Da coluna de José Scheinkman, na Folha de São Paulo de hoje:
"Há no Brasil uma divisão entre economistas ortodoxos e heterodoxos. Isso seria de pouca importância se fosse uma mera discussão acadêmica, mas essa divisão tem conseqüências. No começo da década de 70, Carlos Langoni documentou que investimentos em educação no nosso país tinham uma taxa de retorno muito alta e poderiam servir para reduzir a desigualdade. O trabalho de Langoni foi recebido com hostilidade no meio acadêmico brasileiro e não influenciou a política educacional. Houve elementos ideológicos nesse episódio, mas a acolhida negativa também foi resultado da falta de conhecimento entre boa parte dos economistas brasileiros da teoria do capital humano e da incapacidade destes para julgarem a qualidade dos métodos empíricos que Langoni utilizou (na literatura acadêmica heterodoxa no Brasil, se encontra com muito maior freqüência referências a Keynes ou Ricardo, morto em 1823, do que a artigos recentes em econometria ou teoria econômica). Não é óbvio que o governo da ditadura, interessado em grandes obras e subsídios a empresários amigos, teria escutado a academia, mas perdemos uma chance de investir mais cedo em educação. Leio no dicionário Houaiss da língua portuguesa que um uso informal da palavra 'ortodoxo' é 'que não tolera o novo e o diferente'. Exatamente o que parece descrever uma parcela dos heterodoxos".