30.8.20

Modelo de desenvolvimento chinês

O PIB da China aumentou 39 vezes, entre 1979, ano em se iniciou o processo de “reforma e abertura” liderado por Deng Xiao Ping, e 2019, de acordo com estimativas publicadas pelo Banco Mundial.

Mathew Klein e Michael Pettis, em seu livro “Trade Wars Are Class Wars”, propõem uma explicação simples e bem conhecida para o “milagre chinês”.

O mecanismo básico por trás do “milagre”, segundo os autores, foi a acentuada compressão da participação da renda do trabalho no PIB, viabilizada pelas notórias restrições às liberdades democráticas e direitos trabalhistas que prevalecem na China.

Salários e benefícios aumentaram em termos absolutos, de modo que houve significativas redução da pobreza e elevação do padrão de vida na China, neste período. Mas esse aumento da renda do trabalho se deu a taxas mais baixas do que a taxa de crescimento do PIB, com a consequente redução da participação do trabalho na renda total.  

Como contrapartida disso, embora também tenha se expandido significativamente, em termos absolutos, o consumo das famílias, segundo Klein e Pettis, se reduziu como proporção do PIB em 15 pontos percentuais, entre o final da década de 1980 e 2010, e ainda equivalia a apenas 40% do PIB, em 2018.

A contenção do consumo das famílias liberou recursos para financiar investimentos massivos (privados e públicos) em capital físico, além de um superávit também expressivo na conta corrente do balanço de pagamentos.

Outra maneira de descrever o mesmo mecanismo seria dizer que a compressão relativa da renda do trabalho levou a um aumento da concentração da renda pessoal na China, o que, por sua vez, aumentou a taxa de poupança e a taxa de investimento (interno e externo). Com efeito, o coeficiente de Gini chinês, que era de pouco mais de 30 pontos, em 1981, chegou a 49 pontos, em 2008, e declinou ligeiramente, a partir daí, alcançando recentemente 46 pontos,  enquanto a taxa de poupança, se situou em 34%, em 1981, 50%, em 2008, e 45%, em 2018.

Nada de novo sob o sol, tendo em vista que este mix de ditadura, concentração de renda e rápida acumulação de capital é também a explicação frequentemente proposta para processos anteriores de crescimento econômico acelerado, como o “milagre brasileiro”, entre 1968 e 1973.

18.8.20

Clubes de convergência - de qual clube o Brasil é sócio?

Que países emergentes, dado o crescimento do produto por trabalhador que apresentaram, no período 1970 - 2018, devem se juntar, no longo prazo, ao grupo de países desenvolvidos? 

Esta pergunta é respondida no relatório Global Productivity –Trends, Drivers and Policies, recém-publicado pelo Banco Mundial. 

Um exercício utilizando dados para 98 países e a metodologia de clubes de convergência identificou 16 países emergentes em trânsito para o clube de países ricos:

. 2 países da América Latina: Chile e Panamá

. 5 países europeus, todos ex-comunistas: Albânia, Bulgária, Romênia, Hungria e Polônia

. 2 países do Oriente Médio: Turquia e Iraque

. 2 países do Sul da Ásia: Índia e Sri Lanka

. 5 países do Sudeste Asiático: China, Vietnam, Tailândia, Mianmar e Malásia

Estas 16 economias emergentes com maior probabilidade de se incorporar ao grupo de economias desenvolvidas se caracterizam, em geral, por níveis iniciais de educação mais elevados, por governos mais efetivos, de acordo com os Indicadores Internacionais de Governança do Banco Mundial, e por maior complexidade, medida pelo índice de Hausmann-Hidalgo, relativamente às demais economias não desenvolvidas.

O Brasil integra um segundo clube de convergência, formado por 31 países, dentre eles Argentina, México, Angola, Moçambique, África do Sul, Nigéria, Marrocos, Argélia, Egito, Irã, Bangladesh, Indonésia e Filipinas.

Três outros clubes de convergência, de acordo com os resultados deste exercício, reúnem 21 países em que a produtividade do trabalho tende a permanecer muito baixa.

Os clubes de convergência identificados não implicam  necessariamente eliminação completa das diferenças no nível de produto por trabalhador entre os países que os integram, o que seria, segundo os autores do relatório, uma condição muio estrita, que não é satisfeita nem pelas economias classificadas atualmente como desenvolvidas. Entretanto, tal como aconteceu com as economias desenvolvidas nos últimos 50 anos, se pode esperar, em cada clube de convergência, uma redução considerável das diferenças de produtividade, ao longo do tempo, com apenas diferenças menores, ainda que persistentes, tendendo a subsistir.

4.8.20

Comparação entre os PIBs dos Estados Unidos e China

Na postagem anterior, se mostrou que o PIB da China, quando convertido em dólares pela taxa de câmbio que confere ao dólar o mesmo poder de compra nos Estados Unidos e na China (taxa de câmbio PPP), era praticamente idêntico ao PIB americano, em 2017.

Quando, porém, a conversão em dólares é feita pela taxa de câmbio de mercado, o PIB americano superava em 60% o PIB chinês, naquele ano.

Qual dessas medidas é a mais apropriada para comparar as duas economias depende do objetivo da comparação, como mostra Jeffrey Frankel, neste artigo publicado pelo Project Syndicate.

(Versão em português aqui)