Em um artigo bastante conhecido, divulgado em 1996, Ross Levine, então trabalhando no Banco Mundial, listou seis funções básicas desempenhadas pelo sistema financeiro, de crucial importância para o crescimento econômico:
(1) Promoção das trocas e do comércio: Ao prover os agentes econômicos de mecanismos eficientes para efetuar e receber pagamentos, o sistema financeiro reduz os custos de transação, facilitando as trocas e o comércio. O aprofundamento da especialização e da divisão trabalho é estimulado, o que contribui para o aumento da produtividade.
(2) Mobilização de poupanças: O sistema financeiro concentra a poupança gerada na economia, canalizando-a para o financiamento do investimento em capital físico (máquinas e equipamentos, inclusive aqueles incorporando novas tecnologias) e humano.
(3) Garantia de liquidez aos poupadores e de financiamento de longo prazo para os investidores: Ao agregar as poupanças de muitas famílias, das quais apenas uma parte estarão desejando sacar seus depósitos em qualquer ponto do tempo, é possível ao setor financeiro proporcionar simultaneamente liquidez para os poupadores e financiamento de médio e longo prazo para os investidores.
(4) Diversificação de risco: O setor financeiro possibilita a diversificação do risco dos poupadores, ao reunir suas poupanças e aplicá-las em uma grande variedade de projetos cujos retornos esperados não são correlacionados.
(5) Aquisição de informações sobre tomadores de empréstimos e seu monitoramento: O sistema financeiro reduz os custos de coletar e processar informações sobre potenciais tomadores de empréstimos, assim como os custos envolvidos no monitoramento do seu desempenho, ao repartir tais custos entre muitos poupadores.
Um sistema financeiro desenvolvido, portanto, reduz custos de transação, ameniza os problemas de imperfeição de informação entre poupadores e investidores e viabiliza o financiamento de investimentos de maior porte, maturação mais longa e mais risco, inclusive investimentos em pesquisa e desenvolvimento, contribuindo para o crescimento da economia através do aumento da especialização produtiva, da acumulação de capital físico e humano e do progresso tecnológico.
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Uma das medidas de desenvolvimento financeiro frequentemente adotadas na literatura sobre crescimento é a relação crédito - PIB.
Esta relação no Brasil chegou a 34% em dezembro de 2006, maior nível desde fevereiro de 1995, mas ainda muito reduzido, quando se toma como referência a experiência internacional (mais de 60% no Chile, quase 100% na Coréia do Sul, mais de 120%, em média, nos países de G7).
As altas taxas de juros constituem uma importante barreira ao aumento do crédito no Brasil.
Segundo artigo de Marcelo Billi, na Folha de São Paulo de hoje, três fatores dificultam a queda dos juros: (a) os impostos que incidem sobre as operações financeiras, a chamada "cunha fiscal"; (b) a inadimplência; (c) a "insegurança jurisdicional", ou seja, a dificuldade de recuperar crédito no Brasil. O crédito com desconto em folha é mais barato justamente por eliminar parte do risco de inadimplência e, em grau menor, o risco jurídico.
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Abaixo se mostra a evolução da razão crédito - PIB no Brasil nos últimos 13 anos.
Crédito como % do PIB - em dezembro1994 – 36,6
1995 – 35,0
1996 – 31,2
1997 – 28,9
1998 – 29,9
1999 – 27,2
2000 – 28,3
2001 – 26,8
2002 – 24,2
2003 – 26,2
2004 – 26,9
2005 – 31,2
2006 – 34,3
Fonte: Banco Central – Folha de São Paulo, 30/01/2007.