25.3.07

Rodada Doha - muito barulho por nada?

Evidências de que os ganhos (e perdas) potenciais da Rodada Doha são pouco signficativos são reportadas por Clóvis Rossi, na edição de hoje da Folha de São Paulo.

O artigo comenta resultados obtidos por Sandra Polaski, do Centro Carnegie para a Paz Internacional, os quais são resumidos abaixo:
  • "A economia mundial terá um ganho de 0,2% em relação a seu tamanho atual, se houver um acordo na Rodada Doha. Em números absolutos, o ganho oscilará entre US$ 40 bilhões e US$ 60 bilhões para todos os 150 países envolvidos na negociação".
  • "Há tanto ganhadores líquidos como perdedores líquidos, nos diferentes cenários, e os países mais pobres estão entre os perdedores líquidos, em qualquer dos prováveis cenários. Os países subsaarianos, justamente os mais pobres entre os pobres, sofrerão uma redução em sua renda de aproximadamente 1%. O grande ganhador é a China, com aumento entre 0,8% e 1,2% de seu PIB".
  • "Alguns poucos países ganharão com a liberalização agrícola, notadamente Brasil, Argentina e Tailândia. Este ganho, entretanto, é pequeno. Para o Brasil, especificamente, é de apenas US$ 251 milhões".
  • "Os maiores ganhos virão da liberalização na indústria o que naturalmente beneficiará os países e regiões mais ricas".
  • "O comércio não é a panacéia para aliviar a pobreza e, mais genericamente, para o desenvolvimento. O comércio é um fator entre muitos que podem contribuir para o crescimento econômico, mas sua contribuição tende a ser muito modesta".
O artigo é interessante, mas contém um sério equívoco - a sugestão de Rossi de que estes resultados "contrariam frontalmente todos os demais estudos, especialmente os de organizações internacionais, que costumam anunciar uma cornucópia de benefícios para o mundo todo no caso de a Rodada Doha chegar a bom termo".

A verdade é que a grande maioria dos estudos disponíveis sobre negociações e acordos deste tipo indicam que seu impacto sobre a renda dos países envolvidos tende a ser bastante modesto. Rossi (e muito mais gente), em sua má vontade com relação aos "economistas ortodoxos", está mal informado sobre o que as avaliações dos economistas têm mostrado a este respeito.

Adendo: O relatório de Polaski pode ser obtido neste endereço.