Desde 2010, a taxa de inflação nos Estados Unidos, medida pelo deflator das despesas de consumo pessoal, se situou quase sempre abaixo da meta de 2%, estabelecida pelo
Federal Reserve (FED), apesar da acentuada redução da taxa de desemprego, de 10%, em 2010, para menos de 4%, em 2019, conforme mostra o gráfico abaixo.
Robert Barro, em
artigo publicado pelo Project Syndicate, considera difícil compreender como o FED conseguiu manter a taxa de inflação neste intervalo de 1% - 2%, na última década, apenas manejando a
federal funds rate (a taxa de juros básica americana, análoga à SELIC brasileira), um instrumento que a evidência empírica sugere ser fraco e ter efeitos bastante retardados sobre a inflação.
Segundo Barro, a explicação mais frequente, embora não muito satisfatória, para este enigma é que os agentes econômicos acreditam que, se a inflação se elevar substancialmente acima do intervalo 1,5% - 2%, o FED reagirá elevando dramaticamente a taxa de juros nominal e, da mesma forma, cortará a taxa de juros nominal (ou usará políticas monetárias alternativas, se a taxa de juros nominal chegar ao seu piso de zero), também de forma agressiva, quando a inflação cair bem abaixo da meta. Esta ameaça crível de reações extremas por parte do FED a um desvio significativo da inflação em relação a sua meta seria o que tem mantido a inflação americana tão bem comportada.
Além da firme
ancoragem das expectativas inflacionárias, decorrente da credibilidade do FED, outras explicações têm sido propostas para a notável estabilidade da inflação nos Estados Unidos, mesmo no atual contexto de taxa de desemprego muito baixa.
Neste
artigo, de autoria de economistas da Brookings Institution, o "achatamento" da curva de Phillips é atribuído à
globalização, que permite às empresas multinacionais reagir à redução do desemprego nos Estados Unidos transferindo sua produção para o exterior, em lugar de pagar salários mais altos; à
redução do poder de barganha dos sindicatos de trabalhadores; ao desemprego oculto, refletido na ainda relativamente
baixa taxa de participação na força de trabalho; e à
expansão do comércio eletrônico, que aumentou a eficiência e a transparência de preços no setor de varejo, gerando preços mais baixos.