27.2.17

Estagnação Secular (II)

A taxa média anual de crescimento da produtividade do trabalho nos Estados Unidos se reduziu, a partir de 2003, tendo, entre 2008 e 2016, alcançado menos da metade do valor observado entre 1996 e 2002, conforme os dados reproduzidos abaixo, originalmente publicados aqui.

Esta desaceleração do crescimento da produtividade, atribuída ao avanço mais lento do progresso técnico, constitui o fundamento empírico da hipótese de "estagnação secular" discutida na última postagem, que hoje tem Robert Gordon, professor da Northwestern University, como principal proponente.


Estados Unidos - Taxa de crescimento
da  produtividade do trabalho
1948 / 1973   - 3,3%
1974 / 1996   - 1,5%
1996 / 2002   - 3,3%
2003 / 2007   - 2,2%
2008 / 2016* - 1,3%
* até o terceiro trimestre

22.2.17

Estagnação Secular (I)


Na palestra mencionada na postagem anterior, Philippe Aghion discutiu também a hipótese da “estagnação secular”, recentemente proposta por alguns economistas.

De acordo com esta hipótese, a desaceleração da taxa de crescimento da produtividade do trabalho, observada, nos últimos anos, nos países desenvolvidos, reflete uma tendência de longo prazo – não vai mais haver crescimento econômico acelerado, porque as inovações de maior impacto já ocorreram.

Em relação a esta hipótese, Aghion contrapõe os seguintes argumentos:

·         As novas tecnologias da informação e comunicação não mudaram apenas a maneira de produzir bens e serviços, mas também a maneira de produzir idéias. A tecnologia para produzir idéias nunca foi tão boa quanto é hoje.

·         Continua a haver uma grande necessidade de inovações, em áreas como saúde, energia renovável e outras, e os incentivos para a inovação são imensos, porque os retornos da inovação nunca foram tão grandes como são agora – graças à globalização, o mercado para uma grande inovação é o mundo inteiro, de modo que os retornos são muito elevados.

·         Para muitos países, há ainda a vantagem do atraso. Através de "reformas estruturais", é possível aumentar significativamente a taxa de crescimento da produtividade, como fizeram recentemente a Suécia, Holanda e Canadá.

·         Pode estar havendo problemas na mensuração do crescimento econômico, levando à impressão errônea de que o crescimento desacelerou. Quando um bem hoje custa mais do que outro bem que atendia a mesma necessidade ontem, é preciso determinar quanto dessa diferença de preço se deve a inflação e quanto se deve a melhora da qualidade. Se é exatamente o mesmo bem, o aumento de preço se deve exclusivamente à inflação. Se há uma ligeira melhora da qualidade, é possível estimar de quanto ela foi e separar os dois efeitos. Mas, quando se trata de um novo produto substituindo um produto antigo, a questão é mais complicada e aumentos de preço devidos a melhora da qualidade podem ser equivocadamente computados como inflação. É possível que o crescimento da produtividade total dos fatores esteja sendo subestimado em um ponto percentual por causa desses problemas de mensuração (em lugar de 1,5%, seja, de fato, de 2,5%, o que não se pode chamar de estagnação).

20.2.17

Armadilha da renda média


Philippe Aghion, professor do College de France, foi o conferencista convidado para a 13th Raymond Aron Lecture, organizada anualmente pela Center on the United States and Europe, da Brookings Institution.

Com o título de “Can we make growth more inclusive?”, a palestra abordou alguns dos temas centrais do debate corrente sobre crescimento econômico.

Sobre a armadilha da renda média, Aghion apresentou os argumentos resumidos abaixo.

Há duas maneiras de gerar crescimento da produtividade. Uma é alcançar os líderes, alcançar a fronteira tecnológica (catching up). A outra maneira é inovar. As políticas que promovem o catching up são diferentes das políticas que promovem a inovação.

No processo de catching up, o crescimento se dá via imitação, com transferências de tecnologia, realocação de fatores de produção e adoção de práticas gerenciais melhores. Não importa muito se a competição no mercado de produto é limitada, nem se o mercado de trabalho é pouco flexível. Importa pouco não ter bons programas de pós-graduação ou não ter equity finance (bancos e subsídios bastam).

Quando se quer fazer inovação de fronteira, por outro lado, é importante ter competição, entrada e saída fáceis no mercado de produtos. Para as firmas na fronteira tecnológica, mais competição induz inovação, para escapar da competição pela entrada. Para as firmas tecnologicamente defasadas, mais competição tende a causar mais desencorajamento. Quanto mais avançado é um país, mais firmas ele terá na fronteira tecnológica e maior o efeito sobre o crescimento da liberalização do mercado de produtos.

Para crescer via inovação, é preciso também que o mercado de trabalho seja flexível, de modo que seja possível contratar rapidamente ou demitir, se há mudança de atividade.

O crescimento é um processo conflitivo, envolve um conflito entre o velho e o novo. Inovações, particularmente inovações de fronteira, deslocam tecnologias antigas. Os inovadores de ontem tendem a se tornar os incumbentes entrincheirados de hoje, que tentam evitar que surjam inovações. Alguns países lidam com este problema melhor do que outros. Há países que começaram a crescer via catching up e que deveriam, em determinado momento, ter passado para políticas que favorecem a inovação de fronteira, ter realizado o que se tem chamado de “reformas estruturais”, mas não fizeram isso, por causa dos resistência dos incumbentes. Essa pode ser uma explicação de porque é difícil a transição do crescimento baseado na imitação para o crescimento baseado na inovação e, portanto, de porque existe a armadilha da renda média.