O PIB da China aumentou 39 vezes, entre 1979, ano em se iniciou o processo de “reforma e abertura” liderado por Deng Xiao Ping, e 2019, de acordo com estimativas publicadas pelo Banco Mundial.
Mathew Klein e Michael Pettis, em seu livro “Trade Wars Are Class Wars”, propõem uma explicação simples e bem conhecida para o “milagre chinês”.
O mecanismo básico por trás do “milagre”, segundo os autores, foi a acentuada compressão da participação da renda do trabalho no PIB, viabilizada pelas notórias restrições às liberdades democráticas e direitos trabalhistas que prevalecem na China.
Salários e benefícios aumentaram em termos absolutos, de modo que houve significativas redução da pobreza e elevação do padrão de vida na China, neste período. Mas esse aumento da renda do trabalho se deu a taxas mais baixas do que a taxa de crescimento do PIB, com a consequente redução da participação do trabalho na renda total.
Como contrapartida disso, embora também tenha se expandido significativamente, em termos absolutos, o consumo das famílias, segundo Klein e Pettis, se reduziu como proporção do PIB em 15 pontos percentuais, entre o final da década de 1980 e 2010, e ainda equivalia a apenas 40% do PIB, em 2018.
A contenção do consumo das famílias liberou recursos para financiar investimentos massivos (privados e públicos) em capital físico, além de um superávit também expressivo na conta corrente do balanço de pagamentos.
Outra maneira de descrever o mesmo mecanismo seria dizer que a compressão relativa da renda do trabalho levou a um aumento da concentração da renda pessoal na China, o que, por sua vez, aumentou a taxa de poupança e a taxa de investimento (interno e externo). Com efeito, o coeficiente de Gini chinês, que era de pouco mais de 30 pontos, em 1981, chegou a 49 pontos, em 2008, e declinou ligeiramente, a partir daí, alcançando recentemente 46 pontos, enquanto a taxa de poupança, se situou em 34%, em 1981, 50%, em 2008, e 45%, em 2018.
Nada de novo sob o sol, tendo em vista que este mix de ditadura, concentração de renda e rápida acumulação de capital é também a explicação frequentemente proposta para processos anteriores de crescimento econômico acelerado, como o “milagre brasileiro”, entre 1968 e 1973.