A taxa de juros SELIC,
descontada a inflação medida pelo IPCA-IBGE, se reduziu de cerca de 7,5% a.a.,
em 2016, para perto de 1% a.a., no final de 2019.
Essa redução da SELIC
real se deveu, entre outros motivos, ao avanço do ajuste fiscal, iniciado no
Brasil em 2015, e tende a induzir a redução das taxas de juros incidentes sobre
as diferentes linhas de crédito na economia.
Como a queda da
taxa de juros real afeta a demanda agregada?
Na postagem
anterior, se mostrou que a redução da taxa de juros real está associada a um
aumento do consumo das famílias e do investimento doméstico.
Além disso, a
queda da taxa de juros eleva também o investimento externo líquido, que
corresponde à diferença entre o valor das aquisições de ativos financeiros estrangeiros
por residentes e o valor das aquisições de ativos financeiros domésticos por
não residentes. Quando a taxa de juros doméstica se reduz, tudo o mais
constante, tanto residentes como não-residentes tendem a se desfazer de ativos
de emissão doméstica e a adquirir ativos emitidos no resto do mundo. Assim, a
oferta de moeda estrangeira se reduz, enquanto a demanda por moeda estrangeira
aumenta, levando a um aumento do preço da moeda estrangeira. A desvalorização
da moeda doméstica, por sua vez, eleva as exportações líquidas de bens e
serviços, contribuindo para aumentar a demanda agregada.
Portanto, o
ajuste fiscal, pelos efeitos que tem sobre a taxa de juros real, induz
modificações na composição da demanda agregada, resultando em contração do
consumo e investimento do governo e expansão do consumo e investimento privados
e das exportações líquidas.
A argumentação
acima sugere que, caso o ajuste fiscal em curso seja completado e consolidado,
não há motivos para maior preocupação com o fato de o déficit em conta corrente
se encontrar atualmente próximo de 3% do PIB. A desvalorização da moeda
doméstica, associada ao ajuste fiscal, deve contribuir para manter este déficit
sob controle.