9.2.08

Capitalismo e liberdade

Da coluna de Antônio Cícero, na edição de hoje da Folha de São Paulo:

"Dado que, no socialismo, as atividades econômicas não são realizadas tendo em vista a subsistência ou o lucro, é necessário que o partido - como diz uma enciclopédia publicada pelo Instituto Bibliográfico da extinta República Democrática Alemã -oriente a criação da 'unidade moral e política do povo', de modo que o trabalho se transforme 'de mero meio de subsistência em um assunto de honra'. No regime socialista, a intolerância em relação a heresias - ideologias alternativas, 'desvios', 'revisionismos' etc.- não é meramente acidental. A repressão a elas não se reduz a um mero estratagema político. Ela provém da necessidade estrutural de manter a unidade ideológica indispensável para o funcionamento da própria base econômica. Já o capitalismo funciona independentemente das idéias, concepções, religiões, atitudes, isto é, das ideologias, dos operários, capitalistas, técnicos, administradores ou consumidores que o fazem funcionar. Ainda que cada indivíduo pense e aja de uma maneira diferente de todos os outros, o capitalismo é capaz de prosperar, desde que seja observado de modo geral um mínimo de leis e regras formais de convivência. É exatamente por isso que ele é compatível com a maximização da liberdade individual, a sociedade aberta e o reformismo. O socialismo necessita, para o seu funcionamento, de uma ideologia particular, correspondente à sua base econômica, e que, por isso, não é capaz de tolerar ideologias alternativas. O capitalismo, porém, exatamente porque a sua base econômica opera a partir do puro interesse material, independentemente de qualquer ideologia particular, não necessita de nenhuma ideologia específica, de modo que é capaz de tolerar todas, inclusive as que lhe foram ou são hostis, como o catolicismo ou o marxismo-leninismo".