27.7.08

Taxa de juros real no Brasil (II)

Andrei Spacov explicou recentemente em artigo no Valor Economico porque a taxa de juros nominal no Brasil é tão alta:
"Por que nossa taxa de juros real é tão alta comparada a de outros países? Que as taxas nominais são altas é um fato. Porém, para se chegar à afirmação de que as taxas reais também o são, temos de introduzir na análise as expectativas inflacionárias. Qual seria a sua expectativa para a taxa de inflação anual, digamos, daqui a cinco anos? Algo coerente com a atual meta do BC de 4,5%? E quanto ao risco de um retorno ao nosso passado de descontrole inflacionário? Fatores como a elevada dívida do setor público brasileiro denominada em moeda nacional, portanto passível de ser reduzida caso a inflação suba, talvez tornem o país mais vulnerável em comparação a outros que também tiveram experiência hiperinflacionária recente. Suponhamos então que o leitor atribua uma probabilidade baixa, digamos de dez em cem vezes, de que no futuro a inflação volte a fugir do controle, atingindo níveis semelhantes aos de alguns de nossos vizinhos sul-americanos. Nesse caso, sua expectativa inflacionária seria de 90% multiplicado por 4,5%, somado à multiplicação de 10% por 30%. Isso resultaria em expectativa de 7% - 57% maior do que a meta inflacionária atual. É possível imaginar ainda que essa probabilidade do cenário ruim varie no tempo. Em épocas de maior incerteza, como por exemplo em 1999 ou 2002, parece razoável atribuir uma probabilidade maior para o cenário ruim (digamos 30%), e aí a expectativa inflacionária seria de 12%. Esse exercício ilustra um fenômeno popularizado por Milton Friedman que, ao analisar na década de 70 o desconto perene que o mercado de câmbio embutia sobre o peso mexicano, cogitou que isso se devia à atribuição de uma pequena probabilidade de que uma grande variação de preço pudesse ocorrer. Desde então, esse tipo de fenômeno ficou conhecido como 'peso problem' ".