28.10.07

Flutuações macroeconômicas no Brasil

O gráfico apresenta o desvio percentual do PIB corrente brasileiro em relação ao PIB potencial medido segundo o método de Hodrik-Prescott. Os dados cobrem o período 1947-2006.

A linha horizontal corresponde ao pleno emprego. Observações abaixo desta linha correspondem a anos de recessão e observações acima dela, a anos de boom.

Os dois episódios recessivos mais graves das últimas 6 décadas ocorreram, como é bem sabido, em meados dos anos 60 e no início da década de 80. Em ambos os casos, o produto corrente chegou a estar 8% abaixo do produto potencial.

A partir de meados da década de 90, as flutuações do PIB em torno da posição de pleno emprego se tornam menos pronunciadas, mas a estabilização se dá num contexto de redução da taxa de crescimento de longo prazo.

22.10.07

Crescimento do PIB potencial (II)

O gráfico acima mostra a taxa de crescimento do PIB potencial do Brasil, no período 1948-2006, estimada com base no filtro de Hodrick-Prescott.

Depois de ter se reduzido a 1,8% em 1990, o valor mais baixo da serie histórica, a taxa de expansão do PIB potencial se recuperou lentamente nos 15 anos seguintes, alcançando 2,7% em 2006.

As estimativas recentes do IPEA, IBRE - FGV e Banco Itaú, mencionadas na última postagem, foram obtidas através de outros métodos e sugerem uma taxa de expansão próxima de 4% atualmente.

Crescimento do PIB potencial (I)

Qual a taxa de crescimento do PIB potencial no Brasil?

Na Carta do IBRE, publicada na revista Conjuntura Econômica - edição de outubro de 2007, dois cenários extremos são propostos para responder a esta pergunta.

No cenário otimista, supôs-se que a formação bruta de capital fixo continuaria a se expandir à taxa atual de 8% a.a. e que a produtividade total dos fatores cresceria à taxa de 1% a.a. Neste caso, o crescimento do PIB potencial seria de 4,6% em 2008 e chegaria a 5,4% em 2015.

No cenário pessimista, a formação bruta de capital fixo permaneceria constante como proporção do PIB (ou seja, nos atuais 17%) e a produtividade total dos fatores não cresceria. Sob estas hipóteses, a taxa de crescimento do PIB potencial se manteria em torno de 3,5%, de 2008 a 2015.

Cenários intermediários também considerados no artigo sugerem, por sua vez, uma taxa de expansão do PIB potencial entre 4% e 5% a.a. nos próximos 8 anos.

De acordo com a Carta do IBRE, para alcançar a taxa de crescimento superior a 5% que corresponde ao cenário otimista, seria necessário melhorar o ambiente de negócios, reduzir o gasto público e a carga tributária, reavaliar alguns programas sociais (presume-se que principalmente a política previdenciária) e aumentar a qualidade da educação.

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Sérgio Werlang, em artigo publicado no Valor Econômico - edição de 19 de outubro, mencionou pesquisa do Banco Itaú, segundo a qual a tendência de expansão do PIB teria passado de 1,9%, entre 1996 e 2002, para 3,9%, a partir do final de 2002.

A estimativa do IPEA, que foi objeto desta postagem de junho, é de 3,8%.
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Há, portanto, uma clara convergência para 4% como o valor mais provável da taxa de crescimento do PIB potencial.

21.10.07

Freakonomics

Nova hipótese para explicar a queda súbita e drástica da criminalidade nos Estados Unidos, a partir do início dos anos 90 - a probição da adição de chumbo à gasolina. A hipótese é discutida em um artigo do New York Times deste domingo.

20.10.07

Crescimento (falta de) - corrupção

Da coluna de Clóvis Rossi, na Folha de São Paulo de hoje:
"Quase metade das empresas que atuam no Brasil (exatamente 48% delas) já se viu diante de uma situação em que foi estimulada a pagar propina, revelou um estudo da consultoria PriceWaterhouseCoopers. A média na África é de apenas 30% e no México a proporção é de 28%. Nem vale a pena comparar com América do Norte (3%) ou Europa Ocidental (9%). A pesquisa foi feita com 5,4 mil executivos de 40 países. O Brasil ganha, se é que dá para usar esse verbo, apenas da Indonésia (54%). Empata com a Rússia. Pode ser que os executivos de outros países estejam mentindo. Ou que os executivos brasileiros consultados estejam exagerando. Mas, depois de todos os escândalos , você se animaria a dizer que não acredita no teor de corrupção inerente aos negócios no Brasil?".

13.10.07

Crescimento (falta de) - Haiti ou China?

Marcelo Neri chamou a atenção para um fato intrigante, em artigo publicado na semana passada no Valor Econômico.

As contas nacionais de 2005 e 2006 apontam crescimento acumulado do PIB per capita de 3,84% - um crescimento haitiano, nesta "era de ouro" da economia mundial.

Por outro lado, o crescimento da renda domiciliar per capita, medido pela PNAD, no mesmo período, foi de 16,4% - um crescimento chinês que, nos últimos dois anos, teria beneficiado não apenas os mais pobres, como vinha sendo o caso desde o início desta década, mas todos os estratos sociais.

Neri acredita que a geração de 4,6 milhões de postos de trabalho, dos quais 2,5 milhões no mercado formal, e o aumento das vendas do comércio de 11,8%, em 2005-06, validam os dados da PNAD, mas reconhece que não há uma explicação satisfatória para a discrepância entre estes dados e aqueles provenientes do Sistema de Contas Nacionais.

Fontes do crescimento

A importância relativa da acumulação de fatores e da produtividade total na explicação das diferenças de produto por trabalhador e, portanto, de renda per capita entre os países tem sido uma questão central no debate sobre crescimento econômico.

Esta questão é reexaminada por Charles Hulten e Anders Isaksson em um outro NBER Working Paper publicado esta semana.

Psicologia e economia

Stefano DellaVigna é uma das estrelas da nova geração de economistas trabalhando nos Estados Unidos, conforme artigo de The New York Times, que foi objeto desta postagem de janeiro.

DellaVigna publicou recentemente um NBER Working Paper com excelente revisão da literatura sobre psicologia e economia.

12.10.07

Cascatas de informação

A difusão da idéia errônea de que dietas gordurosas causam doenças das coronárias é um exemplo de "cascata informacional". O assunto é discutido por John Tierney no Tierney Lab, seu blog em The New York Times.

Bem antes de ter sido modelado pelos economistas, o fenômeno das "cascatas de informação", de acordo com Tierney, foi descrito por Schopenhauer, em A Arte da Controvérsia.

11.10.07

Ranking de programas de economia no Brasil (II)

Os melhores programas de pós-graduação em Economia do Brasil, segundo a avaliação divulgada ontem pela CAPES, são os da UnB, FGV - RJ, IPE - USP e ESALQ - USP. Estes quatro programas foram os únicos a obter conceito 6 na avaliação relativa ao triênio 2004-06. Nenhum programa da área de Economia recebeu conceito 7.

Para obter um ranking alternativo ao da CAPES, ver esta postagem anterior.

10.10.07

Estudo de caso para alunos de microeconomia - jogo do ultimato (II) - está tudo nos genes?

A mesma edição de The Economist mencionada na postagem anterior relata os resultados de um outro experimento, realizado por pesquisadores da Stockholm School of Economics e também baseado no "jogo do ultimato", destinado a testar se o senso humano de justiça tem raízes genéticas ou culturais:
"The human sense of fairness is not rooted in culture. Rather, it is genetic—as it would have to be in order to evolve. Paradoxically, discovering this relies on the fact that not everyone possesses it to the same degree. Researchers have shown this by playing the ultimatum game with twins. They used the classic trick of neutralising the effect of upbringing and exposing that of genetics by comparing identical twins (who share all their genes) with fraternal twins (who share half). Each twin of a pair played the ultimatum game, both as proposer and as responder. A striking correlation between the average division that each member of a pair proposed and also between what they were willing to accept was found, in the case of identical twins. In other words, their senses of what was fair were similar. No such correlations were seen in the behaviour of fraternal twins".

Estudo de caso para alunos de microeconomia - jogo do ultimato (I): chipanzés são maximizadores racionais

Pesquisadores do Max Planck Institute for Evolutionary Anthropology, em Leipzig, desenharam uma versão do conhecido "jogo do ultimato" para ser jogada por chipanzés. Os resultados deste experimento foram reportados em The Economist - edição de 6 de outubro de 2007:
"The game started with a pair of trays far from the players' cages. Each tray had ten raisins divided in different ways between two pots— say eight and two, or five and five. One chimp was allotted the role of proposer. He could choose one of the trays, pulling it by way of a rope just halfway to the cage. The other, the responder, could then choose to pull on a rod, bringing the tray close enough for both to get the raisins, one pot for each. If the responder chose not to pull the tray closer within a minute, the offer was considered rejected, and the game concluded. The result is that chimps are simply rational maximisers. Though proposers consistently chose the highest possible number of raisins for themselves, responders rarely rejected even the stingiest offers. A number of researchers in the field of human evolution think that a sense of fairness— and a willingness to punish the unfair even at some cost to oneself— is humanity's 'killer app'. It is what allows large social groups to form. Previous experiments have shown that chimpanzees are willing to punish actual thieves. But this new experiment adds weight to the theory that the more sophisticated idea of fair shares, which underpins collaborative behaviour, appeared in the hominid line only after the ancestors of the two species split from one another".

2.10.07

Crescimento econômico - instituições ou cultura?

Gregory Clark argumenta, em artigo publicado na edição de hoje do Valor Econômico, que a "cultura", não as "instituições", explica a "riqueza das nações":

  • "A idéia, atribuída a Adam Smith, de que incentivos adequados, independente da cultura, produzem bons resultados se tornou o grande mandamento da ciência econômica. Esta visão, porém, é uma interpretação equivocada da história (e, provavelmente, uma leitura equivocada de Smith)".
  • "O crescimento moderno não se originou de incentivos melhores, e sim da criação de uma nova cultura econômica em sociedades como a Inglaterra e a Escócia. A Revolução Industrial ocorreu num cenário em que os incentivos institucionais básicos da economia se mantiveram inalterados (na verdade, foram piorando) por centenas de anos. Ela foi o produto de mudanças nas preferências econômicas das pessoas na Inglaterra, não de mudanças nas instituições".
  • "Os determinantes cruciais da riqueza e pobreza não são as diferenças em incentivos, mas a forma como as pessoas reagem a eles. Em economias bem-sucedidas, as pessoas trabalham arduamente, acumulam e inovam, mesmo quando seus incentivos são insuficientes. Em economias deficientes, as pessoas trabalham pouco, poupam pouco e usam técnicas ultrapassadas, mesmo quando os incentivos são satisfatórios. Para fazer as sociedades pobres crescerem, precisamos mudar sua cultura, não só as instituições e incentivos".
  • "Isso exige expor mais pessoas nas sociedades pobres à vida nas economias avançadas. Migrantes acostumados às condições das economias bem-sucedidas representam um núcleo potencial para a industrialização nas economias pobres. Esses trabalhadores, porém, geralmente escolhem permanecer nas economias ricas. Portanto, o problema está em planejar um fluxo suficiente de retorno de migrantes que experimentaram as condições de sociedades economicamente bem-sucedidas às sociedades pobres".
  • "Um programa como esse será mais eficaz do que tentar tornar os governos e instituições das sociedades pobres mais parecidos com os governos e instituições das economias avançadas. As pessoas vêm em primeiro lugar".

Sobre as polêmicas idéias de Clark a respeito do crescimento econômico, ver artigo de Nicholas Wade e comentário de David Warsh, ambos objeto de postagens anteriores neste blog.

1.10.07

Choque nos termos de troca (II)

Estimativas do impacto do choque favorável nos termos de troca sobre a balança comercial e a conta de transações correntes do Brasil, elaboradas pelo professor Nelson Marconi, da Fundação Getúlio Vargas e divulgadas hoje no Valor Econômico:
  • "De dezembro de 2002 a junho de 2007, os preços das exportações aumentaram 61,1%, enquanto o volume cresceu 56,6%. No caso das importações, as cotações subiram 41,8%, ao passo que o volume teve alta de 91%".
  • "Se os preços de exportações e importações tivessem se mantido nos níveis de dezembro de 2002, o saldo comercial positivo de US$ 20,6 bilhões, obtido no primeiro semestre de 2007, teria se reduzido para US$ 8,2 bilhões. Com isso, o saldo em conta corrente de janeiro a junho teria sido deficitário em US$ 8 bilhões, resultado muito diferente do superávit de US$ 4,4 bilhões ocorrido no período".
  • "Com as cotações de 2002, o superávit comercial de 2006 teria sido de US$ 24 bilhões, em lugar dos US$ 46,4 bilhões registrados, e o resultado em conta corrente teria sido negativo em US$ 8,8 bilhões e não superavitário em US$ 13,6 bilhões".
  • "Sob as mesmas hipóteses, a conta corrente de 2005, que foi superavitária em US$ 14 bilhões, teria apresentado um pequeno déficit de US$ 150 milhões".

Resultados de um exercício similar foram reproduzidos nesta postagem de julho.