19.1.07

Crescimento (falta de) - barreiras ao crescimento

Principais pontos da entrevista de Samuel de Abreu Pessoa, na edição de hoje do Valor Econômico:

Investimento público - "Acelerar o investimento público em infra-estrutura tem impacto sobre o crescimento. O efeito direto é muito pequeno, mas melhorar a rede de estradas, de portos, a logística em geral aumenta a rentabilidade dos outros investimentos. Há impacto permanente sobre o estímulo ao investimento do setor privado".

Restrição de oferta - "Há economistas que acham que há uma ligação forte entre juros e crescimento, avaliando que o baixo crescimento dos últimos anos se deve muito ao nível dos juros. Há outro grupo, ao qual pertenço, que acha que o problema de crescimento não é falta de demanda, mas falta de expansão da oferta. O potencial de crescimento da economia brasileira mesmo com juros reais mais baixos é essa mediocridade, de 2,5% a 3%. Para mudar esse quadro no curto prazo, o que dá para fazer é aumentar o investimento. No médio prazo, melhorar os marcos regulatórios de todos os setores. No longo prazo, é melhorar a qualidade da educação fundamental pública".

Gasto público - "O contrato social vigente no país impede o crescimento. Os dois pontos mais importantes desse contrato social são as regras que permitem às pessoas se aposentarem, tanto no setor público quanto no setor privado - e também a serem elegíveis para pensões -, e o contrato de trabalho que o setor público assina com os funcionários públicos, de acordo com o qual não há demissão, não há diferenças de salários, não há mecanismos para incentivar a produtividade, não há cobrança por produtividade. Essas duas peças do contrato social fazem com que, por um lado, haja uma enorme pressão sobre o gasto público e, por outro, uma enorme ineficiência do setor público. A elevação do gasto desvia recursos públicos do investimento em infra-estrutura, enquanto a elevação da carga tributária, necessária para financiar tal gasto, desestimula o investimento privado. Ambas resultam no baixo crescimento".

Educação - "Se o Brasil estivesse no mesmo estágio educacional que os EUA em termos quantitativos e qualitativos, quão mais próximos nós estaríamos deles? Sendo bem conservador, 35% da diferença de renda per capita se explica pelo diferencial da educação. Para atacar o problema, a prioridade deveria ser o ensino fundamental, focando na melhora da qualidade da educação. Quando se analisa o crescimento de longo prazo, o maior problema do Brasil é a baixíssima qualidade das escolas públicas. A questão é que é muito difícil melhorar a qualidade se não se puder assinar um novo contrato de trabalho com os professores. O diretor de uma escola pública não pode contratar e não pode demitir".

Distribuição de renda - "O presidente foi bem sucedido nas eleições porque distribuiu renda sem crescer, atendendo à demanda da maior parte dos eleitores. O grosso da melhora da qualidade de vida não veio do Bolsa Família nem do aumento do salário mínimo. É uma soma do choque externo, com aumento de preços de commodities, que valorizou o câmbio e tornou a comida muito mais barata, e de uma série de avanços técnicos, associados à Embrapa e outras coisas, que também baratearam muito o custo da comida no Brasil. Isso produziu um crescimento chinês no nível de qualidade de vida dos brasileiros mais pobres, até a classe média baixa. Todo mundo que vive de salário mínimo, de algum programa social ou cuja cesta de consumo depende muito de comida está muitas vezes melhor que há quatro anos".