considerados supérfluos pelos consumidores.

Em outras palavras, assistir a jogos do time está longe de ser considerado como essencial pelos torcedores atleticanos - uma evidência que se soma àquela apresentada em uma postagem anterior no sentido de apontar o baixo grau de fidelidade da torcida ao clube.

(As informações relativas a este caso, publicadas no caderno 4 - página 15 da Folha de São Paulo - edição de 17 de outubro de 1999, me foram gentilmente passadas pelo Professor Antônio Aguirre).

1.2.07

Senhoriagem (I)

O valor do metal contido nas moedas de 1 centavo de dólar americano (penny) atualmente é maior do que 1 centavo. O resultado é uma tendência a que os pennies sejam derretidos por particulares, que buscam ganhar com aquela diferença, e prejuízo para o governo, estimado em 40 milhões de dólares no ano passado.

Austan Goolsbee discute, em um artigo no New York Times, uma interessante proposta para resolver este problema - um decreto do governo determinando que todas as moedas de 1 centavo passem a valer 5 centavos.

Estudo de caso para alunos de microeconomia - criminosos racionais

A teoria econômica do crime supõe que criminosos são agentes racionais que tomam suas decisões quanto a cometer ou não um ato criminoso a partir de uma análise dos custos e ganhos envolvidos. Assim, um aumento do custo esperado do crime, decorrente de mais policiamento e/ou penas mais severas, deveria reduzir a criminalidade.

Na coluna Dismal Science, publicada em Slate, Joel Waldfogel discute os resultados de uma pesquisa recente, que objetivou testar esta hipótese.

No estado da Flórida, nos Estados Unidos, como em muitos outros lugares, a pena para um dado crime é mais elevada para maiores de 18 anos do que para infratores abaixo dessa idade. Assim, de acordo com a hipótese do criminoso racional, a probabilidade de uma pessoa praticar um crime deveria variar em torno do seu 18º aniversário, com menos crimes ou taxas maiores de redução da criminalidade sendo observadas depois desta data. A pesquisa utilizou dados sobre prisões na Flórida entre 1989 e 2002 para testar esta predição.

Confira os resultados do teste no artigo de Waldfogel.