30.4.07

Efeitos do piso salarial dos professores

Sérgio Firpo discute, na edição de hoje do Valor Econômico, a proposta do governo federal de estabelecimento de um piso de R$ 850 para os salários dos professores da rede pública de ensino básico:

  • "Dados da Pnad 2005, ajustados a valores monetários correntes, mostram que, na rede pública, 43% dos professores do ensino básico com jornada acima de 40 horas ganham menos do que o piso proposto".
  • "Resultados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) de 2003 indicam que o aumento de salários destes professores pode vir a ter impacto muito pequeno sobre o aprendizado dos alunos. Um aumento de 1% no salário médio dos professores da rede pública do ensino básico deve se refletir em apenas 0,01% de aumento no desempenho dos alunos em testes padronizados. Esse efeito, ademais, é apenas observado entre os alunos da 4ª série, sendo nulo na 8ª série e no 3º ano do ensino médio".
  • "Os mesmos dados sugerem que o que conta em sala de aula são, em geral, escolaridade e experiência do professor. O efeito de se ter um professor com nível superior sobre o desempenho dos alunos é equivalente ao efeito de um aumento salarial de 100%".
  • "Do ponto de vista de uso eficiente dos recursos públicos, uma política mais interessante e relativamente simples, porém não ideal, pois não gera incentivos aos que já têm nível superior, seria o de instituir o piso apenas para os que possuíssem o diploma universitário (licenciatura)".
  • "Nesse caso, o impacto sobre as finanças públicas seria muito menor - R$ 19,6 milhões por mês ou 30% do montante previsto sem tal condicionalidade".
  • "Parte dessa 'economia' poderia ser usada com programas de qualificação de professores. Haveria, assim, incentivos e condições para os professores se qualificarem e os efeitos sobre o desempenho dos alunos seriam maiores".

Duplo mandato dos Bancos Centrais

Frederic Mishkin, que agora preside a seção de Nova Iorque do Federal Reserve, explica nesta conferência o que os bancos centrais precisam fazer para cumprir seu duplo mandato - manter o emprego no nível máximo sustentável e a inflação baixa e estável.

Oferta de bens públicos e diversidade racial e étnica

A oferta de bens públicos varia inversamente com a diversidade racial, étnica, linguística e religiosa de um país, segundo pesquisa de Alberto Alesina e Edward Glaeser, comentada em artigo publicado em The New York Times, neste final de semana.

Crescimento (falta de) - intervenção do estado na economia

Da coluna de Armando Castelar Pinheiro, na edição de sexta feira do Valor Econômico:
"A privatização, a abertura comercial, o fim de controles de preços, dos subsídios dados a certas empresas e trabalhadores e das restrições à entrada reduziram a intervenção estatal na economia brasileira. Porém, apesar de significativa, essa redução foi limitada. O Estado brasileiro ainda influencia bastante as decisões de investimento, por meio de estatais como a Petrobras, de tarifas de importação, tributos, regulações e do direcionamento do crédito, inclusive pelos bancos públicos, responsáveis por 37% dos empréstimos do sistema financeiro. Em 1985, o setor público consumia 10,4% do PIB e investia 2,5%; vinte anos depois, consumia 20,1% do PIB e investia 1,6%. Em 1988, as despesas do INSS somavam 2,5% do PIB; em 2006 já chegavam a 7,1% do PIB, com viés de alta. As comparações internacionais mostram que o gasto público no Brasil é dos mais altos entre os emergentes e rivaliza com o dos países desenvolvidos que mais intervêm na economia".

29.4.07

Colônia de exploração

Resultado de pesquisa do professor Sérgio Pena (UFMG), reportado na edição de hoje do Estado de Minas:

"Levantamento realizado nas regiões Norte, Nordeste, Sudeste e Sul, mostrou que, examinando-se a linhagem paterna, o brasileiro branco é essencialmente europeu. Já na linhagem materna, existe mistura equivalente a 39% de contribuição européia, 33% ameríndia e 28% africana. A pesquisa comprova que os colonizadores portugueses não trouxeram suas mulheres e tiveram filhos com as escravas africanas e índias".

Adendo: Mais detalhes sobre a pesquisa de Sérgio Pena podem ser encontrados nesta página.

28.4.07

Crescimento e redução da pobreza


Este gráfico, extraído do 2007 World Development Indicators, mostra que existe uma clara correlação entre a performance das economias em termos de crescimento e sua performance em termos de redução da pobreza. O crescimento certamente é uma condição necessária, ainda que, segundo o WDI, não suficiente, para a redução da pobreza.

O Brasil precisa de política industrial?

Em um artigo recém-publicado na seríe Ensaios Econômicos - EPGE / FGV, Maurício Canedo Pinheiro, Pedro Cavalcanti Ferreira, Samuel Pessoa e Luiz Schymura mostram porque o Brasil não precisa de política industrial.

Os principais argumentos do paper são:
  • "Não há evidência de que o sucesso dos países do Leste Asiático se deva primordialmente ao uso de políticas industriais setoriais. Na verdade, a adoção de políticas horizontais teve um papel preponderante no desempenho destes países".
  • "Mesmo na presença de falhas de mercado, as políticas adequadas são de caráter horizontal ou são mais eficazes se acompanhadas destas políticas".
  • "Não existe racionalidade econômica na promoção de setores estratégicos 'avançados' ou 'de ponta' ".
Os defensores da política industrial frequentemente se valem do seguinte silogismo para justificar tal política: (i) Os países do Leste Asiático foram bem sucedidos, no que diz respeito ao crescimento econômico. (ii) Os países do Leste Asiático fizeram uso da política industrial. (iii) Logo, a política industrial é necessária para o crescimento econômico.

Este argumento, segundo os pesquisadores da FGV, é falho por causa de um viés de seleção - nem todos os países que fizeram uso da política industrial foram bem sucedidos, em termos de crescimento econômico - e de um problema de identificação - os países asiáticos também adotaram políticas de caráter horizontal, além da política industrial.

O que a vida vale

Os economistas consideram que o valor da vida é finito e pode ser estimado. Tim Harford reproduz, na sua coluna The Undercover Economist, publicada em Slate, estimativas de quanto a vida parece valer para membros de algumas profissões.

26.4.07

Protecionismo e desigualdade

O governo brasileiro decidiu ontem elevar a tarifa de importação incidente sobre produtos texteis e calçados de 20% para 35%.

Há algumas semanas, Cláudio Haddad argumentou, em um artigo no Valor Econômico, que essa medida tende a aumentar a desigualdade:

"Vestuário e calçados representam uma parcela maior do orçamento do pobre do que do rico. Logo, a medida atinge particularmente o primeiro. A concentração de renda no Brasil é agravada pelos altos preços dos produtos básicos de consumo, fruto da estrutura tributária atual e de elevados custos de transporte e distribuição. O aumento da tarifa de importação sobre têxteis e calçados aumenta a ineficiência e agrava a concentração de renda, ao proteger alguns produtores à custa do consumidor, principalmente dos mais pobres".

22.4.07

História da escravidão

Da coluna de Manolo Florentino, na edição de hoje da Folha de São Paulo:
"De acordo com o historiador norte-americano Joseph Miller, de cada cem escravos apanhados em Angola, 36 morriam entre a captura e o traslado até a costa, 7 à espera do embarque nos navios negreiros, 6 pereciam durante a travessia oceânica e 23 feneciam nos primeiros anos de Brasil - ou seja, em quatro anos, 72% de mortalidade acumulada!"

A experiência dos community colleges americanos

Perto de metade dos alunos matriculados em instituições de ensino superior nos Estados Unidos estudam nos chamados community colleges, escolas que oferecem cursos de 2 anos, quase sempre com um viés "profissionalizante". A analogia no Brasil seria com os chamados cursos de tecnólogos ou cursos superiores de tecnologia, alternativa aos tradicionais bacharelados de 4 anos introduzida recentemente no ensino superior brasileiro.

A edição de hoje do New York Times traz um artigo bastante informativo sobre as características e papel dos community colleges americanos.

Adendo: Sobre o mesmo tema, este outro artigo do New York Times também merece ser lido.

Alternativa a Doha

José Alexandre Scheinkman, na sua coluna da Folha de São Paulo, examina as alternativas com que conta o Brasil, no caso de um fracasso da Rodada Doha:

"Se a Rodada Doha fracassar, uma alternativa para o Brasil é perseguir pactos bilaterais e regionais de livre comércio tendo em conta dois importantes princípios: (1) as áreas de livre comércio são preferíveis às uniões aduaneiras, como o Mercosul, porque não nos comprometem a manter barreiras contra os produtos de outros países; (2) os ganhos no comércio internacional são, em geral, proporcionais ao tamanho dos nossos parceiros. Por isso, acordos com as grandes economias -EUA, Japão, China e União Européia- têm potencial muito maior de gerar benefícios do que pactos com a Venezuela ou a Bolívia. Esses princípios aparentemente contradizem a atual doutrina do Itamaraty, mas constituem o melhor caminho para que o Brasil se aproveite do crescimento global".

21.4.07

Crescimento (falta de) - educação (II)

Da coluna de Naércio Menezes, na edição do Valor Econômico deste fim de semana:
  • "A nota média dos alunos brasileiros, em 2003, no exame internacional de proficiência em matemática (PISA) foi 360, enquanto a média da OCDE foi 500. Mais ainda, a nota média dos alunos brasileiros mais ricos foi 410 (incluindo as escolas privadas), enquanto os alunos mais pobres da OCDE alcançaram 455".

17.4.07

Taxa de juros real no Brasil (I)


Usando um painel de 66 países no período de 1996 a 2004, Edmar Bacha, Fernando Gonçalves e Marcos Holland construíram um modelo para os determinantes da taxa real de juros incluindo as seguintes variáveis:

(1) riscos de diluição inflacionária e de calote da dívida, capturados empiricamente pela volatilidade e a aceleração da inflação

(2) tamanho da dívida pública

(3) acesso a contas em dólar pelos residentes do país

(4) controles de capitais

(5) classificação de risco do país

(6) qualidade jurisdicional

(7) renda per capita

Com base neste modelo, foi estimada a taxa real de juros para o Brasil compatível com os padrões internacionais, dadas as características de risco do país. Esta taxa de juros real "teórica" foi, então, comparada com a taxa de juros realmente praticada.

Até 1999, a taxa real de juros praticada foi dada pela taxa Selic ajustada pela inflação no ano, medida pelo IPCA. A partir de 2000, a taxa praticada correspondeu a uma inferência sobre a meta do Banco Central para a taxa de juros real, sendo esta meta definida como o menor valor entre a taxa Selic ajustada pela inflação no ano e a taxa Selic ajustada pela expectativa da inflação em dezembro do ano anterior. De acordo com os autores, essa seria uma boa regra para um banco central prudente: sempre se guiar, na fixação da taxa Selic, pelo maior valor entre a inflação observada e a inflação esperada.

Em artigo na edição de hoje do Valor Econômico, Bacha e Holland sugerem que "apesar de a taxa real estimada para o Brasil ter-se mantido entre 1996 e 2006 quase sempre no intervalo entre 5,5% e 7,5%, a taxa real praticada foi muito mais alta". O gráfico acima mostra isso.

Note-se que, dada a definição da taxa de juros praticada, quando, a partir de 2000, esta taxa supera a taxa estimada, o Banco Central está sendo ainda mais cauteloso do que o sugerido pela regra de prudência proposta ou então está praticando uma forma de gradualismo não capturada pelo modelo.

Crescimento (falta de) - abertura da economia (IV)

Da coluna de Sérgio Werlang, na edição de hoje do Valor Econômico:

"O Brasil é um país muito fechado à importação. Para o ano de 2005, utilizando a base de dados do International Financial Statistics do FMI para as importações e a base de dados da Moody's para o PIB em dólares, o Brasil tem uma relação importação sobre o PIB de 8,6%, a menor dentre todos os 89 países para os quais estes dois dados estão disponíveis".

Crescimento (falta de) - ambiente de negócios

Segundo o relatório "Indicadores do Desenvolvimento Mundial", divulgado pelo Banco Mundial, o Brasil figura entre os piores lugares do mundo para se fazer negócios. Esta conclusão foi obtida com base em entrevistas com empresas, dados de consultorias de negócios e informações produzidas por governos.

No quesito corrupção, apenas três países aparecem em situação pior que a do Brasil: Benin, Guatemala e Quênia.

No item rigidez na legislação trabalhista como obstáculo para a eficiência e menores custos, nenhum país atinge resultado tão ruim quanto o Brasil.

O país só perde de novo para Benin na avaliação sobre o peso que a carga tributária tem contra um ambiente de negócios mais favorável às empresas e a novos investimentos.

A dificuldade na obtenção de crédito também é um empecilho ao desenvolvimento no país.

(Informações publicadas na edição de hoje da Folha de São Paulo).

Crescimento econômico no longo prazo - Brasil e Estados Unidos

Acima a evolução da razão entre o PIB per capita do Brasil e dos Estados Unidos, no período de 131 anos compreendido entre 1870 e 2001.

Esta razão era de 29%, em 1870, se reduziu para 15% - 16% em 1900 e permaneceu neste patamar até a Grande Depressão.

Passadas as perturbações relacionadas com a Grande Depressão e a 2a Guerra Mundial, retornou ao nível anterior de 16% e começou a se elevar a partir daí, alcançando 28%, em 1980.

Desde então, com as "duas décadas perdidas", declinou para 20%.

16.4.07

Taxas de crescimento "de longo prazo" - Brasil e Estados Unidos

O gráfico agora mostra as taxas de crescimento "de longo prazo" do PIB per capita dos Estados Unidos e do Brasil, no período 1870 - 2001, obtidas através do método de Hodrick-Prescott.

A média das taxas anuais de crescimento, no caso americano, é precisamente 1,87%. A volatilidade do crescimento é relativamente alta, com o coeficiente de variação (desvio padrão / média) das taxas de crescimento correspondendo a 0,65 (elevado, quando se considera que estas não são as taxas de crescimento observadas, mas as taxas "tendenciais").

No caso brasileiro, a média das taxas de crescimento é 1,57%, algo menor do que a americana. O coeficiente de variação de 0,93 sugere, como seria de esperar, mais instabilidade do que nos Estados Unidos, mesmo quando se considera a tendência de longo prazo.

O coeficiente de correlação contemporânea entre as duas taxas é surpreendentemente baixo - de apenas 0,15.

Digna de nota é a (incipiente) recuperação do crescimento na década de 90, no Brasil, com a taxa de crescimento de longo prazo se estabilizando num nível próximo de 1,1% no último quinquenio para o qual se dispõe de dados.

15.4.07

Crescimento econômico no longo prazo - Brasil

O gráfico mostra a seríe do logaritmo natural do PIB per capita brasileiro, extraída do mesmo trabalho de Angus Maddison, mencionado na última postagem.

Ajustanto uma tendência linear a esta seríe, obtém-se uma taxa de crescimento de longo prazo de 1,86%, praticamente igual à observada para os Estados Unidos. O valor de R2 é 0,90.

Crescimento econômico no longo prazo - Estados Unidos

O gráfico acima mostra a seríe do logaritmo natural do PIB per capita dos Estados Unidos, para o período 1870 - 2001, estimada por Angus Maddison e publicada em seu livro The World Economy: Historical Statistics.

Um rápido exame do gráfico deixa evidente que uma tendência linear descreve bem estes dados. A taxa de crescimento de longo prazo estimada, neste caso, é de 1,87%, com R2 (coeficiente de ajustamento) de 0,98.

Dividindo-se a seríe em dois períodos (1870 / 1928 e 1955 / 2001), para deixar de lado as conjunturas excepcionais da Grande Depressão, da 2a. Guerra Mundial e do imediato pós-guerra, as taxas de crescimento de longo prazo estimadas são, respectivamente, 1,73% e 2,15%, com R2, em ambos os casos, superior a 0,98.

14.4.07

Crescimento (falta de) - crédito (IV)


Infelizmente, tudo leva a crer que o problema da escassez de crédito no Brasil não tem solução à vista ...

Vantagem cumulativa

Duncan Watts relata, em artigo no New York Times, um experimento que objetivou entender o que determina o sucesso de vendas no mercado de bens culturais - livros, músicas, filmes ...

De acordo com o experimento realizado por Watts e colegas, dado que a "influência social" é determinante para o sucesso neste tipo de mercado, "a história importa", do que decorrem duas consequências:

(1) é impossível prever que produtos serão um sucesso de vendas.

(2) é provável que pequenas mudanças nas "condições iniciais" levem a resultados inteiramente diferentes, em termos de que produtos são bem sucedidos

Um outro mundo é sempre possível ... Madonna poderia ser hoje uma desconhecida e outra cantora, de que nunca se ouviu falar, poderia ter vendido 275 milhões de discos, nos últimos vinte anos ...

Crescimento (falta de) - o impacto das reformas e da estabilidade econômica

Evidência empírica adicional no sentido de que as reformas liberais da década de 90 e a estabilidade de preços a partir de 1994 contribuíram para o aumento da taxa de crescimento do produto per capita no Brasil é apresentada no artigo Brazil's long term growth performance - trying to explain the puzzle, de Ricardo Adrogué, Martin Cerisola e Gaston Gelos, publicado na seríe IMF Working Papers.

A evidência reunida no artigo sugere ainda que fragilidades estruturais, como a escassez de crédito, o alto custo do investimento e a elevada participação do consumo do governo no PIB continuam a prejudicar a perfomance da economia.

12.4.07

Enganado pelo acaso

Voltei a ler - agora com o propósito de ir até o fim - Fooled by Randomness, livro de Nassim Nicholas Taleb.

Alguns casos contados no livro são mais longos do que o necessário, certas idéias poderiam ter sido mais aprofundadas, o cabotinismo e a má vontade do autor com os economistas irritam um pouco, mas, apesar de tudo isso, a leitura é agradável, na maior parte do tempo.

O capítulo que estou lendo é particularmente interessante - ensina bastante sobre as divergências e intercessões entre a economia comportamental (Kahneman e Tversky) e a psicologia evolucionária (Pinker etc.).

Adendo: Malcolm Gladwell publicou em The New Yorker, em 2002, um artigo sobre Taleb e a estratégia de investimento do hedge fund administrado por ele, baseada nas idéias expostas em seu livro.

Aversão à inflação - petistas x republicanos

Interessante constatação de Antonio Carlos Lemgruber, na Folha de São Paulo de hoje:
"Não obstante a popularidade do regime de metas de inflação, os bancos centrais, na prática, se preocupam com a inflação e também com o crescimento econômico e com o balanço de pagamentos. A suprema ironia é que o governo do PT percebeu que, no Brasil, inflação baixa dá mais voto do que desemprego baixo, enquanto, nos Estados Unidos, o governo republicano raciocina de maneira oposta: a economia em recessão é que tira votos. Curiosamente, os petistas brasileiros parecem menos preocupados do que os republicanos nos Estados Unidos com o crescimento econômico e mais satisfeitos com a inflação muito baixa. Afinal, só os desempregados são afetados pelo desemprego, enquanto a inflação afeta a todos: é 100% contra 10%. Quem ganha eleição no Brasil é a inflação baixa, enquanto, nos EUA, é o desemprego baixo - o que se explica pela história dos dois países desde 1950".
No jargão, Lemgruber está dizendo que, na função perda das sociedades brasileira e americana, a inflação e o desemprego têm pesos diferentes, com o peso da inflação sendo maior no Brasil do que nos Estados Unidos e vice-versa para o desemprego, e que os políticos têm uma boa intuição disso.

É campeão!

Da edição de hoje da Folha de São Paulo:
"Nos últimos 45 anos, o Brasil conquistou o título de campeão mundial de inflação. A taxa acumulada chegou a 14.210.480.006.034.800% (quatorze quatrilhões e duzentos e dez trilhões por cento), de 1961 a 2006. A vice-liderança do ranking inflacionário coube à Argentina. Dos seis primeiros colocados na lista dos países que mais sofreram com a inflação, cinco são sul-americanos (o outro país é a Turquia). Do outro lado do ranking, os países que conseguiram melhor controle sobre a inflação entre 1961 e 2006 foram Noruega (916%); Suécia (922%), Austrália e Dinamarca (ambas com 1.018%)".

Taxa de sacrifício

Cláudio Hadad, na sua coluna do Valor Economico, apresenta algumas estimativas da chamada "taxa de sacrifício" no combate à inflação:
  • "Embora a correlação de longo prazo entre inflação e crescimento tenda a ser negativa, o combate à inflação pode acarretar um custo transitório de perda de PIB. Este custo tende a ser maior quanto mais 'atritos' houver no sistema econômico (rigidez salarial, inércia, indexação) e quanto menos favoráveis forem as expectativas de que o combate à inflação será bem-sucedido. À redução acumulada de produto relacionada com a redução de um ponto percentual da inflação dá-se o nome de 'taxa de sacrifício' ".
  • "Em estimativa para os Estados Unidos, no período do pós-guerra, Cechetti e Rich concluíram que a taxa de sacrifício poderia variar de 1% a 10% do PIB, mas que nenhuma das estimativas neste intervalo era estatisticamente diferente de zero".
  • "Em episódios mais recentes para países da OCDE, Gonçalves e Carvalho estimaram taxas de sacrifício variando de -1,41% (Polônia, 1999-03) a 21,18 % (Bélgica, 1990-98), com uma média de 5,59% para os 39 episódios examinados".
  • "Estimando as mesmas taxas para mercados emergentes, Gonçalves e Carvalho encontraram taxas variando de zero (África do Sul, 2002-04) a 6,4% (Malásia, 1998-02). A média, para os 45 episódios analisados, foi de 1,66%. Para o Brasil, no único período examinado, do segundo trimestre de 2003 ao segundo trimestre de 2004, a taxa estimada foi de 0,07%".

11.4.07

Globalização e participação do trabalho na renda

Quatro conclusões do "Panorama da Economia Mundial", uma publicação do FMI, sobre a relação entre globalização e participação do trabalho na renda nos países desenvolvidos, resumidas por Martin Wolf, na edição de hoje do Valor Economico:

(1) "Quando se pondera a força de trabalho em cada país pela participação das exportações no PIB total, verifica-se que a oferta mundial efetiva de mão-de-obra quadruplicou entre 1980 e 2005, sendo que metade deste crescimento veio do Leste Asiático".

(2) "A participação do trabalho na renda encolheu sensivelmente em todos os países de alta renda nesse período. Este declínio foi, porém, muito mais visível na Europa Continental e no Japão do que nos países de língua inglesa. A maior parte da redução deveu-se ao declínio da participação do trabalho na renda dos setores intensivos em mão-de-obra não especializada e à redução da participação desses setores na economia como um todo. A fatia do trabalho na renda dos setores intensivos em mão-de-obra especializada vem aumentando".

(3) "Globalização e mudanças tecnológicas contribuiram para a redução da parcela do trabalho na renda, sendo a tecnologia o fator mais importante. Por outro lado, mudanças nas políticas para o mercado de trabalho tiveram efeitos positivos sobre aquela participação, em larga medida devido ao crescimento do emprego".

(4) "Os países que reduziram o custo da mão-de-obra para as empresas e ampliaram a flexibilidade do mercado de trabalho registraram menores quedas da fatia do trabalho na renda total".

10.4.07

Desconcentração espacial da produção (IV)

Segundo o Atlas da Indústria Paulista, publicado em parceria pela FIESP e Fundação Seade, a participação de São Paulo no PIB industrial do país passou de 49,4% em 1996 para 40% em 2004. As explicações para isso seriam a busca por mão-de-obra mais barata, a concorrência com os produtos asiáticos, a valorização do real e a "guerra fiscal" entre os estados.

Além da migração para outros estados, houve a interiorização da indústria. A análise da distribuição do Valor da Transformação Industrial mostra que, em 1989, São Paulo tinha 50,7% do VTI do país, sendo 28,7% concentrados na região metropolitana e 22% no interior. Em 2003, quando a participação do Estado tinha caído para 43,8% nacionalmente, o interior paulista já respondia por 27% do VTI brasileiro. Para isso contribuíram fatores como o crescimento do agronegócio e as políticas municipais de atração de empresas.

(Informações publicadas na Folha de São Paulo - edição de 10 de abril de 2007).

5.4.07

Sugestões de Mankiw

Três sugestões de leitura sobre crescimento econômico, feitas em seu blog por Greg Mankiw:

Abhijit Banerjee - Toward a new development economics

Daron Acemoglu e Edward Glaeser - Is democracy the best setting for strong economic growth?

William Easterly - Africa's poverty trap

O paradoxo libertário

De acordo com Tyler Cowen, quando as idéias libertárias são bem sucedidas o principal resultado é ... mais governo!

Este ponto e alguns dilemas presentemente enfrentados pelo libertarismo são examinados em artigo postado no site do Cato Institute.

4.4.07

Taxa de câmbio e política fiscal

Alexandre Schwartzman explica, na Folha de São Paulo de hoje, a relação entre apreciação da taxa de câmbio e gasto público:

  • "Uma forma de olhar a taxa real de câmbio é a relação entre os preços dos produtos comercializáveis internacionalmente (como aviões, carne etc.) e os dos não-comercializáveis internacionalmente (tipicamente serviços)".
  • "Se o preço dos comercializáveis sobe mais que o dos não-comercializáveis, as mensagens que a economia ouve são: (a) produza mais produtos comercializáveis e menos não-comercializáveis; (b) consuma menos comercializáveis e mais não-comercializáveis. A diferença entre a produção e o consumo interno de bens comercializáveis é o saldo comercial, que cresce com a elevação desse preço relativo. Assim, um aumento do preço dos bens comercializáveis em relação aos não-comercializáveis corresponde à depreciação real do câmbio; já uma queda equivale à apreciação real da moeda".
  • "Se os gestores de política querem alterar a taxa real de câmbio, têm que achar variáveis que afetem a demanda e a oferta de bens comercializáveis e não-comercializáveis. Em particular, se querem uma taxa real de câmbio mais depreciada, basta reduzir a demanda por bens não-comercializáveis".
  • "O gasto público brasileiro é bem mais concentrado em produtos não-comercializáveis. Uma forma de reduzir a demanda por esses produtos e depreciar a taxa real de câmbio seria reduzir de forma persistente o gasto".

A versão completa do artigo está disponível no blog de Schwartzman.

Uma outra forma de descrever a conexão entre gasto público e valorização cambial foi adotada nesta postagem anterior.

3.4.07

Declínio da violência

Em artigo publicado em Edge, um dos melhores sites de divulgação científica da web, Steven Pinker discute o que, segundo ele, é "talvez a mais importante e subestimada tendência da saga humana" - o declínio da violência, o qual estaria nos permitindo viver no mais pacífico momento da história da especie.

1.4.07

Determinantes do desempenho escolar

Da coluna de Gilberto Dimenstein, na edição de hoje da Folha de São Paulo:
"Naércio Menezes, professor da USP e do Ibmec, descobriu que o uso do computador nas escolas públicas não modifica o desempenho dos alunos - aqueles com acesso à informática têm nota 0,03 mais alta, ou seja, nada. Para chegar a esse resultado, ele mergulhou nas notas e no perfil socioeconômico de 218 mil alunos do ensino fundamental e médio espalhados em 5.600 escolas de todas as regiões do país. Do cruzamento de dados apareceu uma série de fatores que ajudam o estudante - entre os principais estão a escolaridade da mãe, ter freqüentado a pré-escola, a existência de livros em casa e o número de aulas por dia".