27.4.08

Política fiscal, taxa de juros e taxa de câmbio

Sérgio Werlang explica, em sua coluna no Valor Economico, porque a política fiscal atualmente praticada pelo governo brasileiro leva a aumento da taxa de juros e valorização da taxa de câmbio:

  • "Diz-se que a política fiscal no Brasil é austera, pois há superávit primário (as receitas tributárias excedem as despesas não financeiras). Isto é muito eficaz para a sustentabilidade da dívida pública no longo prazo, uma vez que a relação dívida/PIB é cadente. Porém, não significa que os gastos públicos não estejam causando pressão na economia".
  • "É sabido que, se os impostos crescem e as despesas também, tem-se efeito de expansão na economia. Quando o imposto sobe, a renda disponível cai e há uma contração do consumo. Como nem toda renda disponível é consumida (parte é poupada), o maior tributo causa uma queda da renda nacional, mas não de um para um. Ao mesmo tempo, quando o gasto público sobe, tem-se um efeito na atividade econômica de um para um. Dessa forma, quando os dois efeitos são combinados (isto é, uma elevação de despesas é financiada com mais impostos), o impacto final na demanda agregada acaba sendo positivo".
  • "Portanto, embora a política fiscal brasileira possa ser classificada de austera porque a receita está maior que os gastos não financeiros, ainda assim é expansionista. E muito: entre 2003 e 2007, a despesa não financeira do governo central cresceu 9,5% ao ano, a preços constantes".
  • "O Banco Central tem a missão de controlar a inflação e mantê-la na meta. Tendo em vista o aumento dos gastos públicos e a elevação recente do preço internacional das 'commodities', o BC foi forçado a aumentar os juros para conter a inflação. Se os juros no Brasil sobem e no resto do mundo têm-se mantido ou estão em queda, recursos acabam fluindo para o Brasil, o que causa uma valorização do câmbio".
  • "Como é impossível controlar os preços dos alimentos no mundo, só há uma alternativa à elevação dos juros para conter a inflação: uma redução de demanda via um corte de gastos públicos. Com a situação internacional atual, enquanto permanecer a política fiscal expansionista no Brasil, será inevitável a manutenção de juros elevados e, por conseqüência, do câmbio valorizado".

Sobre este ponto, ver também postagens anteriores neste blog, de janeiro, abril e setembro de 2007.