31.12.08

Conversas com economistas - Romers e Rogoff

A seção de Minneapollis do Federal Reserve Bank edita a revista The Region, a qual regularmente publica entrevistas com economistas de prestígio.

A lista de entrevistados inclui Arrow, Bernanke, Blinder, Buchanan, Friedman, Harberger, Lucas, Prescott, Sargent, Stigler, Stiglitz e Tobin, entre outros.

Nas duas últimas edições da revista, foram entrevistados Cristina e David Romer e Keneth Rogoff.

27.12.08

Pluralismo acadêmico

John Kay, professor da London School of Economics, define, em artigo no Financial Times, os limites do pluralismo acadêmico:
"Saudar a existência de visões divergentes não é o mesmo que dizer que qualquer coisa vale. Há uma diferença entre aceitar que possa haver interpretações alternativas da mesma evidência e respeitar um ponto de vista para o qual não existe evidência simplesmente porque alguém o defende".

Bolsa- Família e educação

Da coluna de Naércio Menezes, no Valor Econômico de ontem:
"10,6 milhões de brasileiros receberam recursos do Bolsa Família em outubro de 2008. Se considerarmos um número médio de quatro pessoas por família, isto significa que cerca de 42 milhões de pessoas estão sendo beneficiadas pelo programa, ou seja, 22% da população brasileira. O custo do programa é baixo, em torno de R$ 832 milhões mensais, ou R$ 80 por família. Vários estudos já mostraram que o Bolsa Família tende a reduzir a desigualdade e a pobreza extrema. Além disto, sabe-se que seus impactos na oferta de trabalho são praticamente inexistentes, ou seja, que as pessoas não deixam de trabalhar porque recebem os benefícios do programa. Parece que, pelo contrário, muitas mães começam a trabalhar quando seus filhos voltam a freqüentar a escola, que é uma das exigências do programa. Mas é importante ressaltar que a maior parte da redução da desigualdade observada entre 2001 e 2007 decorreu do progresso educacional observado na década passada e não do programa Bolsa Família. Além disto, para que a pobreza seja reduzida no longo prazo, é imprescindível melhorar a qualidade da escola pública, para que os filhos das famílias pobres de hoje possam ingressar no mercado de trabalho com um emprego decente no futuro".

26.12.08

Deflação

Quais são as causas e efeitos de uma deflação de preços? O que distingue a deflação "desejável" da "indesejável"?

Quando sinais de deflação surgiram na economia americana em meados de 2003, The New York Times publicou artigos de Virginia Postrel, Hal Varian e Jacek Rostowski, respondendo a estas perguntas.

25.12.08

Alavancagem (I)


O gráfico acima, extraído da edição de fim de ano de The Economist, mostra a evolução da razão capital / ativos dos bancos comerciais americanos entre 1834 e 2008.

A alavancagem excessiva, como se sabe, é um dos fatores que explicam a atual crise financeira nos Estados Unidos.

Em defesa da torre de marfim

Arrumando as gavetas durante o feriado, encontrei este artigo de Stanley Fish sobre a missão das instituições acadêmicas. Invertendo a conhecida frase de Marx, Fish diz que "na academia, nosso trabalho não é mudar o mundo, mas interpretá-lo".

Você pode se informar sobre Fish e suas idéias aqui.

30.11.08

População em idade ativa


A tabela acima mostra a evolução da população em idade ativa (15 a 64 anos) no Brasil de 1980 a 2050, assim como das populações jovem (até 15 anos) e idosa (65 anos e mais), conforme as novas projeções demográficas divulgadas pelo IBGE.

(Um clique do mouse na tabela permitirá melhor visualização).

Transição demográfica no Brasil (II)

O IBGE divulgou, no dia 27 de novembro, novas projeções para o crescimento demográfico no Brasil até 2050, baseadas nos dados das PNADs de 2002 a 2006.

Abaixo são reproduzidas as principais conclusões do estudo:
  • A população do Brasil é hoje de 189,6 milhões de pessoas (crescimento de 1,05% em 2008) e alcançará o pico de 219,1 milhões em 2039, passando a declinar a partir daí.
  • A taxa de fecundidade total já se encontra abaixo do nível de reposição das gerações, tendo chegado a 1,95 em 2007. Estimada em 1,86 em 2008, a fecundidade deverá se estabilizar no nível de 1,5 filhos por mulher em idade fértil a partir de 2028.
  • A participação da população em idade ativa (15 a 64 anos) na população total, que correspondia a 57,7% em 1980, alcancará o pico de 71% em 2022, passando, então, a declinar em consequência do aumento da proporção de idosos na população total.
  • Metade dos residentes no Brasil tinha menos de 20,2 anos em 1980. Com o envelhecimento da população, a idade mediana será de 28,8 anos em 2010 e de 39,9 anos em 2035.
  • A expectativa de vida ao nascer era de apenas 45,5 anos em 1940, chegou a 72,7 anos em 2008 e alcançará 81,3 anos em 2050 (ainda inferior à do Japão atual - 82,6 anos).
  • A expectativa de vida no Brasil poderia hoje ser 2 ou 3 anos mais elevada, não fosse o efeito da morte prematura de jovens, em decorrência da violência.
  • A taxa de mortalidade infantil (crianças de menos de 1 ano) era de 100 por mil em 1970 e de 46,9 por mil em 1990, encontrando-se atualmente no patamar de 23,3 por mil (Argentina = 13,4 por mil). O valor projetado para 2015 é de 18,2 por mil, superior ao valor de 15,6 por mil correspondente à Meta do Milênio, no caso brasileiro.

Sobre a transição demográfica no Brasil, ver também esta postagem anterior.

9.11.08

O boom de Lula (II)

Da coluna de Armando Castelar Pinheiro, no Valor Econômico:
"Em 2004-08, o PIB deve crescer 4,6% ao ano, quase o dobro dos 2,4% da década anterior. A expansão do crédito foi um traço marcante desse ciclo. Nos cinco anos até setembro, o crédito bancário saltou de 23,4% para 39,1% do PIB; o spread de juros nas operações com pessoas físicas caiu de 52,1% para 38,6% (batendo em 31,9% em dezembro de 2007, antes da alta do IOF), enquanto o prazo médio dessas operações subiu de 291 para 480 dias. Um dos pilares do boom de financiamento foi o fortalecimento da segurança jurídica. A criação do patrimônio de afetação, do crédito consignado e da alienação fiduciária de imóveis (em adição à já existente para veículos) deu mais confiança aos credores. Isso se refletiu no custo e disponibilidade de financiamento".

Crescimento (falta de) - educação (VIII)

De acordo com dados da PNAD 2007, a média nacional de anos de estudo no Brasil está em 7,3, com acentuadas disparidades regionais (6 no Nordeste, 8 no Sudeste). Houve ganho de pouco mais de 1 mês de escolaridade entre 2006 e 2007 e de 1 ano e meio, se considerada a década completa. Nesse ritmo, os 8 anos de escolaridade média só serão alcançados em 2012 e os 11 anos apenas em 2033 (Folha de São Paulo, edição de 16 de outubro).

8.11.08

Causas da Grande Depressão (III)

Kevin Hasset resume, na edição do Valor Econômico deste fim de semana, a controversa explicação para a Grande Depressão proposta por alguns economistas vinculados à abordagem RBC:
"Além das equivocadas ações do Federal Reserve, dois erros de política econômica agravaram e prolongaram a Grande Depressão. O primeiro foi a Lei Smoot-Hawley, de 1930, que impôs tarifas a mais de 20 mil mercadorias e deflagrou uma guerra comercial que reduziu em aproximadamente um terço o comércio mundial. O segundo foi a rápida expansão da sindicalização na esteira da Lei de Recuperação da Indústria Nacional (NIRA) e da Lei Nacional de Relações Trabalhistas (NLRA). Um estudo de Lee Ohanian e Harold Cole, professores da Universidade da California - Los Angeles, verificou que 60% da diferença entre a produção real e sua tendência de longo prazo durante a Grande Depressão deveu-se à NIRA e à NLRA. A cartelização, ou aumento coordenado de preços pelas empresas, que Franklin Roosevelt permitiu depois que os sindicatos organizassem determinado setor, desempenhou um papel no aprofundamento da Depressão. Mas talvez o componente negativo crucial tenha sido o enorme crescimento da sindicalização, de 13% da força de trabalho em 1935 para 29% em 1939. Com a crescente sindicalização, dobrou o número de greves e aumentou sua eficácia, porque as novas regras permitiram que os trabalhadores empregassem táticas que paralisavam fábricas".
Para outras interpretações da Grande Depressão, ver os artigos de Vanessa Sumo e N. Gregory Mankiw, que foram objeto de postagens anteriores.

6.11.08

Para entender as divergências entre economistas (II)

O debate acerca do pacote de ajuda às instituições financeiras, aprovado recentemente pelo congresso americano, revelou uma divisão dos economistas entre "fundamentalistas" e "realistas". Esta é a opinião de Paul Romer em postagem em The Growth Blog.

Entradas anteriores nesta serie foram reunidas aqui.

5.11.08

Armadilha da liquidez

A economia americana está presa na "armadilha da liquidez" e necessita de um significativo aumento do gasto público para escapar dela, segundo Paul Krugman, em sua coluna em The New York Times.

29.10.08

O boom de Lula (I)

O que determinou o boom de Lula, segundo Alexandre Schwartzman, na edição de hoje da Folha de São Paulo:
"De 2002 até meados deste ano, a conjuntura internacional se mostrou extremamente favorável ao Brasil. O país foi beneficiado, em primeiro lugar, pelo aumento de preços de commodities. Como exporta muito mais commodities do que importa, a alta resultou em preços de produtos exportados crescendo acima dos preços de importados, isto é, houve melhora dos termos de troca. Conjugada à expansão dos volumes exportados, em parte derivada da expansão do comércio global, essa melhora implicou forte elevação da capacidade de importar: entre 2002 e o terceiro trimestre de 2008, estima-se que o poder de compra das exportações tenha crescido 80%. Esse processo permitiu que a demanda doméstica passasse a crescer acima da produção, o que não observávamos desde 1997/98, quando preços de commodities em queda haviam piorado nossos termos de troca. Obviamente, se a demanda doméstica cresce mais rápido que a produção, a diferença deve ser coberta com importações físicas crescendo acima das exportações físicas, o que foi possível principalmente pelo aumento do poder de compra das exportações. Completando esse quadro, a expansão da liquidez mundial barateou o financiamento, trazendo vastos volumes de capital estrangeiro, aparentes na expansão do investimento estrangeiro no país, em particular o investimento direto, que se acelerou de US$ 15 bilhões por ano entre 2002/5 para US$ 35 bilhões por ano em 2007/8. Não há dúvida, porém, de que esses três fatores mudaram de direção, isto é, podemos esperar queda de preços de commodities, desaceleração do comércio global e menores fluxos de capital".

A versão completa do artigo está disponível no blog de Schwartzman.

25.10.08

Causas da Grande Depressão (II)

N. G. Mankiw reexamina as causas da Grande Depressão de 1929 e discute a possibilidade de que a atual crise financeira americana leve a uma repetição dela, em artigo publicado em The New York Times.

18.10.08

Crescimento (falta de) - causas, segundo Bacha

Para Edmar Bacha, a redução da taxa de crescimento no Brasil a partir de 1980 foi causada por um colapso da formação de capital fixo.

Esta tese foi exposta em duas palestras feitas por Bacha, em março e maio deste ano.

Crise financeira americana tem múltiplas causas

A crise financeira americana não teve um determinante único - ela resultou da conjunção de várias causas. Essa é a interpretação tanto de Dani Rodrik como de Tyler Cowen. Para ambos, seja porque o conhecimento a respeito desse tipo de fenômeno é necessariamente imperfeito ou por má sorte, algo semelhante acabará acontecendo algum dia, de novo.

5.10.08

Falha de mercado na crise financeira americana

Robert Frank identifica a falha de mercado subjacente à crise financeira americana, em artigo na edição de hoje de The New York Times.

13.9.08

Crescimento (falta de) - educação (VII)

Informações sobre a situaçao da educação no Brasil, publicadas na coluna de Armando Castelar Pinheiro, na edição do Valor Econômico deste fim de semana:
  • "De 1960 a 1980, a escolaridade média do brasileiro com 25 anos ou mais de idade estagnou em três anos de estudo".
  • "Em 1980, só metade dos brasileiros de 15 a 17 anos de idade freqüentava a escola e só 15% estavam na série adequada de ensino".
  • "O Brasil vem acordando para esse problema e os resultados aparecem. A escolaridade média da população de 25 anos ou mais subiu 2,4% ao ano em 1981-2005 e, já em 2000, 96% das crianças (7 a 14 anos) e 83% dos jovens (15 a 17 anos) freqüentavam a escola".
  • "Apesar desses avanços, o Brasil ainda progride menos do que precisa e do que faz o resto do mundo. Em 1980, os brasileiros tinham, em média, um ano e meio de estudo a menos que a média de México, Malásia e África do Sul; em 2000, essa diferença dobrara".
  • "Comparações internacionais mostram a precária qualidade do aprendizado em nossas escolas. No PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) de 2006, que avaliou 400 mil estudantes de 15 anos de idade em 57 países, o Brasil ficou na 50ª posição em leitura, 53ª em ciências e 54ª em matemática".
  • "Aumentar o gasto com educação pode ajudar a melhorar esse quadro, mas a falta de recursos não é o problema principal. No Brasil, o setor público gasta cerca de 2,9% do PIB com ensino básico, contra uma média de 3,7% na OCDE. Mais importante, portanto, é elevar a eficiência do gasto".

7.9.08

Crescimento (falta de) - causas, segundo Roubini

"O Brasil está crescendo 4,8% ao ano - o que é, aliás, muito menos do que países como Rússia, Índia e China, que avançam entre 8% e 10%. Acho que a previsão de que o país crescerá entre 3% e 3,5%, em 2009, é muito otimista - eu acredito em 2%. Há sérios impedimentos estruturais ao crescimento que persistem, como a falta de infra-estrutura, falta de uma boa educação para a força de trabalho, tributação excessiva e gastos do governo elevados demais. Em resumo, foram feitas reformas macro e financeiras, agora o país precisa de reformas micro. Não acho que o atual presidente progredirá nessas reformas, vamos ver o próximo" (Nouriel Roubini, Folha de São Paulo - 7 de setembro de 2008).

Crescimento (falta de) - causas, segundo Hausmann

A falta de poupança do governo é o maior obstáculo para o crescimento econômico no Brasil, de acordo com Ricardo Hausmann, em entrevista publicada na edição de Veja de 27 de agosto:
"O principal entrave ao crescimento do país é a falta de poupança do setor público. A origem do problema está nas despesas do governo. O estado deveria gastar menos do que arrecada. Ao fazer isso, a poupança pública aumentaria, deixando espaço disponível para os investimentos privados que poderiam crescer sem pressionar a inflação. O Brasil possui hoje a maior carga tributária entre todos os países emergentes e, mesmo assim, as contas públicas são deficitárias. A boa notícia é que, para alcançar esse objetivo, os gastos públicos não precisam ser cortados drasticamente. Basta que o governo deixe de ampliar suas despesas. Com o passar do tempo, o tamanho delas em relação ao PIB acabará caindo naturalmente. O fato é que o Brasil não conseguiu constituir um estado financeiramente viável, que não se endivide em demasia, que não tribute em excesso e que invista fortemente em infra-estrutura".
O argumento é elaborado neste artigo, preparado por Hausmann para um seminário promovido pelo Centro de Liderança Pública.

30.8.08

Economia comportamental (II)

A economia comportamental representa uma revolução no pensamento econômico? Tim Harford e Pete Lunn debatem a questão na edição de setembro de Prospect.

Sobre o assunto, ver também estas postagens de fevereiro e agosto.

24.8.08

Shiller viu a bolha

Em agosto de 2005, Robert Shiller disse o seguinte ao repórter David Leonhardt, de The New York Times:
"The housing craze is another bubble destined to end badly, just as every other real estate boom on record has. This is the biggest boom we've ever had. So a very plausible scenario is that home-price increases continue for a couple more years, and then we might have a recession and they continue down into negative territory and languish for a decade".
Mais interessante do que a previsão é o argumento, exposto no artigo, em que ela se baseou.

23.8.08

Estado da macroeconomia

Olivier Blanchard discute, neste NBER Working Paper, a evolução recente da teoria das flutuações macroeconômicas, caracterizada pela convergência entre as correntes novo-clássica e novo-keynesiana.

17.8.08

Duas revoluções que não foram?

Para uma visão bastante cética quanto à contribuição das pesquisas sobre felicidade e economia comportamental, vale ler esta resenha dos livros Happiness: a revolution in economics, de Bruno Frey, e Predictably Irrational: the hidden forces that shape our decisions", de Dan Ariely. O autor da resenha, publicada em The New Republic, é Alan Wolfe.

10.8.08

Equivalência ricardiana (II)

O pacote de estímulo fiscal adotado nos Estados Unidos, no início deste ano, não teve impacto significativo sobre a demanda agregada e o produto, de acordo com Martin Feldstein, em artigo publicado em The Wall Street Journal.

Sobre o mesmo tema, ver esta postagem anterior.

Direito de propriedade e (in)eficiência

A falta de definição de direitos de propriedade pode levar a sobre-utilização e destruição de recursos, no conhecido caso da "tragédia dos comuns".

Michael Heller examina, em seu livro "The Gridlock Economy", a situação inversa em que a difusão do direito de propriedade pode levar a sub-utilização e desperdício de recursos.

O livro foi resenhado por Tim Wu, em Slate, e por James Surowiecki, em The New Yorker.

27.7.08

Taxa de juros real no Brasil (II)

Andrei Spacov explicou recentemente em artigo no Valor Economico porque a taxa de juros nominal no Brasil é tão alta:
"Por que nossa taxa de juros real é tão alta comparada a de outros países? Que as taxas nominais são altas é um fato. Porém, para se chegar à afirmação de que as taxas reais também o são, temos de introduzir na análise as expectativas inflacionárias. Qual seria a sua expectativa para a taxa de inflação anual, digamos, daqui a cinco anos? Algo coerente com a atual meta do BC de 4,5%? E quanto ao risco de um retorno ao nosso passado de descontrole inflacionário? Fatores como a elevada dívida do setor público brasileiro denominada em moeda nacional, portanto passível de ser reduzida caso a inflação suba, talvez tornem o país mais vulnerável em comparação a outros que também tiveram experiência hiperinflacionária recente. Suponhamos então que o leitor atribua uma probabilidade baixa, digamos de dez em cem vezes, de que no futuro a inflação volte a fugir do controle, atingindo níveis semelhantes aos de alguns de nossos vizinhos sul-americanos. Nesse caso, sua expectativa inflacionária seria de 90% multiplicado por 4,5%, somado à multiplicação de 10% por 30%. Isso resultaria em expectativa de 7% - 57% maior do que a meta inflacionária atual. É possível imaginar ainda que essa probabilidade do cenário ruim varie no tempo. Em épocas de maior incerteza, como por exemplo em 1999 ou 2002, parece razoável atribuir uma probabilidade maior para o cenário ruim (digamos 30%), e aí a expectativa inflacionária seria de 12%. Esse exercício ilustra um fenômeno popularizado por Milton Friedman que, ao analisar na década de 70 o desconto perene que o mercado de câmbio embutia sobre o peso mexicano, cogitou que isso se devia à atribuição de uma pequena probabilidade de que uma grande variação de preço pudesse ocorrer. Desde então, esse tipo de fenômeno ficou conhecido como 'peso problem' ".

13.7.08

Erros de política econômica - Brasil (III)

Da coluna de Alexandre Schwartzman, na edição de 9 de julho da Folha de São Paulo:
"O governo aumentou informalmente a meta de superávit primário para 4,3% do PIB. Porém, o fato é que o superávit primário tem ficado ao redor de 4,3% do PIB desde o início de 2007, ou seja, a elevação da meta não implica nenhum aperto fiscal. Há uma questão adicional. A arrecadação de impostos tende a subir, como proporção do PIB, nos períodos de maior expansão da economia, e a cair, quando o ciclo se inverte. Isso é o que observamos recentemente: entre janeiro de 2007 e maio de 2008, as receitas federais cresceram o equivalente a 0,9% do PIB, ou seja, R$ 65 bilhões a preços de maio deste ano. Nesse mesmo período, o superávit primário federal aumentou apenas R$ 11 bilhões, ou seja, as despesas cresceram R$ 54 bilhões. Ajustada para o ciclo econômico, a estabilidade do superávit primário torna-se uma vigorosa expansão fiscal, ainda agravada porque muitas das despesas assumidas recentemente serão de difícil redução quando os ventos mudarem. Uma política fiscal que de fato auxiliasse o Banco Central e evitasse um aumento maior dos juros teria que almejar níveis ainda mais elevados de superávit".
A versão completa do artigo de Schwartzman pode ser encontrada aqui. Sobre o caráter expansionista da atual política fiscal, ver também esta postagem.

6.7.08

Pena de morte, controle de armas e criminalidade

A pena de morte tem algum efeito dissuasivo sobre a prática de homicídio? Os dados não mostram tal efeito, de acordo com Cass Sunstein e Justin Wolfers, em artigo publicado em The Washington Post.

O controle de armas reduz a criminalidade? A evidência não é conclusiva, segundo artigo de Adam Liptak, em The New York Times.

22.6.08

Regra de Taylor


A regra de Taylor foi explicada pelo seu proponente, em conferência realizada no final de 2007, publicada como NBER Working Paper.

Com base neste gráfico, extraído de um artigo de William Poole, Taylor sugere que a observância de sua regra de política monetária explica a "grande moderação", entre 1986 e 2000, e desvios em relação a ela explicam a formação recorrente de bolhas em mercados de ativos reais, observada nos Estados Unidos ao longo desta década.

21.6.08

Receita de Rodrik

Dani Rodrik comenta, neste artigo, o relatório Spence sobre crescimento econômico, mencionado antes aqui.

O ponto principal do artigo (e do trabalho recente de Rodrik) é que, em lugar de promover reformas liberais compreensivas, os países em desenvolvimento deveriam focar suas políticas na eliminação apenas das restrições mais significativas ao crescimento, as quais diferem de país para país.

A eliminação de tais restrições ao crescimento deveria se dar via soluções "locais" - políticas "inovadoras" (não necessariamente liberais) definidas tendo em conta as idiossincrasias econômicas e políticas do país.

Seja como for, Rodrik admite que economias bem sucedidas têm muito em comum - "todas estão integradas à economia mundial, mantêm a estabilidade macroeconômica, estimulam a poupança e o investimento, provêm incentivos de mercado e são razoavelmente bem governadas" -, o que não deixa de parecer uma lista de "remédios universais".

8.6.08

Crescimento da renda per capita mundial - período 1 / 2000

A figura acima, extraída do relatório The Growth Report: Strategies for Sustained Growth and Inclusive Development, do Banco Mundial, mostra que o crescimento econômico, entendido como aumento da renda per capita mundial, é um fenômeno histórico recente - basicamente, restrito aos últimos dois séculos.

4.6.08

Ranking do futebol mundial (II)

O Cruzeiro Esporte Clube ocupa o 38º lugar no ranking da International Federation of Football History and Statistics. Dentre os clubes brasileiros, apenas São Paulo (20º) e Grêmio de Porto Alegre (33º) antecedem o Cruzeiro nesta classificação, que se refere ao período 1991 - 2007.

O CAM encontra-se, no mesmo ranking, no 89º lugar, imediatamente precedido pelo Club Libertad Assunción, FC Shakhtyor Donetsk e AZ Alkmaar.

1.6.08

Equivalência ricardiana (I)

Equivalência ricardiana é a hipótese de que impostos e aumento da dívida do governo são equivalentes - "o gasto do governo, qualquer que seja a forma de financiá-lo, gera uma conta que tem que ser paga, cedo ou tarde, e contribuintes de maior visão percebem isso". Essa idéia e suas implicações são o assunto de Tim Harford, na coluna The Undercover Economist deste fim de semana.

De acordo com artigo publicado em The New York Times, a reação dos consumidores à redução de impostos recentemente adotada nos Estados Unidos parece validar, pelo menos em parte, esta hipótese.

24.5.08

Doença holandesa causou a grande divergência?


A tabela acima foi extraída de um NBER Working Paper de autoria de Jeffrey Williamson, publicado em março.

Os dados mostram a "grande divergência" de rendas per capita entre o centro (Europa Ocidental) e a periferia (Europa do Sul e Oriental, América Latina, Ásia e África) da economia mundial, no século XIX. A renda per capita na periferia correspondia, em média, a dois terços da renda per capita do centro em 1775. Em 1913, tinha se reduzido a um terço.

O que explica a "grande divergência"? De acordo com Williamson, não são os "fundamentos" (geografia, cultura, instituições), mas um choque nos termos de troca bastante favorável aos países da periferia, o qual induziu a especialização na oferta de produtos primários e a desindustrialização. Em outras palavras, a "grande divergência" teria sido um caso de "doença holandesa", agravada pela alta volatilidade dos preços dos produtos primários.

23.5.08

Erros de política econômica - Brasil (II)

Da coluna de Edward Amadeo, na edição de 14 de maio do Valor Econômico:
"No Brasil, chegará o dia em que nos perguntaremos se usamos da melhor forma a atual fase de vacas gordas. Por um lado, o governo Lula foi uma surpresa extraordinária pela prudência nas áreas fiscal e monetária. Por outro lado, o esforço do governo para aumentar a taxa de investimento não foi bem-sucedido. O investimento como porcentagem do PIB manteve-se praticamente inalterado em relação ao ano de 2001, quando da crise de energia. Iludidos com a preservação do superávit primário, analistas como eu viram no governo Lula uma alternativa ao velho populismo de esquerda latino-americano. Mas por trás do superávit se escondia a ausência de qualquer reforma relevante e um enorme aumento da arrecadação tributária inteiramente revertido em gastos com consumo e transferências. O Brasil, induzido pelo governo, consumiu boa parte das vacas gordas, em lugar de fazer uma política fiscal anti-cíclica. Foi privilegiado o consumo e a política fiscal pró-cíclica, sem melhora relevante do patamar de crescimento sustentável".

Erros de política econômica - Brasil (I)


Da coluna de Affonso Celso Pastore e Maria Cristina Pinotti, na edição de 19 de maio do Valor Econômico:

"O pacote de incentivos ao investimento anunciado pelo Ministro da Fazenda tem o objetivo de elevar a taxa de investimento de 17,6% do PIB para 21% do PIB. Será que o crescimento do investimento pode ser financiado pelo aumento da poupança doméstica, ou precisará do crescimento da poupança externa? O gráfico acima ajuda a entender o que se passará. Nele estão superpostos a taxa de investimento (escala da direita) e as exportações líquidas (escala da esquerda), que seguem de perto a conta corrente. Esta correlação inversa nos diz que aumentos da taxa de investimento não têm sido seguidos por aumentos correspondentes da poupança doméstica, precisando do complemento da poupança externa. Se o mesmo padrão histórico for mantido, uma elevação de 3,5% do PIB na taxa de investimento requer uma elevação no mínimo de 3,5% do PIB no déficit em conta corrente. Esta elevação pode ser sustentável ou não, mas o melhor seria que o governo fizesse um esforço de elevar a poupança doméstica com o corte de seus gastos de consumo, rompendo com o padrão histórico que está por trás do gráfico".

Erros de política econômica - Argentina (II)

Da coluna de Miriam Leitão, na edição de hoje de O Globo:
"Segundo Roberto Lavagna, ex-Ministro da Economia da Argentina, o maior erro do governo argentino foi a queda do superavit fiscal primário, de 4,5% para 2% do PIB. Isso é que alimentou a inflação, que está em 25%. A Argentina conseguiu evitar a valorização excessiva da moeda nacional, na época em que Lavagna era ministro, porque fez um grande superavit fiscal, que o Tesouro usava para comprar dolares. Hoje, o governo baixou o superavit e quem compra os dolares é o Banco Central, com emissão de moeda. Dessa forma, a política fiscal e a política monetária são expansionistas. Na prática, está havendo uma valorização do peso via inflação".

Erros de política econômica - Argentina (I)

Da coluna de Alexandre Schwartzman, na edição de 30 de abril da Folha de São Paulo:
"Qual a origem do problema inflacionário argentino? Simplesmente seu regime cambial e monetário. Na Argentina, o câmbio só 'flutua' para cima, graças à combinação das intervenções do Banco Central e da política de juros que apóia as intervenções garantindo que a taxa doméstica de juros não fique muito distante da taxa internacional, devidamente ajustada ao risco-país. No contexto de preços de commodities crescentes, este arranjo é a receita ideal para um enorme problema inflacionário. Por um lado, os preços de exportações em alta contaminam diretamente os preços domésticos. Por outro lado, como a melhora de preços de exportação implica apreciação da taxa real de câmbio, os preços dos produtos não-comercializáveis devem subir ainda mais, o que é possível graças à demanda doméstica, impulsionada por juros baixos. O resultado final é apreciação cambial por meio de inflação mais elevada, ao invés de apreciação da taxa nominal de câmbio".
O artigo pode ser acessado no blog de Schwartzman.

22.5.08

Altruísmo (III)

Martin Nowak e Karl Sigmund têm feito importantes contribuições para a teoria "econômica" do altruísmo.

Suas principais descobertas foram resumidas em dois artigos publicados em Scientific American - The arithmetics of mutual help e The economics of fair play.

27.4.08

Política fiscal, taxa de juros e taxa de câmbio

Sérgio Werlang explica, em sua coluna no Valor Economico, porque a política fiscal atualmente praticada pelo governo brasileiro leva a aumento da taxa de juros e valorização da taxa de câmbio:

  • "Diz-se que a política fiscal no Brasil é austera, pois há superávit primário (as receitas tributárias excedem as despesas não financeiras). Isto é muito eficaz para a sustentabilidade da dívida pública no longo prazo, uma vez que a relação dívida/PIB é cadente. Porém, não significa que os gastos públicos não estejam causando pressão na economia".
  • "É sabido que, se os impostos crescem e as despesas também, tem-se efeito de expansão na economia. Quando o imposto sobe, a renda disponível cai e há uma contração do consumo. Como nem toda renda disponível é consumida (parte é poupada), o maior tributo causa uma queda da renda nacional, mas não de um para um. Ao mesmo tempo, quando o gasto público sobe, tem-se um efeito na atividade econômica de um para um. Dessa forma, quando os dois efeitos são combinados (isto é, uma elevação de despesas é financiada com mais impostos), o impacto final na demanda agregada acaba sendo positivo".
  • "Portanto, embora a política fiscal brasileira possa ser classificada de austera porque a receita está maior que os gastos não financeiros, ainda assim é expansionista. E muito: entre 2003 e 2007, a despesa não financeira do governo central cresceu 9,5% ao ano, a preços constantes".
  • "O Banco Central tem a missão de controlar a inflação e mantê-la na meta. Tendo em vista o aumento dos gastos públicos e a elevação recente do preço internacional das 'commodities', o BC foi forçado a aumentar os juros para conter a inflação. Se os juros no Brasil sobem e no resto do mundo têm-se mantido ou estão em queda, recursos acabam fluindo para o Brasil, o que causa uma valorização do câmbio".
  • "Como é impossível controlar os preços dos alimentos no mundo, só há uma alternativa à elevação dos juros para conter a inflação: uma redução de demanda via um corte de gastos públicos. Com a situação internacional atual, enquanto permanecer a política fiscal expansionista no Brasil, será inevitável a manutenção de juros elevados e, por conseqüência, do câmbio valorizado".

Sobre este ponto, ver também postagens anteriores neste blog, de janeiro, abril e setembro de 2007.

Renda per capita e felicidade (II)

David Leonhardt comenta pesquisa recente contestando o "paradoxo de Easterlin" - a idéia de que mais renda não traz mais felicidade -, em artigo publicado em The New York Times.

O mesmo assunto foi objeto de postagem anterior neste blog e de artigo de Naércio Menezes Filho, na edição do Valor Econômico de 18 de abril (acessível só para assinantes do jornal).

14.4.08

Ranking de Departamentos de Economia - Harvard x MIT

De acordo com Greg Mankiw, nesta postagem do seu blog, é melhor ir a Harvard para o doutorado do que ao MIT, mas o MIT contra-ataca ...

13.4.08

Sapos e políticos

Competidores podem considerar vantajoso disponibilizar informações relevantes a seu próprio respeito, mesmo quando tais informações são bastante desabonadoras.

Robert Frank explica, em artigo em The New York Times, porque sapos agem assim e políticos nem sempre.

6.4.08

Crescendo a 7%, segundo Lemgruber

A economia brasileira poderia crescer a uma taxa de 7% ao ano, sem pressões inflacionárias, de acordo com Antonio Carlos Lemgruber, em artigo na edição de hoje da Folha de São Paulo:
  • "O hiato do PIB é a diferença percentual entre o produto potencial de uma economia em determinado ano (produção de pleno emprego) e o produto efetivamente verificado".
  • "Calcula-se que no Brasil, em 1966, esse hiato tenha chegado a 20%, o que facilitou o 'milagre brasileiro' de 1968-1973: o PIB cresceu 10% ao ano, sem que houvesse aceleração inflacionária - pelo contrário, a inflação até caiu".
  • "Qual é hoje esse hiato? Depende da taxa de crescimento atribuída ao produto potencial. Nas décadas de 60 e 70, falava-se em 7% ao ano de taxa potencial, mas agora as autoridades monetárias são tão conservadoras que preferem ficar em 3% ou 4%".
  • "É razoável defender que o hiato em 2008 pode ser enorme, porque não se pode imaginar um crescimento potencial no Brasil muito inferior a 5% nas últimas décadas, sendo a queda de 7% para 5% explicável pelo menor crescimento da população. De 1981 para cá, o Brasil cresceu em média 2% ao ano. O hiato só fez aumentar. Voltamos à mesma situação de 1966. Ou mais. Uma produção perdida de 100% do PIB em 26 anos. O PIB do Brasil poderia ser o dobro do que é".
  • "O Brasil tem, portanto, condições de crescer 7% anuais nos próximos anos (ou mais) sem aceleração inflacionária - com ou sem crise mundial. Foi assim em 1968-1973. Temos um hiato do produto herdado dos últimos anos maior do que se imagina. Enorme capacidade ociosa, pronta para entrar em produção, com crédito e juros baixos".

30.3.08

Taxa de investimento no Brasil - 1990 / 2007

Fonte: Valor Econômico, 26 de março de 2008.

A era de Friedman?

Em artigo publicado em fevereiro, Andrei Shleifer reuniu informações sobre renda per capita, pobreza, mortalidade infantil, expectativa de vida, escolaridade e democracia, para mostrar que os anos 1980 - 2005 foram um um período de "notável progresso para a humanidade".

Para Shleifer, este progresso resultou da adoção de políticas liberais por um grande número de países, a partir de 1980, de modo que seria apropriado designar o último quarto de século como a "era de Friedman".

Dani Rodrik acha que esta é uma visão que "mais confunde do que esclarece".

Para Bradford DeLong, "enquanto o movimento em direção a Friedman na geração passada foi, em uma larga medida, positivo, os ganhos a obter de movimentos futuros nessa direção são bem menos garantidos".

Altruísmo (II)

Entender os determinantes do comportamento altruísta nos seres humanos é de óbvia importância para os economistas, tendo em vista que tal comportamento parece ser inconsistente com a hipótese de que o homo economicus é um maximizador racional.

Em artigo recentemente publicado em The New York Times, Steven Pinker apresentou as melhores explicações disponíveis.

23.3.08

Absorção doméstica e taxa de juros



(Uma análise desta questão, baseada em dados para o período 2002-2018, pode ser encontrada aqui).

O gráfico acima, extraído da coluna de Cristiano Romero, publicada no Valor Econômico de 19 de março, mostra a relação entre a taxa SELIC real e a variação percentual da absorção doméstica (consumo, investimento e gastos públicos), nos últimos cinco anos.

A evidência sugere que, "quando o juro real é alto, a absorção doméstica cresce pouco; quando o juro real é baixo, a absorção cresce muito".

Se a absorção doméstica cresce mais rápido do que o PIB, como acontece atualmente na economia brasileira, a inflação aumenta e/ou o saldo em transações correntes se reduz. Para evitar isso, o manual de macroeconomia recomenda um aumento do superavit fiscal e/ou um aumento da taxa de juros.

Como o ajuste fiscal não parece ser uma alternativa aceitável para o governo, o Banco Central deve aumentar, no futuro próximo, a taxa SELIC.

16.3.08

Tipos de crises financeiras e sua cura

Em Three Cures for Three Crises, Bradford DeLong expõe a diferença entre crises de liquidez e de solvência e o que deve ser feito para enfrentá-las.

Está claro, a esta altura, que a crise financeira americana corresponde ao terceiro tipo descrito por DeLong - uma grave crise de insolvência, que só pode ser resolvida através do uso de recursos públicos para resgatar as instituições financeiras falidas e/ou pela inflação.

Greenspan (se) explica (I)

Três explicações têm sido sugeridas para a atual crise do sistema financeiro americano - instabilidade intrínseca do sistema financeiro (à la Minsky), erros na condução da política monetária pelo banco central e excesso de poupança na economia mundial.

Alan Greenspan contou sua própria versão da história, basicamente coincidente com a hipótese do "excesso de poupança", em artigo publicado em The Wall Street Journal, em dezembro de 2007.

9.3.08

Altruísmo (I)

A noção de altruísmo parece ser, em princípio, incompatível tanto com a teoria darwinista da seleção natural como com a teoria econômica.

Neste artigo, também publicado hoje no NYT, Jim Holt, entre outros argumentos, mostra que pode, entretanto, ser "racional" para genes e agentes econômicos "egoístas" se comportar de maneira altruísta.

Renda per capita e felicidade (I)

Renda per capita mais alta não traz mais felicidade? Robert Frank resume o debate a respeito, em artigo na edição de hoje de The New York Times.

24.2.08

Estudo de caso para alunos de microeconomia - companhias aéreas de baixas tarifas

As companhias aéreas de baixas tarifas utilizam com frequência uma estratégia de precificação conhecida na literatura microeconômica como tarifa em duas partes.

No caso específico destas empresas, a estratégia consiste em fixar uma "taxa de entrada" - a passagem aérea - baixa e cobrar do passageiro por praticamente todo e qualquer serviço, fora o vôo, que lhe seja prestado.

Este artigo, publicado na edição de hoje de The New York Times, apresenta vários exemplos interessantes.

A questão já havia sido objeto de uma postagem anterior do blog.

23.2.08

Economia comportamental (I)

Em The New Yorker - edição de 25 de fevereiro, resenha de dois novos livros sobre economia comportamental - "Predictably irrational: the hidden forces that shape our decisions", de Dan Ariely, e "Nudge: improving decisions about health, wealth and happiness", de Richard Thaler e Cass Sunstein.

20.2.08

"Ortodoxos" x "Desenvolvimentistas"

Edward Amadeo explica as diferenças entre economistas "ortodoxos" e "desenvolvimentistas", em sua coluna de hoje no Valor Econômico:
  • "Os economistas ortodoxos vêem a oferta agregada como mais ou menos independente da demanda agregada. A oferta é dada pela capacidade de produzir da economia, a qual depende do tamanho das fábricas e instalações, da força de trabalho e da produtividade. Os ortodoxos, ao explicar a evolução da capacidade de produzir, dão ênfase a fatores como ambiente de negócios (estabilidade das regras, pouca burocracia etc.), a concorrência que estimula inovações, a qualidade das relações de trabalho e da educação, que afetam a produtividade, e assim por diante. A demanda agregada tem seu outro conjunto de determinantes (juros e condições de crédito, confiança dos consumidores e empresários etc). Como os determinantes são diferentes, é razoável pensar que, em geral, a demanda e a capacidade de produzir sejam diferentes também e, quando a discrepância for grande ou persistente, a inflação faz o ajuste. Se a demanda é maior que a oferta, a inflação aumenta, e vice-versa".
  • "Ainda que os desenvolvimentistas vejam fatores independentes na determinação da oferta agregada, eles crêem que quanto maior for a demanda agregada, maior o incentivo ao aumento da oferta e que esse canal de influência é muito relevante. Se a demanda gera a sua própria oferta, pressões inflacionárias devido a excesso de demanda sobre a oferta são uma impossibilidade!"
  • "Para os ortodoxos, existe um lugar para a política monetária intervir, evitando que a demanda cresça mais rápido que a oferta. Para os desenvolvimentistas, o BC deveria ser passivo, deixando que a demanda siga seu caminho. Não há muito lugar para a política monetária e BC no paradigma desenvolvimentista".
  • "Existe um conceito que concilia as duas visões. Trata-se do 'acelerador do investimento', que diz que, quanto maior o crescimento da demanda, maior o incentivo para as empresas investirem. Os ortodoxos acreditam nisso, só que vêem limites para esse efeito e acham que correr o risco de alta da inflação ao apostar no funcionamento do acelerador pode produzir incertezas e instabilidade que terminam matando os incentivos para investir. Já os desenvolvimentistas dão muita importância a esse efeito e, por isso, cada vez que vêem o BC aumentando os juros, temem que ele esteja abortando a expansão do investimento".

17.2.08

Teoria econômica do crime

Angela Dills, Jeffrey Miron e Garrett Summers discutem, em um NBER Working Paper publicado em janeiro, o que os economistas sabem sobre o crime. A conclusão é "não muito".

Hipóteses que são validadas por dados para os Estados Unidos nas décadas mais recentes são rejeitadas quando períodos mais longos ou outros países que não os Estados Unidos são considerados. Este resultado foi obtido tanto para variáveis de política (por exemplo, prisões ou pena capital) como para fatores tais como legislação sobre controle de armas e aborto.

A única hipótese que parece consistente com os dados, segundo os autores, é que a proibição do comércio de drogas gera criminalidade.

9.2.08

Capitalismo e liberdade

Da coluna de Antônio Cícero, na edição de hoje da Folha de São Paulo:

"Dado que, no socialismo, as atividades econômicas não são realizadas tendo em vista a subsistência ou o lucro, é necessário que o partido - como diz uma enciclopédia publicada pelo Instituto Bibliográfico da extinta República Democrática Alemã -oriente a criação da 'unidade moral e política do povo', de modo que o trabalho se transforme 'de mero meio de subsistência em um assunto de honra'. No regime socialista, a intolerância em relação a heresias - ideologias alternativas, 'desvios', 'revisionismos' etc.- não é meramente acidental. A repressão a elas não se reduz a um mero estratagema político. Ela provém da necessidade estrutural de manter a unidade ideológica indispensável para o funcionamento da própria base econômica. Já o capitalismo funciona independentemente das idéias, concepções, religiões, atitudes, isto é, das ideologias, dos operários, capitalistas, técnicos, administradores ou consumidores que o fazem funcionar. Ainda que cada indivíduo pense e aja de uma maneira diferente de todos os outros, o capitalismo é capaz de prosperar, desde que seja observado de modo geral um mínimo de leis e regras formais de convivência. É exatamente por isso que ele é compatível com a maximização da liberdade individual, a sociedade aberta e o reformismo. O socialismo necessita, para o seu funcionamento, de uma ideologia particular, correspondente à sua base econômica, e que, por isso, não é capaz de tolerar ideologias alternativas. O capitalismo, porém, exatamente porque a sua base econômica opera a partir do puro interesse material, independentemente de qualquer ideologia particular, não necessita de nenhuma ideologia específica, de modo que é capaz de tolerar todas, inclusive as que lhe foram ou são hostis, como o catolicismo ou o marxismo-leninismo".

7.2.08

História dos bancos centrais

Michael Bordo, professor da Rutgers University, conta a história dos bancos centrais, desde os seus primórdios no século XVII, neste artigo, publicado em Economic Commentary, revista do Federal Reserve Bank of Cleveland.

27.1.08

Comércio internacional e salários - compensação para os "perdedores"?

Três artigos recentemente publicados em The New York Times abordaram o impacto do comércio internacional sobre os salários da mão de obra menos qualificada nos Estados Unidos:

Paul Krugman - Trouble with trade
Alan Blinder - Stop the world (and avoid reality)
Steven Landsburg - What to expect when you're free trading

Para Krugman e Blinder, o comércio tem contribuído para a redução dos salários daquela categoria de trabalhadores. Ambos propõem como remédio que parte da renda adicional gerada pelo comércio seja destinada a compensar os "perdedores", através da ampliação da rede de proteção social (seguro-desemprego, retreinamento de trabalhadores desempregados etc.).

Landsburg acha que este é um argumento "tosco" e não vê justificativa para uma compensação aos "perdedores".

26.1.08

Crescimento (falta de) - educação (VI)

"Entre os 34 milhões de jovens de 18 a 29 anos domiciliados nas cidades brasileiras, 21,8% têm o curso fundamental incompleto - ou seja, não concluíram a oitava série - e 2,4% são formalmente analfabetos. Os dados são da Pnad 2006. A incidência do analfabetismo e da evasão escolar difere entre Estados e regiões. Alagoas, com 46%, encabeça a lista dos que não concluíram o curso fundamental ou não foram alfabetizados, enquanto São Paulo, com 15%, exibe os resultados menos assustadores. Em termos regionais, esses jovens excluídos aparecem em maior proporção (35%) no Nordeste e menor (18%) no Sudeste".

(Informações publicadas na edição de hoje da Folha de São Paulo).

Frase do dia

"The world is a crazy place. It makes perfect sense only to conspiracy theorists and economists of a certain stripe" (William Grimes, em artigo mencionado na postagem anterior).

25.1.08

Lógica da vida

Autor de The Undercover Economist, Tim Harford está lançando nos Estados Unidos o livro The Logic of Life - Rational Economics of an Irrational World, comentado nesta resenha publicada hoje em The New York Times.

Criminalidade no Brasil (II)


Também da coluna de Eliana Cardoso, no Valor Econômico de ontem, o gráfico acima sobre a evolução da taxa de homicídio entre os jovens de 15 a 24 anos no Brasil.

Criminalidade no Brasil (I)


Da coluna de Eliana Cardoso, no Valor Econômico - edição de 24 de janeiro de 2008:
  • "Em 2004, a taxa de 27 homicídios em 100 mil habitantes no Brasil era 30 ou 40 vezes superior às taxas da Inglaterra, Alemanha, Japão e Egito. Entre os brasileiros de 15 a 24 anos, a taxa de homicídio chegou a 52 em 100 mil jovens (cem vezes superior às taxas da Áustria e Japão)".
  • "Todos nós somos capazes de crimes e respondemos a incentivos. Mas a teoria do cálculo econômico não explica porque respondemos a incentivos de forma diferente. Na população total, 92% das vítimas são do sexo masculino (97% entre os jovens). A população negra tem 73% de vítimas a mais do que a população branca (83% a mais, entre jovens). Por que os homicídios ocorrem sobretudo entre os jovens? Por que são raros entre as mulheres? Por que as vítimas negras são mais comuns?"
  • "A massa carcerária no Brasil é composta por presos pobres. Isso nos faz suspeitar que a probabilidade de ser preso é maior para o pobre. Se o cálculo econômico está correto, o crime compensa apesar do castigo, porque para o pobre sem trabalho qualquer rendimento é precioso".
  • "De uma amostra de boletins de ocorrência de homicídio examinados em São Paulo, apenas 4,6% tiveram o autor e o motivo conhecidos e registrados. E 92% dos casos de homicídio no Rio de Janeiro foram devolvidos à polícia, por falta de provas para serem julgados. Se a probabilidade de prisão é baixa, a de morrer é muita alta para o jovem. Mas nem o pior dos castigos parece reduzir o crime. Talvez o bandido seja mais propenso ao risco do que o comum dos mortais. Talvez seja míope em relação ao futuro".
  • "O crescimento da violência no Brasil é conseqüência da criminalidade organizada em torno do tráfico de drogas".
  • "A cadeia, de um lado pune, mas de outro atua como escola do crime. Presos sem antecedentes criminais deveriam ficar em liberdade com monitoramento eletrônico. Em Buenos Aires, essa modalidade de condenação parece reduzir a reincidência, que é mais comum aos que cumprem pena atrás das grades".
  • "Programas que reduzem a criminalidade agem em muitas frentes e não se resumem à construção de mais cadeias. Em Bogotá, a taxa de homicídio, que era de 80 em 100 mil habitantes em 1993, caiu para 21 em 2004, graças a um programa integrado de saúde, recuperação dos espaços públicos, bibliotecas informatizadas nos bairros pobres e aperfeiçoamento do sistema judicial".

16.1.08

Maior torcida de Minas (e de Belo Horizonte) (I)


(Veja aqui resultados da mais recente pesquisa Data Folha, realizada em dezembro de 2009).

Informações de artigo de Ricardo Correa, publicado em O Tempo - ediçao de 13 de janeiro de 2008:
"Não é de hoje que se diz que a torcida do Cruzeiro é maior do que a do Atlético em Minas Gerais. Mas uma pesquisa Data Folha, realizada em novembro, mostra que a distância entre o tamanho da parte azul e o tamanho da parte alvinegra é maior do que se podia imaginar. De acordo com a pesquisa, em torno de 29% dos mineiros, ou cerca de 5,6 milhões de pessoas, são torcedores do Cruzeiro, enquanto 18%, ou em torno de 3,5 milhões, torcem para o Atlético. Em Belo Horizonte, a diferença está na margem de erro, mas, nem mesmo em relação à capital, o Atlético pode dizer que possui mais torcedores do que o Cruzeiro. Os cruzeirenses são 38%, enquanto os atleticanos somam 34%. Como, de acordo com o IBGE, Belo Horizonte possui hoje 2,4 milhões de habitantes, os cruzeirenses seriam cerca de 912 mil e os atleticanos cerca de 816 mil".

8.1.08

Gasto do governo com juros


Informações publicadas na edição de hoje do Valor Econômico:
  • "O setor público brasileiro gastou 6,30% do Produto Interno Bruto com o pagamento de juros em 2007, o menor percentual desde os 4,61% do PIB gastos em 1997 e bem menos do que os 9,66% do PIB despendidos nos 12 meses encerrados em agosto de 2003".
  • "Numa lista de 116 países com estimativa da agência de classificação de risco Standard & Poor's, os juros como proporção do PIB só são maiores na Jamaica (13,2% do PIB), Líbano (10,5% do PIB) e Turquia (7,7% do PIB)".
  • "Os elevados gastos com juros do Brasil se devem a dois fatores. Primeiro, o país tem uma dívida pública muito elevada, ainda que em queda como proporção do PIB. Em novembro de 2007, a dívida líquida do setor público equivalia a 42,6% do PIB, bem acima da média de 31,7% do PIB dos países classificados como BB+, BB e BB- pela S&P (o rating do Brasil é BB+). O endividamento tem caído como proporção do PIB, mas continua a aumentar em termos absolutos, já que o setor público brasileiro ainda tem déficit nominal, atualmente da ordem de 2% do PIB. O outro fator é a taxa básica de juros muito alta. Se descontada a inflação projetada para os próximos 12 meses, a taxa real de juros brasileira está em 6,7%".

3.1.08

Crescimento (falta de) - governo (II)

"Os gastos correntes do governo no Brasil estão muito acima dos padrões internacionais, de acordo com relatório do Programa de Comparações Internacionais (ICP), projeto coordenado pelo Banco Mundial. O ICP retirou dos gastos públicos aqueles que, como educação, saúde ou transferências, beneficiam diretamente a um indivíduo. O que resta são as despesas 'coletivas' do governo com a sua máquina burocrática: polícia, justiça, defesa etc. Quando se leva em conta apenas esses dispêndios, as sociais-democracias européias gastam relativamente pouco. Por exemplo, a Suécia emprega somente 9% do seu PIB nessas despesas coletivas. Em muitos casos, os países que exibem uma maior fração de gastos coletivos são aqueles que têm dispêndios militares importantes, como a China (20%), Israel (16%) ou Taiwan (16%). Uma exceção, infelizmente, é o Brasil, onde esses itens consomem 19% do PIB" (José Alexandre Scheinkman, Folha de São Paulo - 30 de dezembro de 2007).

"Embora o PIB brasileiro corresponda a 2,9% do PIB global, o gasto do governo na provisão de serviços públicos equivale a 5% do total mundial, segundo o ICP. Somos o décimo maior PIB, mas o quarto maior gasto. Quando consideramos apenas os países com PIB acima de US$ 100 bilhões em 2005, o Brasil é o segundo colocado em termos de gastos com relação ao PIB, perdendo somente para a China, cujo dispêndio militar é muito superior ao nosso. Na América do Sul, excetuado o Brasil, o gasto médio é 11% do PIB; no Brasil, 19% do PIB. Números assim deveriam sepultar de vez teses esdrúxulas sobre o 'raquitismo' estatal brasileiro. A má qualidade dos serviços públicos não resulta de pouco gasto, mas da baixa produtividade" (Alexandre Schwartzman, Folha de São Paulo - 26 de dezembro de 2007).

Ranking do futebol mundial (I)

A par do ranking do futebol brasileiro, objeto de uma postagem anterior, a Folha de São Paulo elabora também anualmente um ranking do futebol mundial.

Na versão 2007 deste ranking, os clubes brasileiros melhor classificados foram São Paulo (6º lugar), Santos (17º lugar), Grêmio (20º lugar) e Cruzeiro (21º lugar).

Logo depois do TP Mazembe (Congo), Alajuelense (Costa Rica), Transvaal (Suriname) e Deportivo Saprissa (Costa Rica), aparece, em 80º lugar, o CAM, time a que repetidamente temos prestado homenagem neste blog.

1.1.08

Distribuição geográfica do PIB mundial - 2005 (II) - ranking dos países


(Informações atualizadas sobre a distribuição geográfica do PIB mundial, relativas ao ano de 2008, estão disponíveis aqui).

A tabela acima mostra a participação das 10 maiores economias nacionais no PIB mundial. A fonte dos dados é o Programa de Comparações Internacionais (ICP), coordenado pelo Banco Mundial.

Os 10 países listados respondem por 64% do PIB e 56% da população mundial.

A economia americana sozinha concentra 22,5% do PIB global, apresentando uma renda per capita quase cinco vezes maior do que a média mundial.

O grupo de grandes economias desenvolvidas formado por Japão, Alemanha, Reino Unido, França e Itália tem renda per capita no intervalo entre dois terços e três quartos da renda americana.

O Brasil é, no sentido mais estrito da expressão, um país de renda média. Respondendo por 3% tanto do PIB como da população mundial, possui uma renda per capita praticamente igual à média dos 146 países pesquisados pelo ICP e equivalente a 21% da renda americana.

China e Índia, apesar de concentrarem juntas 14% do PIB mundial, são países ainda bastante pobres, com rendas per capita correspondentes a 10% e 5%, respectivamente, da renda dos Estados Unidos.