Philippe Aghion, professor do College de France, foi o conferencista convidado para a 13th Raymond Aron Lecture, organizada anualmente pela Center on the United States and Europe, da Brookings Institution.
Com o título de “Can we make growth more inclusive?”, a
palestra abordou alguns dos temas centrais do debate corrente sobre crescimento
econômico.
Sobre a armadilha da renda média, Aghion apresentou os
argumentos resumidos abaixo.
Há duas maneiras de gerar crescimento da produtividade. Uma
é alcançar os líderes, alcançar a fronteira tecnológica (catching up). A outra maneira é inovar. As políticas que promovem o
catching up são diferentes das
políticas que promovem a inovação.
No processo de catching
up, o crescimento se dá via imitação, com transferências de tecnologia,
realocação de fatores de produção e adoção de práticas gerenciais melhores. Não
importa muito se a competição no mercado de produto é limitada, nem se o
mercado de trabalho é pouco flexível. Importa pouco não ter bons programas de
pós-graduação ou não ter equity finance
(bancos e subsídios bastam).
Quando se quer fazer inovação de fronteira, por outro lado, é
importante ter competição, entrada e saída fáceis no mercado de produtos. Para
as firmas na fronteira tecnológica, mais competição induz inovação, para
escapar da competição pela entrada. Para as firmas tecnologicamente defasadas,
mais competição tende a causar mais desencorajamento. Quanto mais avançado é um
país, mais firmas ele terá na fronteira tecnológica e maior o efeito sobre o
crescimento da liberalização do mercado de produtos.
Para crescer via inovação, é preciso também que o mercado de
trabalho seja flexível, de modo que seja possível contratar rapidamente ou
demitir, se há mudança de atividade.
O crescimento é um processo conflitivo, envolve um conflito
entre o velho e o novo. Inovações, particularmente inovações de fronteira,
deslocam tecnologias antigas. Os inovadores de ontem tendem a se tornar os
incumbentes entrincheirados de hoje, que tentam evitar que surjam inovações.
Alguns países lidam com este problema melhor do que outros. Há países que
começaram a crescer via catching up e
que deveriam, em determinado momento, ter passado para políticas que favorecem
a inovação de fronteira, ter realizado o que se tem chamado de “reformas
estruturais”, mas não fizeram isso, por causa dos resistência dos incumbentes. Essa
pode ser uma explicação de porque é difícil a transição do crescimento baseado
na imitação para o crescimento baseado na inovação e, portanto, de porque
existe a armadilha da renda média.