20.12.19

Redução da taxa de juros real e demanda agregada

A taxa de juros SELIC, descontada a inflação medida pelo IPCA-IBGE, se reduziu de cerca de 7,5% a.a., em 2016, para perto de 1% a.a., no final de 2019.

Essa redução da SELIC real se deveu, entre outros motivos, ao avanço do ajuste fiscal, iniciado no Brasil em 2015, e tende a induzir a redução das taxas de juros incidentes sobre as diferentes linhas de crédito na economia.

Como a queda da taxa de juros real afeta a demanda agregada?

Na postagem anterior, se mostrou que a redução da taxa de juros real está associada a um aumento do consumo das famílias e do investimento doméstico.

Além disso, a queda da taxa de juros eleva também o investimento externo líquido, que corresponde à diferença entre o valor das aquisições de ativos financeiros estrangeiros por residentes e o valor das aquisições de ativos financeiros domésticos por não residentes. Quando a taxa de juros doméstica se reduz, tudo o mais constante, tanto residentes como não-residentes tendem a se desfazer de ativos de emissão doméstica e a adquirir ativos emitidos no resto do mundo. Assim, a oferta de moeda estrangeira se reduz, enquanto a demanda por moeda estrangeira aumenta, levando a um aumento do preço da moeda estrangeira. A desvalorização da moeda doméstica, por sua vez, eleva as exportações líquidas de bens e serviços, contribuindo para aumentar a demanda agregada.

Portanto, o ajuste fiscal, pelos efeitos que tem sobre a taxa de juros real, induz modificações na composição da demanda agregada, resultando em contração do consumo e investimento do governo e expansão do consumo e investimento privados e das exportações líquidas.

A argumentação acima sugere que, caso o ajuste fiscal em curso seja completado e consolidado, não há motivos para maior preocupação com o fato de o déficit em conta corrente se encontrar atualmente próximo de 3% do PIB. A desvalorização da moeda doméstica, associada ao ajuste fiscal, deve contribuir para manter este déficit sob controle.